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Se aprovado, gasto com transporte pode chegar a 37% do salário mínimo

Cálculo feito por economista para O DIA considera uma família de quatro pessoas, com acesso ao sistema de integração.

04/01/2019 07:45

Quem depende do sistema de transporte coletivo em Teresina já deve estar fazendo as contas de quanto a mais irá gastar com o serviço, caso o aumento da passagem de ônibus seja sancionado pelo prefeito Firmino Filho. O reajuste proposto pelo Conselho Municipal de Transporte, que sugere a tarifa em R$ 4,02, pode representar um gasto de 37% do salário mínimo, considerando uma família de quatro pessoas (pais e dois filhos). A projeção foi feita pelo economista Fernando Galvão.

“Eu fiz os cálculos considerando uma família que ganha um salário mínimo, com pai, mãe e dois filhos. Considerando que o sistema de integração garanta duas viagens por dia. Neste contexto, o aumento compromete 37% da renda da pessoa. É um gasto muito alto com transporte, sendo que temos outras necessidades como alimentação, educação, lazer”, pontua o especialista.

Ele lembra que vários fatores pesam sobre a planilha que orienta o cálculo do reajuste, como o gasto com pessoal e diesel. Mas, para Galvão, as informações apresentadas não deixam claro a margem de lucro das empresas. O economista defende ainda que o sistema precisa não apenas ser economicamente viável, mas ambientalmente correto e socialmente justo.

“É preciso observar o impacto desse aumento para as pessoas. [A proposta apresentada pelo Conselho] não consegue atender à lógica do socialmente justo. A mobilidade urbana precisa ser vista. Se você olha muito para o economicamente viável e deixa de lado o socialmente justo, esse sistema tem um problema. Ele não é sustentável no longo prazo. É preciso analisar e ver que outras medidas podem ser tomadas para equilibrar essa balança”, enfatiza.

Nova tarifa

O Conselho Municipal de Transporte, que reúne empresários, sindicatos de taxistas e mototaxistas, representantes de usuários e estudantes, aprovou o reajuste de R$ 0,42 ao valor atual, de R$ 3,60. Se o prefeito Firmino Filho aprovar a tarifa proposta, a passagem de transporte público em Teresina passará a custar R$ 4,02. Caso o reajuste seja aprovado, Teresina terá a passagem de ônibus mais cara do Nordeste (considerando os valores atuais) e uma das mais caras do país.

Idade da frota de ônibus de THE é o dobro da média nacional

Atualmente, 443 ônibus compõem a frota de transporte público de Teresina. Segundo levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), a idade média das frotas de ônibus nas capitais brasileiras é de 5 anos e 4 meses, considerando dados de 2018. Em Teresina, a idade média dos veículos é o dobro da média nacional: 12 anos.

Ônibus circulam pela capital piauiense por cerca de 12 anos. Foto: Assis Fernandes/ODIA

Para a funcionária pública Isabel Pereira, a tarifa se torna cara por causa da má qualidade do serviço prestado. A isso se somam o longo tempo de espera na parada de ônibus e a insegurança. “Não é que a passagem seja cara, acontece que o transporte é péssimo. No final de semana, é uma tristeza você pegar um ônibus. É como se você só trabalhasse e não pudesse sair para ter lazer, porque, no final de semana, você passa mais de uma hora esperando o ônibus”, diz.

Isabel compara ainda a quantidade gasta em relação ao salário e observa que “a passagem já é cara e ainda tem que desembolsar quatro conduções, se torna muito caro pelo salário que a gente ganha”. Ela mora no Residencial Taquari, localizado no bairro Vale Quem Tem, na zona Leste de Teresina, e trabalha no bairro Poti Velho, zona Norte da Capital. “Se o ônibus não demorasse tanto, o percurso não seria tão longo”, completa.

A técnica de enfermagem Lisonete Lima Dias trabalha e estuda. Por isso, diariamente, ela precisa pegar várias conduções para chegar a esses locais. “Acho esse aumento muito injusto, porque a passagem está sendo uma das mais caras e o aumento do salário não chega a esse nível. Falta muita estrutura nos ônibus coletivos, não são todos que têm ar-condicionado e são velhos já, antigos”, afirma.

O transporte público é considerado pela população como o 4º principal problema urbano do país, de acordo com a Pesquisa “Mobilidade da População Urbana 2017”. Vale lembrar que o transporte público é um direito social, previsto na Constituição Federal.

Integração não atende zona rural


Jesus Costa critica aumento e cobra integração total do serviço. Foto: Assis Fernandes/ODIA

A integração do sistema de transporte coletivo não atende toda a população da Capital. Moradores da zona rural de Teresina não possuem o benefício e o aumento da tarifa acaba onerando ainda mais o orçamento dessas pessoas.

Este é o caso de Isabel e também da dona de casa Jesus Costa, moradoras do Povoado Alegria. Ela diz que o aumento não é justo, pois “os ônibus não compensam” e “quem conhece o tipo de sistema em outros estados sabe que, em outros locais, funciona bem melhor e aqui não”.

“A gente pega muito ônibus, o custo está muito alto. [Onde moro] é povoado, e dizem eles que lá não faz integração”, assinala.

Contraponto

Em contato com a reportagem, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) informou que está sendo elaborado um projeto para que haja a integração entre as zonas rural e urbana, mas o órgão precisa concluir a integração na zona urbana primeiro para, posteriormente, ampliar o alcance da integração.

Edição: Virgiane Passos
Por: Ananda Oliveira
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