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Costureira de 90 anos cria família com sete filhos biológicos e 20 adotivos

Dona Maria da Conceição Lopes da Silva se orgulha da vida que construiu

08/03/2020 16:24

Ao abrir a porta, dona Maria da Conceição Lopes da Silva, a Duquesa, estende os braços em forma de C para saudar as visitas com um abraço. De sorriso no rosto e olhar afável, em poucos minutos, ela entrega o segredo de, aos 90 anos, poder admirar a vida que pôde construir ao lado da imensa família que formou: sempre sobrou amor para quem quer que chegue à sua porta. Mas um amor também dedicado a outras fronteiras de vida. A do trabalho, por exemplo, a tornou uma das costureiras mais requisitadas de Teresina a partir da década de 50. Hoje, os anos de experiência lhe dão propriedade suficiente para falar da receita de, como mulher, levar uma boa vida. “É apostar no trabalho [..], no amor, atenção e compreensão”, afirma.

A nonagenária é matriarca de uma família de sete filhos biológicos, um já falecido; 20 adotivos, 31 netos, 27 bisnetos e nove tataranetos. “Eu lembro que tinha vez que a gente dormia até em cadeira preguiçosa, porque não tinha lugar. Era rede pra cima, pra baixo e era assim: maravilhoso! Mas a coisa que eu achei mais maravilhosa realmente foi ver que meus filhos legítimos nunca se incomodaram com os adotivos”, pontua.

Para criar tantos filhos, o trabalho sempre foi um pilar da família. Não só dela, aliás. O marido, com quem dividiu meio século de vida, “50 anos e seis meses de casamento”, como reforça convicta, foi um exímio servidor público do departamento de Direito da Universidade Federal do Piauí.

A matriarca guarda com amor e carinho as recordações de todas as gerações da família(Foto: Jailson Soares/O Dia)

Mesmo após seu falecimento, o patriarca da família não deixou lembranças apenas para os entes queridos, mas em Teresina. Hoje, ‘Newton Lopes da Silva’ é nome de uma rua na cidade, homenageado pelo projeto “Se Essa Rua Fosse Minha”.

Duquesa fala orgulhosa do marido, mas também tem a convicção que sua atitude de não se resignar apenas a cuidar da casa e dos filhos fez dela um pilar fundamental na vida da família Lopes da Silva. “Minha irmã que me ajudava a cuidar dos meninos, porque tinha vezes que não dava tempo nem levantar da máquina para amamentar. Também fui boleira e fiz bolos enormes de casamento e aniversário”, destaca.

Porte de realeza, espírito trabalhador

Na metade do século passado, o exímio trabalho de costureira fez Maria da Conceição Lopes da Silva conseguir destaque para fidelizar uma clientela da alta classe social de Teresina e até criar vestidos para modelos em concurso de beleza, como o Miss Piauí. Sem nunca ter frequentado uma escola de costura e, de forma autodidata, ter aprendido a costurar desde a infância, ela é pontual sobre a habilidade: “Era bom porque eu fazia bem feito. Nunca achei ninguém pra reclamar de uma costura minha”, destaca.

O apelido ‘Duquesa’, que na verdade era usado como sobrenome em seu registro de solteira ‘Maria da Conceição Duquesa’, talvez tenha se confundido tanto no decorrer da vida, que mesmo aos 90 anos de idade, o porte de classe e cuidado a fazem adquirir traços reais.

A matriarca guarda com amor e carinho as recordações de todas as gerações da família(Foto: Jailson Soares/O Dia)

Para os muitos filhos, certamente, a mãe é uma rainha. Regina Maria, de 66 anos, é uma das que compartilha da impressão. “Ela sempre foi um exemplo para nós e nem ela e nem meu pai deixaram faltar nada. Tivemos uma infância feliz e com a casa sempre cheia”, ressalta.

Regina e Duquesa fizeram, juntas, o curso superior de artes plásticas. A troca de saberes entre mãe e filha aproximou ainda mais a relação. Todos os convites de formaturas dos filhos, netos e bisnetos que a Duquesa guardou com tanto carinho, hoje se tornaram um grande álbum personalizado pelo trabalho da filha artista plástica.

Brindando a vida

Recentemente, a matriarca ganhou uma festa de aniversário feita pelos familiares. Cerca de 300 pessoas – a grande parcela de familiares – celebraram os 90 anos de Duquesa. O momento especial ficou marcado em sua vida, mas, ainda assim, para quem sabe desfrutar da vida, ele não basta. “Agora quero viver mais pra ter uma festa ainda maior”. Sem dúvida, para uma família e um coração que sempre cabem mais um, a festa centenária será ainda maior

Familiares e amigos comemoraram a chegada dos 90 anos( Foto: Arquivo Pessoal) 

Por: Glenda Uchôa
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