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Mãe: um amor capaz de atravessar vidas

Não importa quando ou como, o amor materno transcende o tempo e o espaço. Do primeiro olhar ao último adeus, a ligação entre mãe e filho é infinita

09/05/2021 08:09

Maternar é sentir na pele – e no peito – um vínculo inquebrantável com um ser que leva em si um pedaço seu pelo mundo. É não conseguir controlar o tempo e ver a pressa dos dias em cada experiência ao lado do filho. É também, e acima de tudo, rejeitar a estreita racionalidade em detrimento de um amor sem medidas. Por tudo isso, ser mãe é ser vida, é ser a força motriz pela qual se perpetua a própria existência da raça humana.

A figura da mãe é nossa primeira referência para aquilo que somos e um dia seremos e é pelos olhos dela que encaramos pela primeira vez o que é ser no mundo. Pois, seja através dos ensinamentos cotidianos, das abdicações e até mesmo das incertezas do educar, é que se constrói um laço impossível de desatar entre esses dois seres que não dividem entre si o mesmo corpo, mas o afeto gestado através de todas as vivências.

Foi pensando nisso que o O Dia traçou um mapa do que é ser mãe a partir do olhar dos filhos, através das experiências compartilhadas por eles, seja na infância, vida adulta ou até mesmo após a partida prematura daquela que leva consigo o universo dos nossos sentimentos.

O presente que a vida me deu logo que eu nasci

É a voz da mãe que o bebê reconhece ao sair do útero e é o seu rosto que os pequenos olhos procuram ao ver a luz pela primeira vez. Por muito tempo, é o corpo materno que nutre e dá vida ao bebê, e nela sentimos segurança e acalento para passar pelas primeiras provações ao nos depararmos com o mundo. Essa ligação infinita se inicia nos primeiros minutos de vida e dura até o último suspiro.

Não é segredo que o papel da mãe se transforma com o crescimento do filho. Na primeira infância é a mãe quem facilita a interação deste com o mundo, construindo as bases para que a criança consiga amadurecer de forma saudável e sensível. As brincadeiras, por exemplo, têm a importante função de fortalecer a relação entre mãe e filho e podem ser um momento de aprendizado e criação de fortes vínculos. Com nove anos, a pequena Ana Beatriz Rocha já consegue perceber a importância dos momentos lúdicos ao lado da mãe, Gleuca Rocha, de 34 anos.

Ana Beatriz e Gleuca Rocha. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Segundo ela, uma das memórias mais marcantes ao lado da mãe aconteceu durante uma brincadeira, ao cozinharem juntas um bolo. Sobre a relação entre mãe e filha, a menina é direta ao responder que é “amorosa, engraçada e sincera”, apontando para a cumplicidade que existe entre as duas. “Minha mãe é especial e única, porque ela cuida de mim e eu cuido dela. Ela me ensinou a ler e escrever, é muito brincalhona, especial, amorosa, companheira e muito legal. Nós nos divertimos demais”, destaca Ana Beatriz.

Assim como a Ana Beatriz, as irmãs Luna Rodrigues, 13 anos, Lívia Rodrigues, nove anos, e Lara Rodrigues, seis anos, compartilham entre si boas memórias ao lado da mãe, Larissa Alvarenga. Para elas, os momentos de descontração também são os mais marcantes, como uma viagem em família para a praia.

Luna, Lívia, Lara e a mãe Larissa Alvarenga. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal 

“Nossa relação é bem legal. A gente grava Tik Tok juntas, dança, brinca. Temos várias histórias marcantes, como o dia em que fomos pra praia comer ostra e quando ela nos ensinou a dançar uma música do É o Tchan. Ela é especial por vários motivos e é, sim, a melhor mãe do mundo, é a nossa melhor amiga e está com a gente independente de qualquer coisa”, conta a filha Luna.

Mesmo tão jovem, Maria Cecília Gomes, 8 anos, reconhece os esforços da mãe Tainá Gomes, 25 anos, para conseguir o sustento para a família. A menina conta que, com a pandemia, a mãe, que é profissional de saúde, precisou aumentar a carga horária de trabalho, o que fez com que ela se ausentasse por maiores períodos. 

Maria Cecília e a mãe Tainá Gomes. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal 

“Ela teve que trabalhar muito mais e ficou menos em casa passando o tempo comigo. A minha mãe é única e especial, ela cuida de mim, batalha muito para me sustentar. Ela é uma mulher incrível”, diz.

Pelo que eu me tornei só tenho a te agradecer

Com o passar dos anos, não são apenas os filhos que amadurecem, como também a própria conexão entre os dois. Uma das provas disso é a amizade entre a jornalista Jéssica Sales, 32 anos, e a mãe, Maria do Desterro Sales, 50 anos. Segundo ela, além da relação de mãe e filha, as duas são muito unidas e nutrem uma forte amizade. Para ela, a maior base da relação é a verdade. “Se eu viajo, ela fica preocupada com quem eu vou, a hora que eu chego. Caso aconteça algum problema, ela sempre percebe pelo tom da minha voz se está tudo bem ou não. Minha mãe é minha vida. Somos amigas e partilhamos tudo. Não vejo meu mundo sem ela”.

Jéssica e a mãe Maria do Desterro Sales. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal 

É também na vida adulta que os filhos passam a seguir a própria vida, em uma nova casa e a construir uma nova família. No entanto, Jéssica Sales acredita que essa realidade ainda está longe de acontecer e, caso aconteça, a única saída possível é morar perto da mãe. “Até hoje não sinto necessidade de morar longe dela e se um dia acontecer, quero morar na mesma rua. As pessoas sempre dizem que precisamos "cortar o cordão umbilical", mas penso o contrário. Minha mãe é meu porto seguro. Pra quem quero voltar todos os dias”, assegura.

Mas, e quando esse amadurecimento do afeto materno se dá em meio a uma pandemia? O natural é que, com o crescimento dos filhos, a mãe, antes cuidadora, passe também a ser cuidada. Em uma pandemia, essa relação de cuidado mútuo se potencializou e, pela saúde das mães, muitos filhos abdicaram da presença física em momentos importantes, como o tradicional domingo de Dias das Mães, para, no futuro, fabricar novas lembranças juntos.

Raionne Furtado, 30 anos, é um dos filhos que adotou o distanciamento físico como meio de proteger a mãe, Maria Onilda Furtado, 58 anos. Ele conta que, desde o início da pandemia, a mãe teve que mudar de casa e ir morar em uma fazenda para evitar contato com outras pessoas e, consequentemente, o contágio pelo novo coronavírus. Apesar disso, o engenheiro eletricista relata que a relação de companheirismo, carinho e, acima de tudo, respeito, entre os dois prevaleceu.

Raionne e a mãe Maria Onilda Furtado. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

“Há quem diga que mãe é mãe, que mãe é tudo igual. Mas isso é história, porque tenho certeza que a minha mãe é a melhor mãe do mundo. Uma pessoa incrível e o que torna ela especial é o fato dela ter criado três filhos divinamente bem, uma mulher que tirou forças inimagináveis para enfrentar os percalços da vida, que sempre esteve ao lado dos filhos, aconselhando, puxando a orelha, deu sermão quando necessário. Uma mulher que o prazer da vida é estar com a família, que tira de si para não deixar nenhum filho desamparado”, afirma Raionne Furtado.

Entre as memórias que o engenheiro eletricista leva da mãe, a mais importante diz sobre as privações que dona Maria Onilda teve de passar para estar presente na vida dos filhos. “Nunca sairá da lembrança a época de criança na escola, que ela ia me buscar a noite, cansada após um dia inteiro de trabalho, e me recebia na saída com um saquinho de batata frita pra me entregar e a gente voltava juntos de ônibus pra casa”, lembra.

Outro filho que viu a relação com a mãe amadurecer com o tempo é o professor Bruno Barbosa, 33 anos. Segundo ele, mesmo com as visitas menos frequentes por causa da pandemia e da rotina atribulada por conta do trabalho, a mãe Elizabeth Siqueira, 64 anos, continua sendo seu porto seguro e sua maior confidente.

Bruno e a mãe Elizabeth Siqueira. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

“Devido ao meu trabalho, a frequência com que a vejo é bem menor do que o que eu queria. No entanto, procuro estar lá uma vez por semana. Outra coisa que influenciou bastante nessa frequência com que nos vemos foi a pandemia. A intensidade e a frequência das visitas deram uma diminuída por conta do isolamento. Por isso, a saudade sempre é uma coisa presente nessa relação”, aponta.

Ele conta que, há 11 anos, a família perdeu tudo em um incêndio. Todos os pertences da família, incluindo roupas, móveis e até mesmo os álbuns de fotografias que serviam como lembrança de momentos marcantes, foram consumidos pelo fogo. Com a perda repentina de tudo que possuíam, os pais e os três filhos precisaram reconstruir a vida e retomar tudo do zero, o que serviu também para estreitar ainda mais os laços com a mãe.

“Nessa época ela morava em outro estado por conta do trabalho e precisou voltar definitivamente. O processo de reconstrução da nossa vida se deu a partir do momento em que ela voltou para ficar”, rememora.

Qual seria a graça da vida sem você aqui?

A perda de uma mãe é, antes de tudo, algo doloroso e transformador na vida de qualquer filho. É perder a principal bússola que te guiou, desde os primeiros dias, pela vida. Não à toa, para o dicionário, a palavra órfão quer dizer desamparado. Com a partida, as memórias passam, então, a ser a morada dos afetos e da saudade daquela a quem mais amamos.

Para Bruna Sousa, a partida precoce de dona Juraci Sousa a faz ter saudade até mesmo das brigas, pois, cada momento ao lado da mãe foi precioso. “Eu sigo bem, mas não é a mesma coisa. Perder uma mãe é tirar um apoio da sua vida, e não digo financeiramente, mas sim emocional. É muito difícil seguir sem aquele carinho e brigas do dia a dia que só uma mãe proporciona. Passei um tempo pensando em algum momento marcante, mas acabei concluindo que todos os momentos que tive foram marcantes à sua maneira”, afirma.

Bruna, o irmão e a mãe Juraci Sousa. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Dona Jora, como era conhecida, é lembrada pela filha como uma mulher forte, engraçada e guerreira. Sempre levando a vida com um sorriso no rosto. “Um de meus momentos favoritos com ela, é quando saíamos juntas e as pessoas ficavam chocadas quando eu a chamava de mãe, por aparentar ser mais nova e devido a semelhança entre nós duas. Era sempre uma graça quando isso acontecia”, destaca.

Mãe solo, dona Jora teve, além de Bruna, outro filho, hoje com 15 anos, e até a partida da mãe, os três moravam juntos na casa dos tios. A mãe faleceu em março do ano passado, após complicações causadas por um câncer de ovário. A partida abalou a família, mas inspirou Bruna a ser uma filha melhor para que a mãe pudesse continuar a sentir orgulho.

“Nossa relação sempre foi boa. Apesar de ser mãe solo, dona Jora sempre cuidou muito bem do meu irmão e eu. Sempre cuidou da nossa saúde e estudos. Esse vai ser o segundo dia das mães sem ela. No primeiro foi bem difícil, qualquer coisa me fazia lembrar dela e chorar. Mas esse ano eu quero relembrar meus momentos com ela e chorar de alegria por ter tido uma mãe tão maravilhosa como a minha foi”, conclui.

Denise Moraes, 31 anos, também perdeu a mãe, dona Catarina Maria, 53 anos, em abril do ano passado, em um domingo de Páscoa. No dia anterior ao falecimento da mãe, a filha lembra que dona Catarina estava dançando após o café da manhã e sentiu uma dor de cabeça diferente. “Ela se queixou que estava doendo muito e imediatamente foi levada pro hospital. O período sem ela tem sido o mais difícil da minha vida, pois ela partiu precocemente e não estava doente, então a aceitação é mais difícil”, declara.

Denise e a mãe Catarina Maria. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A saudade da mãe passou a ser um exercício diário para aprender a conviver com a ausência física. Um ano após a partida da mãe, Denise lembra com dor dos momentos desafiadores que passou, tendo a mãe como seu porto seguro. “Temos muitas histórias marcantes, uma delas foi a perda da minha avó, mãe dela, e um mês depois ela perdeu o marido, que era meu pai. Naquele dia, ela disse que eu seria o apoio dela e ela seria o meu e me abraçou forte”.

Apesar do luto, a filha lembra com carinho da relação de cumplicidade, diálogo e parceria entre as duas e afirma que este Dia das Mães será mais uma data marcada pela saudade. “Será mais um domingo triste, pois a partida dela foi em um domingo, e mais forte ainda por ser domingo das mães”, finaliza.

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