Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Retrospectiva 2021: transporte coletivo em situação caótica

Um levantamento feito pelo Sindicato das SETUT -- indica que houve uma queda sistemática na quantidade de demanda do sistema nos últimos 10 anos, e esse número se agrava quando se refere ao passageiro efetivamente pagante do sistema

28/12/2021 10:16

O ano iniciou com más notícias para o transporte público. Com o prejuízo causado pelo início da pandemia da Covid-19, a quantidade de viagens realizadas por passageiros chegou a cair 80% nas primeiras semanas da crise e foi se recuperando lentamente, mas sem alcançar os níveis anteriores.

Um levantamento feito pelo Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (SETUT) indica que houve uma queda sistemática na quantidade de demanda do sistema nos últimos 10 anos, e esse número se agrava quando se refere ao passageiro efetivamente pagante do sistema. Antes da crise sanitária, o segmento contava com aproximadamente 1.600 profissionais divididos entre motoristas, cobradores, fiscais e manutenção. No início do ano, este número não chega nem a 500.


"Tem sido um ano muito difícil, um ano que começou com uma pontinha de esperança para o sistema no que se refere a retomada das atividades econômicas, a retomada dos passageiros dentro do sistema de ônibus, mas foi um ano que durante o decorrer mostrou uma série de impecilhos para que as operadoras possam trabalhar e o passageira possa resgatar essa confiança que ele tem no sistema" , afirma Vinícius Rufino, coordenador Técnico do SETUT.


Foto: Assis Fernandes/ODIA

"Dessa forma, o sistema de transporte coletiva continua numa situação muito deficitária, que necessita do aporte contratual do poder público, e as operadoras têm trabalhado no sentido de fazer a operação que é possível fazer, mas ainda na expectativa de que o ano de 2022 possa ser mais positivo nesse sentido da tentativa de trazer esse equilíbrio econômico do sistema de volta", completou o coordenador Técnico do SETUT.

Em fevereiro foi deflagrada uma greve geral dos motoristas e cobradores de ônibus de Teresina. A categoria realizou uma série de paralisações em várias zonas da cidade reivindicando melhorias salariais e nas condições de trabalho.

Uma das promessas de campanha do atual prefeito, Dr. Pessoa (MDB), era resolver a situação do transporte público, mais especificamente, dos ônibus. No balanço de 100 dias de sua gestão à frente da capital piauiense, ele mudou o discurso e disse que não tem como resolver da noite para o dia um problema crônico. “São 34 anos comandados por um segmento político. De um dia para o outro não pode ter mudança numa coisa crônica. Eu costumo fazer uma analogia com a medicina: quando a coisa é logo, de imediato, não tem complicação nem ramificação, não tem metástase. É fácil extirpar a doença. Uma coisa que é crônica, é mais difícil”, disse Dr. Pessoa.

Durante meses, a frota de ônibus na capital seguiu reduzida e em alguns bairros, faltavam inclusive carros rodando.

Em agosto, a Câmara Municipal de Teresina aprovou o relatório final da CPI do Transporte Público da capital. Junto com outros vereadores, o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, vereador Dudu (PT), entregou o documento ao prefeito Dr. Pessoa e ao vice-prefeito Robert Rios, no Palácio da Cidade. O relatório propunha a rescisão imediata do contrato entre a Prefeitura e o Setut, além da abertura de um novo processo de licitação.

No dia 10 de outubro, o prefeito de Teresina, Dr. Pessoa, publicou decreto de calamidade pública na prestação dos serviços de transporte coletivo urbano público da capital. O decreto tinga prazo de 180 dias para reestabelecer a regularidade na prestação dos serviços. Eis que o SETUT rebateu, afirmando que a intenção do prefeito Dr. Pessoa (MDB) de decretar estado de calamidade no sistema de transporte público da capital e contratar uma empresa baiana para gerir o setor e dar um fim à crise. O Setut subiu o tom e afirmou que a situação de caos foi ocasionada pela própria gestão pública municipal e que isso não é fundamento jurídico para um decreto de calamidade.

A Prefeitura de Teresina, por meio da Strans, fez um novo requerimento pedindo a renovação das medidas de urgência para o período de greve, ampliação do valor das multas e investigação para que sejam apuradas eventuais responsabilidades criminais. É que o processo movido pelo poder público junto à Vara dos Feitos da Fazenda Pública em fevereiro determinou que 30% da frota circulasse nos horários de pico, medida que, segundo a PMT, vem sendo descumprida.

Além de assegurar a manutenção da frota em circulação, a Strans já requereu que os valores das multas que variam de R$ 50 mil a R$ 500 mil sejam ampliados.

No dia 17 de outubro, após o acordo firmado entre a Prefeitura Municipal de Teresina e o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (Setut), 200 ônibus começaram a circular pelas ruas da capital. Enquanto isso, os empresários aguardavam o pagamento da dívida de R$ 21 milhões, parcelados inicialmente em três vezes, para que o transporte público retornasse de forma integral.

E no final de outubro, motoristas e cobradores de ônibus iniciaram mais uma greve por tempo indeterminado, com o SETUT afirmando que cumpre suas obrigações celebradas em acordo com a categoria e a Prefeitura de Teresina e que não havia motivos para a paralisação.

No dia 10 de novembro eles suspenderam a greve após decisões tomadas pelo Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários (Sintetro). Na época, o presidente do sindicato, Ajuri Dias, afirmou que o retorno aos trabalhos ocorreu devido à garantia de que a convenção coletiva ocorrerá em janeiro de 2022, segundo tem dito o Sidicato dos Transportes (Setut).

Ajuri Dias. Foto: Arquivo/ODIA

Esta era a maior luta dos trabalhadores junto ao patronal durante todas as negociações. Entre as reivindicações, além da convenção, reivindicavam o piso, atrasos de salários e a regulamentação da carga horária. O Sintetro considera que não foi contemplado em suas reivindicações.

Transportes por aplicativo

Com o constante aumento no valor do combustível, fica cada vez mais difícil trabalhar como motorista em Teresina. Isso porque, ao pagar sete reais em um litro de gasolina, o trabalhador compromete cerca de 40% daquilo que arrecada no mês. Além disso, os passageiros também sofrem com os valores exorbitantes das corridas via aplicativo.


"O transporte por aplicativo chegou em 2016 e agora em 2020 já pagávamos o dobro pelo combustível; o nosso gasto com combustível dobrou sem levar em conta outros gastos. Agora em 2021 houve esse aumento ainda maior da gasolina. Muitos motoristas saíram da atividade porque não estavam vendo lucratividade, e em 2021 houve um pequeno percentual de aumento com relação ao quilômetro pago para o motorista, mas foi tão pequeno com relação ao aumento da gasolina que praticamente não adiantou de nada", explicou João Francisco Martins, primeiro secretário da Associação dos Motoristas Autônomos para Transportes Privados Individuais (Amatepi).


Foto: Arquivo/ODIA

"Somos uma categoria que precisa de um olhar público. Ainda para piorar temos o problema da insegurança no Piauí, que como no Brasil não é diferente. Isso faz com que motoristas abandonem o trabalho e isso tem dificultado muito nossa vida", explicou João Francisco Martins, lembrando que vários motoristas também foram vítimas da Covid-19 esse ano, então deixaram de trabalhar por alguns dias ou até mesmo faleceram.

Foto: Assis Fernandes/ODIA

Outra reclamação é sobre o valor das viagens. "Uma boa parte dos passageiros acha o valor das viagens muito baratas. É um desafio muito grande viver dessa atividade, e temos muitos porque infelizmente esse ano foi complicado com relação a outros empregos. O município não gera empregos, e tudo isso são fatores limitantes que nos obrigam a trabalhar nessa área"

E a insatisfação é geral. Também se percebeu em 2021 uma insatisfação com o serviço de transporte por aplicativos, e os teresinenses voltaram a utilizar táxi e mototáxi. De acordo com o Sindicato da categoria, nos últimos meses, o número de chamadas pelo serviço aumentou cerca de 30%. De acordo com o presidente do Sindicato dos Taxista, Pedro Ferreira, a classe está satisfeita com a alta no número de corridas e se prepara para o aquecimento da atividade novamente. Com o aumento dos combustíveis, os motoristas por aplicativo têm selecionado as corridas com percursos menores, com o objetivo de reduzir a perca do lucro final.

Em março, houve um protesto no Terminal de Petróleo, na zona Sudeste de Teresina, que terminou em confronto entre a Tropa de Choque da Polícia Militar e os manifestantes. De acordo com motoristas de aplicativo que participaram do ato, ainda durante a noite, a PM dispersou o movimento com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha após os manifestantes se negarem a deixar o local. Cerca de 200 pessoas participaram do protesto, que protestava contra os constantes aumentos no preço da gasolina. 

Mais sobre: