Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Boeing fica com 80% da área de jatos comerciais da Embraer por US$ 3,8 bi

A Embraer informou que permanecerá uma companhia aberta, registrada na Categoria A, e ações listadas no segmento especial do Novo Mercado da B3

06/07/2018 08:41

A Boeing acertou a compra de 80% da divisão de jatos comerciais da Embraer por US$ 3,8 bilhões (R$ 14,8 bilhões). Um memorando de entendimentos foi assinado nesta quinta-feira (5), mas a conclusão do negócio está prevista para ocorrer apenas no segundo semestre de 2019. As companhias correm contra o tempo para fechar os detalhes finais do acordo e submeter à aprovação do governo brasileiro, que detém uma "golden share" (ação que dá poder de veto em decisões estratégicas) na Embraer, antes do fim do mandato do presidente Michel Temer.

O atual governo já expressou simpatia pelo negócio, mas essa percepção pode mudar dependendo de quem for o vencedor das eleições presidenciais de outubro. Depois disso, ainda será necessário obter o aval dos órgãos de defesa da concorrência em vários países do mundo. De acordo com o memorando de entendimentos assinado com a Boeing, os ativos da divisão de jatos comerciais da Embraer, que hoje representa mais de 60% do faturamento de cerca de US$ 6 bilhões da fabricante de aviões brasileira, serão transferidos para a nova empresa, cujo nome ainda não está definido.

A nova companhia terá sede no Brasil, mas será uma subsidiária integral da Boeing, que deterá o comando da gestão, indicando o presidente e toda a administração. A Embraer será um acionista minoritária, com 20% do capital e deve ter um assento no conselho. Ainda há alguns pontos em aberto no acordo. Não está definido, por exemplo, o destino dos US$ 3,8 bilhões a serem pagos pela gigante americana. A expectativa é que parte dos recursos seja reinvestido na empresa e parte seja embolsado pelos acionistas da Embraer, cujo capital é pulverizado.

Também não há previsão de transferência da área de montagem de jatos comerciais da Embraer, que hoje é feita na fábrica em São José dos Campos (SP). Mas ainda não está acertado se o acordo final trará alguma restrição para que a Boeing faça isso no futuro. Com a transferência da divisão comercial, a Embraer vai encolher bastante, permanecendo apenas com as áreas de jatos executivos e de defesa, que, respondem, respectivamente, por 25% e 13% da receita da companhia brasileira.

O memorando de entendimentos divulgado por Embraer e Boeing também menciona a criação de uma nova joint venture (associação) na área de defesa, um tema extremamente sensível para o governo brasileiro, mas não dá muitos detalhes.

Segundo Paulo Cesar de Souza e Silva, presidente e CEO da Embraer, as negociações estão em curso, mas o desenho mais provável é que os ativos relacionados ao avião cargueiro multimissão KC-390 sejam transferidos para uma nova empresa. Só que, neste caso, a Embraer deteria o controle e a gestão da companhia, enquanto a Boeing ficaria como acionista minoritária. As participações, no ainda não foram definidas.

Foto: Reprodução

O objetivo da gestão da Embraer com o negócio na área de defesa é que a Boeing ajude o KC-390 a conquistar clientes, já que esse mercado é difícil acesso. A fabricação do avião permaneceria em Gavião Peixoto (SP). A associação entre Embraer e Boeing é bastante polêmica e deve se tornar um dos temas das eleições presidenciais de outubro, já que o surgimento da fabricante de aviões brasileira foi totalmente financiado governo a partir da década de 1950.

Com o passar dos anos, no entanto, a Embraer entrou em crise e acabou privatizada em 1994. Desde então, tornou-se uma das companhia mais bem sucedidas do país e hoje é a quarta maior fabricante global de aviões, atrás de Boeing, da francesa Airbus e da canadense Bombardier.

Para Silva, da Embraer, o negócio com a Boeing é o melhor caminho para manter a competitividade da Embraer em um mercado cada vez mais disputado, principalmente depois de associação semelhante entre Airbus e Bombardier e da entrada de chineses e russos. "Precisamos ter a musculatura -capital , tecnologia e acesso a mercado- para enfrentar a concorrência dessas grandes empresas. A Embraer hoje está bem, mas a associação com a Boeing é muito importante para a sustentabilidade do negócio no longo prazo", disse o executivo à reportagem.

A Embraer informou que permanecerá uma companhia aberta, registrada na Categoria A, e ações listadas no segmento especial do Novo Mercado da B3. A União manterá seus direitos decorrentes da ação especial (golden share) de emissão da companhia.

A transação não deve ter impacto nas projeções financeiras em 2018. À CVM, a Embraer disse que "ainda não é possível determinar o efeito líquido da operação sobre a posição financeira e os resultados da companhia." Ambas não poderão dispor de suas ações de emissão da nova empresa por dez anos após o fechamento da operação (o chamado "período de lock-up").

Fonte: Folhapress
Mais sobre: