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Para professora, quem focou nas 'fake news' tangenciou tema da redação do Enem

Jurema Araújo diz que estudantes poderiam citar obras do sociólogo Zygmunt Bauman e o livro 1984, George Orwell.

04/11/2018 16:15

A professora de redação Jurema Araújo, que leciona em escolas particulares da capital, afirma que os estudantes que discorreram fundamentalmente sobre as chamadas "fake news" na redação do Exame Nacional do Ensino Médio podem ser penalizados por tangenciar o tema proposto, que este ano foi a “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”.

Ela acrescenta que as "fake news" podem ser abordadas como um desdobramento no texto, mas de forma alguma como a questão central a ser tratada no texto.

A professora Jurema Araújo comentou tema da redação do Enem 2018 (Fotos: Jailson Soares / O DIA)

"Seria interessante eles trazerem, por exemplo, a questão do vazamento de dados do Facebook, porque enriquece a argumentação. Uma das competências [cobradas na redação do Enem] exige que o candidato traga para o texto um repertório sócio-cultural, e quanto mais diversificado [o repertório] maior é a pontuação do candidato nessa competência. Então, uma boa opção é relacionar a discussão do tema a essa questão do vazamento de dados do Facebook. Eles poderiam citar também alguns livros, como '1984', do George Orwell, as obras do sociólogo [Zygmunt] Bauman, que discute a questão da modernidade, que hoje é liquida. A informação hoje é mais fluida, a gente tem um contingente de informações maior. Além disso, os estudantes poderiam citar séries, como Black Mirror, da Netflix, que aborda esse limiar da tecnologia. Hoje a gente já não tem uma vida em separado da tecnologia. Ela já está impregnada na gente, como sujeito social especialmente", afirma a professora.

Jurema afirma que a questão da privacidade, que está cada vez mais enfraquecida, também pode ser abordada. "Nesse ponto, o estudante pode atender a outra competência, que é a proposta de intervenção. O candidato pode apontar como o Estado e a sociedade podem intervir para proteger a privacidade. Se antes a gente já discutia a questão da privacidade, como é que a gente vai lidar com essa questão de agora em diante, com a presença cada vez maior da tecnologia em nossas vidas", afirma a professora, lembrando que há uma infinidade de aplicativos que têm acesso a informações extremamente particulares das pessoas, como o álbum de fotos e a localização geográfica (via GPS). 

Jurema considera que o tema da redação foi mais acessível para os estudantes que se informaram bem nos últimos anos, seja através de livros, filmes, documentários, revistas, jornais e da imprensa de um modo geral. 

Ela também citou exemplos de intervenções que poderiam ser citados na redação como alternativas para o problema levantado no tema.

"Para você desenvolver uma boa proposta de intervenção, ela tem que ter um agente - aquele que vai praticar a ação -, vai ter que abordar uma ação em si, e essa ação tem que ter um modo, um meio e uma finalidade. Uma ação individual poderia ser, por exemplo, ter cuidado com a navegação que nos direcione para certas buscas na internet. Às vezes, a gente busca um perfil de produtos e esses dados são coletados, criando-se um perfil da pessoa que está acessando a internet. Que alternativa nós temos para isso? Citar a navegação anônima seria uma proposta de intervenção relevante do ponto de vista individual. Já do ponto de vista social seria, por exemplo, propor uma discussão mais intensa sobre como a gente tem lidado com a internet, com a conectividade", enumera a professora.

Número de notas máximas deve cair, acredita professora

Jurema acredita que o número de redações com nota 1.000 deve cair nesta edição. No Enem 2017 um total de 53 estudantes conseguiram nota máxima na redação. "Acredito que, pela abrangência do tema, o desafio este ano é maior. Conseguir nota 1.000 vai ser um pouco mais difícil", afirma a professora.

Por: Cícero Portela
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