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Estados Unidos oficializam tarifa sobre aço e não poupam Brasil

O Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA, não foi poupado e estará sujeito à sobretaxa - o que deve desequilibrar a indústria siderúrgica nacional, que emprega cerca de 100 mil pessoas.

08/03/2018 18:53

Numa medida de repercussões globais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta (8) o ato que estabelece tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados ao país, um dos maiores compradores mundiais desses insumos.

O Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA, não foi poupado e estará sujeito à sobretaxa - o que deve desequilibrar a indústria siderúrgica nacional, que emprega cerca de 100 mil pessoas.

Mas Trump deixou aberta a possibilidade de modificar ou remover as tarifas a determinados países, desde que não haja ameaça à segurança nacional dos EUA, usada como justificativa para a medida.

"Vamos ver quem nos trata com justiça e quem não", afirmou o presidente.

As sobretaxas passarão a valer em 15 dias. Por ora, apenas os vizinhos México e Canadá foram excluídos da medida, e assim permanecerão, a depender de como forem as renegociações do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte). Mas as conversas com outros países estão abertas.

"Teremos grande flexibilidade e cooperação com aqueles que são realmente nossos amigos, tanto em questões militares quanto no comércio", afirmou Trump.

A medida tem o potencial de gerar uma guerra comercial global: a União Europeia já ameaçou retaliar produtos americanos, como calças jeans Levi's, uísque do tipo Bourbon, cranberries e até pasta de amendoim.

Já o Brasil, que não exclui a possibilidade de levar a questão à OMC (Organização Mundial do Comércio), deve continuar a negociar com o governo americano.

"Tem espaço, sim [para negociar]", afirmou o embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral. "Temos contato com a bancada do aço no Congresso, com as indústrias americanas. Tem bastante coisa."

A medida preocupa a indústria brasileira. No ano passado, o país exportou US$ 2,6 bilhões (cerca de R$ 8,5 bilhões) em aço aos Estados Unidos, principal comprador do produto brasileiro.

"É uma alíquota extremamente alta e, com certeza, irá inviabilizar nossas exportações para lá" afirmou na semana passada o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, à reportagem. Os EUA respondem por um terço das exportações brasileiras de aço.

O ministério da Indústria e Comércio Exterior argumenta que o produto brasileiro não concorre com o americano, que compra produtos semiacabados de aço. Além disso, o Brasil também é o principal comprador de carvão dos EUA -uma indústria igualmente cara a Trump, que prometeu revitalizar o setor e gerar empregos para seus trabalhadores, que votaram em peso no republicano.

O carvão americano é especialmente usado na indústria siderúrgica do Brasil. Se sua produção for afetada pelas sobretaxas, as importações do produto, consequentemente, irão diminuir.

"Vai ser um tiro no pé", afirmou Mello Lopes à reportagem.

Justificativa

Trump assinou as tarifas com base numa lei do tempo da Guerra Fria, de 1962, que dá a ele a prerrogativa de estabelecer proteções comerciais com base na segurança nacional. Normalmente, a definição da política comercial cabe ao Congresso.

Um relatório do Departamento de Comércio americano, produzido a pedido da Casa Branca, concluiu que a importação de aço e alumínio reduziu a capacidade siderúrgica nacional e, por isso, ameaça a indústria de defesa dos EUA.

"O aço e o alumínio são a espinha dorsal da nação", declarou Trump nesta quinta.

Mas o mandatário deixou claro que sua preocupação também é com os déficits comerciais do país -uma espécie de obsessão do republicano, aos quais atribui a perda de empregos na indústria-, e reclamou que os EUA não têm sido tratados com justiça por outros países.

"Defesa e comércio andam lado a lado", disse o presidente.

Eleito com a promessa de colocar a "América em primeiro lugar", Trump tem intensificado as políticas protecionistas dos EUA. Uma de suas primeiras medidas foi retirar o país da Parceria Transpacífico, considerado o maior acordo comercial da história. Mais recentemente, ele impôs tarifas sobre máquinas de lavar e painéis solares da China, aumentou o número de investigações por dumping e está renegociando outros acordos comerciais, sempre sob o argumento de proteger o emprego dos americanos.

Consequências

Desde que Trump anunciou as tarifas, na semana passada, países de todo o mundo ameaçaram retaliar os EUA, e até mesmo políticos do Partido Republicano e indústrias americanas tentaram dobrar o presidente.

Os EUA não produzem aço e alumínio suficientes para dar conta da demanda interna. Os setores de construção, metalurgia, automotivo e petrolífero reclamaram efusivamente da medida, e devem ver os custos de produção aumentar.

Há a expectativa de que preços subam, outros setores econômicos sejam retaliados e haja a perda de quase 180 mil vagas de trabalho pelo país, segundo estudo da consultoria The Trade Partnership. Mas Trump não quis voltar atrás.

A imposição de tarifas enfrentava oposição dentro da própria Casa Branca. Nesta semana, o presidente perdeu um de seus principais assessores econômicos, Gary Cohn, ex-executivo do banco Goldman Sachs. Ele anunciou sua saída poucos dias depois da decisão sobre as taxas, às quais era contrário.

"Ele é um globalista, mas eu ainda gosto dele", brincou Trump nesta quinta.

Fonte: Folhapress
Por: Estelita Hass Carazzai
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