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Problema da carne brasileira é controle sanitário, diz União Europeia

O ponto fraco que levou a UE a enviar uma carta ao Ministério da Agricultura, em meados do mês passado, exigindo maior rigor na fiscalização, é o deficiente sistema de controle sanitário

10/07/2017 08:34

O embaixador da União Europeia (UE) no Brasil, João Cravinho, afirmou, em entrevista ao GLOBO, que o problema da carne brasileira não está no produto em si, chamado por ele de “imbatível” no mercado internacional. O ponto fraco que levou a UE a enviar uma carta ao Ministério da Agricultura, em meados do mês passado, exigindo maior rigor na fiscalização, é o deficiente sistema de controle sanitário. Segundo ele, a Operação Carne Fraca da Polícia Federal, deflagrada em março e marcada pela concessão de certificados falsos para produtos adulterados a grandes frigoríficos, colocou um holofote sobre o problema.

"Não estamos olhando para o problema da carne, mas para o problema da fiscalização. A carne brasileira é fantástica e merece ter um sistema de controle sanitário do mais alto nível, porque, assim sendo, a carne é imbatível", comentou o embaixador.

Cravinho explicou que a preocupação da UE não é exatamente com o esquema de corrupção que foi identificado na operação da PF, mas com o sistema de fiscalização do setor público e que providências foram tomadas para resolver os problemas. Lembrou que uma auditoria realizada por técnicos europeus em maio último identificou falhas, que, segundo ele, nunca tiveram correção. 

A mensagem foi transmitida na carta encaminhada ao ministro Blairo Maggi pelo comissário de Saúde do bloco, Vytenis Andriukaitis, em que ele afirma que a capacidade de o Brasil monitorar desde o abate até a exportação não é adequada. "Neste momento, não temos qualquer impedimento da carne brasileira no mercado europeu. Ou melhor, impedimos a carne de cavalo, que era uma parcela pequena das exportações para a Europa, e a suína, que nunca foi autorizada. A bovina não foi afetada na inspeção. Em relação à carne de frango, havia não só deficiências no controle sanitário como irregularidades na fronteira. Portanto, colocou-se a exigência de um certificado de controle sanitário no momento da saída do produto no Brasil"

O Brasil exportou cerca de US$ 2,5 bilhões de dólares de carne, frango e derivados para a União Europeia em 2016.

O embaixador afirmou ainda que o acordo de livre comércio entre Mercosul e UE deve ser fechado até o fim deste ano. Ele enfatizou que as negociações, que transcorrem há 18 anos, finalmente começam a avançar.

"Nos últimos seis a oito meses, avançamos muito. Já estamos trabalhando com textos únicos em cada capítulo", afirmou, completando que o protecionismo é uma “receita para o desastre”.

O embaixador lembrou que a UE não está parada e deve assinar nesta semana um acordo com o Japão. Os europeus também estão em vias de concluir a confecção de tratados de livre comércio com Austrália, Nova Zelândia e Cingapura.

"Ao contrário do que se passa nos Estados Unidos, a nossa perspectiva é de consolidação e intensificação do nosso posicionamento comercial com outras partes do mundo" disse o embaixador.

De acordo com Cravinho, se de um lado, o Mercosul quer abrir o mercado europeu para itens do agronegócio; de outro, o bloco sul-americano precisa liberar setores como os de produtos industrializados, serviços e compras governamentais, além de fazer ajustes em sua legislação de propriedade intelectual.

" O povo brasileiro acaba sendo mal servido e por preços caros. Qualquer fornecedor, em qualquer parte do mundo, serve mal e a preços caros quando não há competição" afirmou Cravinho.

O acordo em negociação vai prever a liberação dos mercados dos dois blocos, com destaque para a queda das tarifas de importação. Mas haverá um cronograma, para que os setores mais sensíveis das economias possam se adequar à nova realidade.

Crise política

Sobre a crise política interna, o embaixador observou que 60% a 65% dos investimentos estrangeiros no Brasil são da UE, ou seja, praticamente dois terços do total. Segundo Cravinho, isso significa, em primeiro lugar, que o investidor europeu confia no país.

"A situação política que o Brasil vive neste momento é delicada e complicada. E é instável. Não há maneira de escamotear essa realidade. Agora, o empresário europeu que investe no Brasil não está olhando para o resto de 2017, ele olha para um prazo mais amplo, de cinco, dez anos. E, nesse sentido, não sentimos grande preocupação em relação ao atual momento da vida política do país" afirmou.

Cravinho afirmou, ainda, que a UE vê com bons olhos a candidatura do Brasil a membro pleno da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Lembrou que, recentemente, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, conversou com todos os embaixadores europeus sobre o assunto.

"Mas não compete a nós, aqui, tomarmos qualquer tipo de atitude em relação à candidatura. O Brasil, neste momento, é candidato a candidato" finalizou.

Fonte: Extra
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