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Pandemia faz criatividade aflorar para lidar com "vida em isolamento"

Famílias se reinventam na segurança do lar e contam como estão fazendo para se adequar ao período

04/04/2020 09:49

Em uma recente entrevista para um site nacional de notícias, o renomado médico Drauzio Varella disse algo que, em um primeiro momento, pode assustar: "Tínhamos visão benigna da epidemia, mas estamos numa situação de guerra. Esquece a vida normal, ela não vai existir por muito tempo. Não vai ser normal porque não poderá ser", intensificou. A constatação, apesar de forte, é uma leitura da vida atual. A vida mudou e, como desafio da adaptação aos novos cenários, muita gente está se reinventando na segurança do lar. Sejam crianças, adultos ou idosos, todos têm, de algum modo, criado opções para lidar com o cenário de isolamento.

Lidar com as crianças que agora passam os dias em casa, criando atividades para entretê-las e, ao mesmo tempo, apontando que, apesar do tempo livre, esse não é um período comum de férias, é um dos grandes desafios.

Agora, grande parte dos familiares começa a trabalhar no modelo home office e esse acaba sendo um momento oportuno para, além da diversão, estreitar laços entre pais e filhos. 

Heloísa, de sete meses, também está com a diversão garantida na quarentena. Foto: Arquivo Pessoal.

É o que aconteceu na família da advogada e empresária Amanda Madeira Reis. Mãe de dois filhos, Augusto de quatro anos e Heloísa de sete meses, ela e o marido tiveram de adaptar a rotina para que o período de isolamento ficasse o menos impactante possível.

A família da advogada e empresária Amanda Madeira Reis já se adaptou ao período. Foto: Arquivo Pessoal. 

"A mudança foi muito grande, pois tínhamos o hábito de passear, de visitar os avós, banhar de piscina. Essa parte tem sido bem difícil, porque as crianças precisam gastar energia, precisam do sol, precisam se movimentar. Mas a gente tem adaptado e estamos banhando de bacia na varanda, correndo, pulando e dançando na sala", destaca.

Para Amanda, uma das maiores lições deixadas pelo mudança que o período exige tem sido a de valorizar a família e o trabalho doméstico. "Fortalecemos nossa fé e estou tentando ensinar ao Augusto sobre paciência, resiliência e solidariedade", conta.

E para conseguir entreter os filhos, Amanda usa a criatividade como trunfo. Como tem um empreendimento também voltado à área do lúdico com crianças, o Espaço Adoleta, agora, ela usa o que trabalha no empreendimento também em casa. "O brincar aqui sempre fez parte da rotina. A quarentena tem dado oportunidade de ampliar esse brincar, do pai estar mais presente e pro Augusto desenvolver muito a criatividade e o brincar sozinho (estamos em home office e com aulas remotas)", explica.

Saúde emocional

De acordo com a psicóloga Hanna Sousa, é importante que as pessoas se entendam também como agentes de cuidado da própria saúde emocional. E lembra que, neste contexto, hábitos simples podem surtir efeito. "Quando estamos diante de algo novo (positivo ou negativo), a ansiedade e o medo aparecem, então buscamos nos ajustar nessa realidade para que ela seja mais segura e confortável possível. Estar longe de quem amamos é dolorido. Por isso, fazer uma nova rotina dentro de casa, com brincadeiras, exercícios ou até mesmo se propor a aprender coisas novas, ajuda a passar por esses dias mais difíceis", diz.

Compartilhamento de experiências

As brincadeiras e jogos que Amanda faz com os filhos são criados através de itens simples que se encontram em casa. Quando trabalhados com criatividade, eles viram excelentes atrativos. Rolos de papel higiênico, palitos, fitas e brinquedos readaptados aparecem como reforço neste período.

Augusto brincando com objetos fáceis de serem encontrados em casa. Foto: Arquivo Pessoal. 

Para inspirar e trocar informações com outras mães, Amanda mostra tudo no instagram que criou, o @brincadeirasaugustoeheloisa. "O perfil no Ig surgiu quando ainda era só o Augusto. Era um perfil fechado para oito amigas, minhas irmãs e primas que são mães, porque a ideia era só ajudá-las a fazer brincadeiras com os filhos. Mas foi crescendo e deixei livre o acesso", explica.

Ela destaca que sempre teve retorno de outras famílias agradecendo por compartilhar e ensinar brincadeiras legais e fáceis de serem feitas. "Nesse período de confinamento, tenho recebido muito direct pedindo explicações sobre as brincadeiras. Me faz muito bem. Eu me sinto feliz em saber que, de alguma forma, eu ajudo pais a se conectarem com seus filhos", destaca.

Exercícios são adaptados para realidade das residências

Para quem sempre priorizou uma vida ativa, o isolamento impôs a adaptação de treinos e exercícios no espaço restrito do lar. É o caso de Ruth Bezerra, de 54 anos, que sempre praticou atividade física e se viu empenhada em estabelecer, dentro de casa, uma rotina que permitisse seu corpo continuar absorvendo os benefícios do movimento.

Ruth decidiu não parar de se exercitar mesmo trabalhando em home office. Foto: Arquivo Pessoal.

"Nessa quarentena, eu trabalho em home office cumprindo meu horário de trabalho como se estivesse na própria repartição; fiz questão de estabelecer essa rotina. Faço de conta que estou lá, tenho horário para começar e encerrar o expediente e, após cumprida esta primeira etapa, saio do escritório da minha casa, assisto TV e etc. Mas às 18h ou às 19h, vou fazer minhas atividades físicas", assegura Ruth.

Toda readequação acontece com a ajuda da internet, por lives e vídeos de exercícios disponíveis em plataformas como Instagram e Youtube, mas também dos treinos personalizados que o educador físico que a acompanhava antes envia por WhatsApp.

"Fico tão suada e dolorida como se estivesse na própria academia. O início deu uma certa preguiça, ambiente diferente, espaço pequeno, mas já entrou na minha rotina. Faço lives dos treinadores porque são mais dinâmicas, divertidas e há uma interação entre eles e a gente ao vivo", destaca.

Para quem sempre teve as trilhas e corridas de rua como aliadas, Ruth conseguiu de forma efetiva fazer as adaptações. Mas da casa, apenas ela aderiu a proposta de fazer exercícios no lar. O marido é aposentado e preferiu ficar no campo e o filho exerce atividade essencial; quando chega, prefere assistir filmes.

"Essa quarentena nos mostra que o fato de não estar correndo na rua, você pode estar fazendo trabalho de fortalecimento muscular em casa. Quando tudo isso passar, sua musculatura estará preparada para voltar às atividades de corrida, sem risco de lesão. Pelo menos é isso que todos os treinadores que assisto nos falam", destaca.

Entre as demais recomendações está a de perceber que o importante da atividade física é a regularidade, não a intensidade. Por isso, é importante partir para movimentos mais simples e entender que o momento é especial, que daqui um tempo as coisas vão voltar ao normal e cada um vai retomar suas rotinas de exercício.

Arte e fé contam para equilíbrio mental

É fato que informações sobre o novo coronavírus podem ser de forte impacto. O número de doentes e falecimentos cresce em muitos países e podem gerar sensação de desespero ou ansiedade. Por isso, o melhor a se fazer nessa situação é entender as melhores maneiras de ter acesso às notícias e de que forma equilibrá-las.

Foi o que fez Antinéia Diniz, de 70 anos, que diz ter se perdido entre tanta informação no início da quarentena. "Eu ficava envolvida com o noticiário e com o tanto de ensinamento do que fazer e o que não fazer, eu estava me perdendo. Então pensei: vou voltar ao que eu já vinha fazendo antes", explica. Ela passou a acordar sempre às 5 horas da manhã para fazer suas orações e agradecimentos que eram constantes na sua vida.

Mas com a ajuda dos netos, uma nova fronteira na utilização da internet se abriu. "Eu aprendi, além do whats, a usar o youtube porque meus netos me ensinaram. Então lá eu posso escutar música e ver as missas", afirma.

Já a servidora pública Marléia Santos destaca que é com a arte que consegue resignificar a experiência do isolamento. "Eu descobri na arte da cartonagem uma forma de contornar algumas questões ligadas à ansiedade. A verdade é que o que fazemos com nossas mãos vai diretamente no nosso cérebro. A arte tem esse poder de trazer para nós a sensação de liberdade, de paz, de tranquilidade, as questões ligadas à arte nos predispõem a ter pensamentos positivos e atitudes positivas: vamos fazer arte!", constata.

Por isso, música positiva, boas leituras, intercâmbios virtuais, chamadas de vídeo e ligações com pessoas queridas também entram no leque de boas atitudes que tornarão este período menos impactante.

Por: Glenda Uchôa
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