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Homens rompem preconceito e se destacam no universo da dança

O palco é deles: O Dia traz histórias daqueles profissionais que externam seus sentimentos por meio dos movimentos e da expressão corporal.

21/09/2019 08:21

Dançar é se expressar. É usar o corpo para mostrar sua identidade, um momento, uma emoção. O senso comum costuma relacionar a dança necessariamente ao sexo feminino ou à homossexualidade; aspectos que fazem muitos homens se afastarem ou sequer tentarem praticar a dança e, assim, se privam de externar seus sentimentos.


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Nas danças clássica e moderna, por exemplo, esse preconceito é ainda mais presente, porém, com o surgimento das danças contemporâneas, essa discriminação tem diminuído e os caminhos estão se abrindo aos poucos para os homens. Um caminho bem árduo, cheio de desafios, mas com muitas conquistas e sonhos realizados.

Marcus Vinícius de Sousa tem 24 anos e é natural de Picos, região Centro-Sul do Piauí. A dança entrou em sua vida quando ele tinha apenas 13 anos, através de grupos que integrava em seu bairro. Ele conta que iniciou com aulas de dança na Casa da Cultura do município, onde fazia dança contemporânea e, posteriormente, ingressou no projeto social Adimó.


Foto: Tassia Araújo

“Um dos critérios para fazer parte do grupo Adimó era fazer balé clássico. Só que eu nunca tive muito interesse no clássico em si, mas por eu gostar muito de dançar, comecei a fazer. No início, eu mesmo tinha uma rejeição, pois achava que não havia necessidade de fazer balé, mas minha professora sempre foi muito clara e explicativa em relação a isso. Ela sempre me mostrou que o balé iria me ajudar muito e que eu iria melhorar de forma técnica e ter uma maior evolução. E isso me fez continuar”, relembra.

Hoje, além de bailarino, Marcus Vinícius cursa Educação Física, é professor de dança e coreógrafo de uma academia de balé. “Não foi pelo meu querer que o balé entrou na minha vida, mas depois que comecei a fazer, me encantei pela arte do balé clássico e hoje em dia eu me encanto cada vez mais”, fala.


“Não foi pelo meu querer que o balé entrou na minha vida, mas depois que comecei a fazer, me encantei pela arte" - Marcus Vinícius de Sousa


O balé clássico também está presente na vida de Rudson Plácido, de 25 anos. Professor de dança do Balé da Cidade, ele lembra que a dança entrou em sua vida aos 14 anos, quando ingressou em um projeto na escola que estudava. O jovem explica que o professor, na época Roberto Farias, que também é dançarino, ministrava além da Educação Física, aulas de dança. Isso fez despertar em Rudson o gosto pela modalidade.

“O professor Roberto Freitas colocou a dança dentro das aulas de Educação Física e viu resultado, então criou o Cordão Grupo de Dança, que existe até hoje. E começamos a participar, onde eu até hoje permaneço. O grupo era voltado para a dança, seja o balé clássico ou a dança contemporânea”, explica.

“As pessoas ficavam falando, fazendo brincadeiras pesadas e sem graça”

Rudson Plácido conta que, na época do Cordão Grupo de Dança, poucos meninos compareciam para audição. De 30 alunos que se inscreviam, somente quatro eram do sexo masculino. O motivo da pouca presença de homens tinha uma explicação: muitos deles sofriam preconceito por quererem dançar.

“Na época da escola, só podia participar quem era aluno e sempre tinha um pouco de represália, e era complicado, já que as pessoas chacoteavam e faziam piada. No início, quando se fazia uma audição, só apareciam 10 meninos, mas com o passar dos dias, ia diminuindo, porque as pessoas ficavam falando, fazendo brincadeiras pesadas e sem graça, então eles saiam. Hoje em dia, no Balé da Cidade, onde sou professor, sempre aparecem homens querendo fazer dança, mas em número menor que o de mulheres”, destaca.


Rudson fala que muitos meninos deixam de dançar por preconceito - Foto: Tassia Araújo

Marcus Vinícius de Sousa também lembra que o preconceito contra homens que dançam é bastante comum. Ele conta que, no começo da carreira, muitos colegas faziam piadas por ele dançar, alegando que somente mulher fazia balé. Apesar das constantes provocações, o bailarino nunca desistiu dos seus sonhos.

“No começo, eu sofri um pouco de preconceito. Meus colegas me zoavam muito, dizendo que balé era coisa de mulher, que homem não dançava, mas eu consegui mostrar para eles que não tem nada a ver uma coisa com a outra. O balé é uma arte e é uma dança como qualquer outra, como o break ou a dança de salão, que também são dançadas por homens”, pontua.

Por: Isabela Lopes, do Jornal O Dia
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