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Envelhecimento do Brasil já compromete o crescimento, mostra estudo

Desde 2018 o Brasil passou a ter um ônus demográfico, que vai se aprofundar nos próximos 30 anos

11/02/2020 12:06

Os fatores que permitiram que a renda per capita do Brasil crescesse acima da produtividade por hora trabalhada desde o início da década de 1980, entre eles o bônus demográfico que se esgotou a partir de 2018, deixarão de contribuir para a melhoria do padrão de vida do brasileiro nas próximas décadas.

A conclusão é parte de um estudo do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV, que traz um histórico de quase quatro décadas elaborado pelos pesquisadores Fernando Veloso, Silvia Matos e Paulo Peruchetti.

De 1981 a 2018, a renda per capita -indicador usualmente utilizado como medida do padrão de vida da população- cresceu 0,9% ao ano, enquanto a produtividade, medida pelo valor gerado por hora trabalhada, avançou 0,4%.

O que explica essa diferença é o bônus demográfico, de 0,5% ao ano no período.

Considera-se como bônus o crescimento da população em idade ativa (de 15 a 64 anos) em ritmo superior ao aumento da população total.

Desde 2018, no entanto, o Brasil passou a ter um ônus demográfico, que vai se aprofundar nos próximos 30 anos, em razão de fatores como a queda na taxa de natalidade.

Ou seja, por razões puramente demográficas, haverá proporcionalmente uma quantidade menor de pessoas com idade para trabalhar, o que deve afetar a população economicamente ativa.

"A única forma de aumentar a renda per capita e gerar crescimento sustentável no Brasil nas próximas décadas será por meio da elevação da produtividade do trabalhador", diz o estudo "Produtividade do trabalho: o motor do crescimento econômico de longo prazo". "Isso só será possível caso o Brasil persista no avanço da agenda de reformas."

Fernando Veloso, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV Ibre, afirma que as reformas tributária e do mercado de crédito, além da consolidação de mudanças na legislação trabalhista, devem ser prioridade.

"O padrão de vida da população brasileira conseguiu crescer acima da produtividade por causa de fatores que agora se esgotarão. A produtividade agora vai ser decisiva", afirma. "Não existe uma reforma única que vá resolver. A produtividade cresce pouco há décadas, inclusive em períodos de reformas, que foram claramente insuficientes. A gente precisa de uma agenda mais profunda e abrangente", diz Veloso ao comentar o trabalho.

Ele defende ainda uma nova agenda para a educação, que permita ao trabalhador se preparar para mudanças no mercado de trabalho e que proporcione a redução da informalidade e a geração de empregos de melhor qualidade.

A geração de empregos informais, segundo o pesquisador, é um dos fatores que explicam a queda da produtividade no período mais recente.

"São pessoas que trabalham em empresas com menos capital, menos acesso a crédito. Há também a questão dos aplicativos de transporte. A pessoa está em uma ocupação muitas vezes incompatível com a habilidade dela", diz o pesquisador. 

Fonte: Folhapress
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