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Apreensão de armas pesadas no Rio tem queda sob intervenção federal

Números do Instituto de Segurança Pública mostram que a apreensão de fuzis, submetralhadoras e metralhadoras caiu nos três meses completos após o início da intervenção.

23/06/2018 08:51

Era a tarde de uma quinta-feira quando o Logan branco foi parado pela polícia na rodovia Presidente Dutra, principal ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro. No veículo, os agentes encontraram um arsenal de guerra: 19 fuzis, 41 pistolas, carregadores e grande quantidade de drogas que provavelmente seriam levados ao crime organizado carioca.

Essa descoberta bem-sucedida de armamento pesado, sem tiroteios nem mortes, que ocorreu em janeiro deste ano, é exceção no estado do Rio. E isso não mudou após a intervenção federal na segurança pública, decretada em fevereiro pelo presidente Michel Temer (MDB), que nomeou o general do Exército Walter Braga Netto para comandá-la.

Números do Instituto de Segurança Pública, ligado ao governo do Rio, mostram que a apreensão de fuzis, submetralhadoras e metralhadoras caiu nos três meses completos após o início da intervenção.

Foram 92 dessas armas retiradas de circulação de março a maio deste ano, ante 145 no mesmo período do ano passado –uma redução de 37%. Considerando todos os tipos de armas, também houve queda de 5% (de 2.343 para 2.229).

Mesmo considerando que 2017 foi um ano atípico, com mais apreensões do que a média, os números de 2018 se mantêm próximos aos de anos anteriores, indicando que a intervenção federal na segurança não teve impacto nessa atividade policial. 

A média de 2007 a 2016 era de 91,7 armas pesadas apreendidas no mesmo período.

Reduzir a quantidade de traficantes circulando armados pelas favelas é um dos objetivos a curto prazo da intervenção federal na segurança do Rio, segundo afirmou o interventor e general Walter Braga Netto em um evento na semana passada. "Temos que diminuir aquela ostensividade que estava existindo no Rio", afirmou ele na ocasião.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Os fuzis –que são de uso restrito das forças de segurança e chegam a custar R$ 50 mil no mercado clandestino– são considerados um dos pesadelos no estado.

Eles representavam 3,3% de todas as armas apreendidas no Rio em 2014, o que é bastante alto. Para se ter uma ideia, em São Paulo a taxa era de 0,8%, segundo o levantamento mais recente disponível, do Instituto Sou da Paz.

Para pesquisadores da área, a queda nas apreensões de armas pesadas é preocupante, ainda mais num contexto de recrudescimento da disputa entre facções e num momento em que se esperava mais investimentos na atividade. "Quando foi nomeado um general do Exército, achamos que isso seria resolvido, mas não vemos a retirada de armas sendo priorizada. E o plano estratégico da intervenção não tem nada previsto para melhorar isso", afirmou Bruno Langeani, coordenador do Instituto Sou da Paz.

Pelo Estatuto do Desarmamento, o Exército é responsável por fiscalizar a produção e venda de armas de fogo no país. "Operações são importantes, mas descobrir onde essas armas estão sendo desviadas e fechar o foco do desvio é muito mais efetivo", afirma Langeani.

Na avaliação da pesquisadora Silvia Ramos, da Universidade Cândido Mendes, não é o que tem sido feito. "Os fuzis estão sendo retirados das ruas ao custo de tiroteios e mortes, inclusive de policiais. Vale a pena?", questiona. "Contra as armas, precisamos de inteligência, e não de força cega", afirma.

Realizada inicialmente para cumprir 23 mandados de prisão, a ação terminou com sete mortos –incluindo um garoto de 14 anos que caminhava para a escola–, nenhum preso e quatro fuzis e outros itens apreendidos.

O menino foi atingido pelas costas, em meio ao tiroteio entre policiais e criminosos. A família chegou a acusar agentes policiais pelo disparo que atingiu o adolescente.

Para ambos os especialistas, a solução passa por um recurso que o Rio de Janeiro já possui: a Desarme, delegacia especializada criada em abril de 2017 para reprimir o comércio de armas e munições.

A unidade foi um dos fatores que fez disparar as apreensões no ano passado, usando inteligência e integração com a PF (Polícia Federal) e países fornecedores de armas, como os Estados Unidos.

"Isso mostra que investimento em segurança pública com foco, metas e planejamento tem efeitos rápidos. A pergunta é: que prioridade a intervenção está dando para a Desarme?", afirma a pesquisadora Silvia Ramos.

A reportagem questionou os órgãos responsáveis pela intervenção federal sobre os investimentos feitos na delegacia, sobre o que tem sido feito para apreender armas e sobre as críticas ao pouco uso da inteligência.

O Gabinete de Intervenção Federal e o Comando Militar do Leste, porém, não responderam até a conclusão desta edição nem indicaram um porta-voz para comentar a queda nas apreensões.

Fonte: Folhapress
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