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Exclusivo: Cicinho revela Zidane diferente, Simeone genial e aposta e torcida distintas para final da Champions

Ex-lateral do Real Madrid comenta a decisão do principal torneio de clubes da Europa e fala sobre os brasileiros envolvidos no confronto

28/05/2016 09:15

Pela segunda vez em três anos, Atlético de Madrid e Real Madrid vão disputar a final da Uefa Champions League. O Atleti, que já deixou Barcelona e Bayern de Munique pelo caminho, quer bater os Blancos e exorcizar de vez todos os seus fantasmas, conquistando o tão sonhado e esperado primeiro título na história da competição. Os Rojiblancos, afinal, disputam a decisão pela terceira vez. Na primeira, perderam em 1974 para o Bayern. Na segunda, em 2014, foi a vez dos Merengues acabarem com o sonho colchonero. Nas duas oportunidades, o troféu escapou nos minutos finais, quando a conquista parecia garantida. Desta vez, porém, os Bávaros já ficaram para trás, e resta apenas um adversário e rival para levantar a taça. O Real Madrid, por sua vez, quer conquistar a Champions League vencendo o dérbi na final mais uma vez e faturar seu 11º título do torneio no jogo deste sábado, às 15h45 (de Brasília), no estádio San Siro, em Milão.

Com tudo isso, a rivalidade entre os gigantes de Madri ficou mais acirrada do que nunca. Afinal, o Atlético de Madrid, nos últimos anos, conquistou La Liga, Copa del Rey e duas vezes a Europa League, entre outros títulos, além de chegar duas vezes na final da Liga dos Campeões. Isso era impensável poucos anos atrás. A diferença entre Real e Atleti era gigante, e o time colchonero era considerado apenas o saco de pancadas e o primo pobre dos Blancos. A rivalidade e o clássico na capital espanhola sempre existiram, mas pareciam adormecidos.

(Foto: Getty Images)

No entanto, tudo isso mudou nos últimos anos. Os Rojiblancos passaram até mesmo a golear o Real, vencer o rival em pleno Santiago Bernabéu e estabelecer sequências de invencibilidade. A mudança de cenário é gigante, ocorreu em pouco tempo, e surpreende milhões de pessoas ao redor do mundo, inclusive Cicinho.

Atualmente no Sivasspor, o ex-lateral-direito do Real Madrid afirmou estar surpreso com o novo cenário do dérbi madrilenho. Afinal, entre 2006 e 2007, quando defendeu os Blancos, a situação era muito diferente. Cicinho chegou ao Real no último suspiro da era dos Galácticos, e o Atleti, na época, era um tremendo freguês dos Merengues e apenas coadjuvante no futebol espanhol e europeu. Muito diferente do que tem acontecido nos últimos anos.

(Foto: Getty Images)

Em entrevista exclusiva à Goal Brasil, Cicinho comentou tudo isso. Falou sobre a final da Uefa Champions League, os dois rivais, sua época no Real Madrid, o duelo entre Marcelo e Filipe Luís, exaltou Simeone, fez revelações sobre Zinedine Zidane e mostrou uma aposta e torcida diferentes para o jogão deste sábado. Mesmo sendo ex-jogador dos Blancos e companheiro de Zizou, o lateral-direito afirmou que vai torcer pelo Atlético de Madrid. Confira:

O que você espera da final da Champions League? Existe um favorito mesmo se tratando de um clássico?

O favorito existe, é o Real Madrid, por ser um clube mais rico, que investiu mais, mas o Atlético de Madrid é um time do qual podemos esperar tudo. E existe uma grande diferença: esse Atlético de Madrid é muito mais forte do que aquele da final de dois anos atrás, quando perdeu justamente para o Real Madrid. Se fosse para torcer, eu torceria para o Atlético de Madrid, porque o Simeone merece essa coroação como campeão de Champions League. O trabalho que ele está fazendo com o Atlético de Madrid é incrível.

Por que você considera esse Atlético de Madrid mais forte que o de dois anos atrás?

Esse Atlético tem mais jogadores para desequilibrar do que naquela época, porque aquele Atlético de Madrid dependia muito do Diego Costa. Hoje não é assim. Hoje, o Atlético tem vários jogadores com qualidade, habilidosos e, por isso, acho que tem mais jogadores para desequilibrar e não depende apenas de uma jogada. Naquela época, o Atlético de Madrid jogava na base do chutão, fazia um gol e defendia. O Diego Costa trabalhava com quatro ou cinco zagueiros, fazia o gol, e o Atlético ganhava de 1 a 0. Desta vez não. Você pode ver que o Atlético de Madrid tem ganho seus jogos, mas não tem ganho de 1 a 0 ou 2 a 1. Tem ganho os jogos com sobra. Tem feito muitos gols e sofrido poucos, como já era normal.

A forte defesa do Atlético de Madrid, a qualidade do meio-campo do Real Madrid, o trio BBC, Cristiano Ronaldo, Griezmann, Koke... Muitos fatores podem fazer a diferença no clássico. Qual fará mais diferença, na sua opinião?

A obediência tática do Atlético de Madrid. O Atlético de Madrid é um time que não se desespera. É um time que sabe defender extremamente bem. Hoje não existe clube no mundo que se defende como o Atlético de Madrid. Até os atacantes voltam e marcam forte e o time todo dá o máximo em campo em todas as bolas. Acho que esse espírito de grupo do Atlético de Madrid é maior do que o do Real Madrid e de qualquer outra equipe no mundo, e vai fazer diferença sem sombra de dúvida.

Você jogou no Real Madrid numa época em que o Atlético de Madrid não estava tão forte quanto atualmente. Você exaltou o trabalho do Simeone, que é tido como principal responsável pela mudança recente na história do clube. Na sua opinião, o que ele fez para transformar tanto o Atleti?

O Simeone conseguiu provar aquilo que ele crê que é o mais importante no futebol: uma equipe jogando em grupo. O Simeone conseguiu implementar um time com ótimos defensores e que joga de forma defensiva, mas não abriu mão de meio-campistas e atacantes de qualidade. Isso está fazendo a diferença e vai fazer diferença nessa final. E não tem comparação esse Atlético de Madrid com o de quando eu jogava no Real Madrid.

(Foto: Getty Images)

Como o especialista que é na lateral-direita, qual dos dois é o melhor para você: Carvajal ou Juanfran?

O Carvajal é muito melhor que o Juanfran. Eu joguei com o Juanfran no Real Madrid. Nessa época, ele era atacante. Só depois que ele foi adaptado na lateral. A briga é boa, os dois são laterais de seleção espanhola, mas creio que o Carvajal é melhor. O Juanfran tem qualidade no ataque, mas o Carvajal está um pouco acima dele. Mas, na final, acho que o Carvajal vai ter mais trabalho que o Juanfran.

Por que você acha que o Carvajal vai ter mais trabalho que ele?

Eu tenho certeza. O Carvajal vai ter muito mais trabalho porque o Atlético de Madrid é muito forte pelo lado esquerdo do campo. O Filipe Luís é um lateral que defende muito, mas que também ataca muito bem e tem muita qualidade. O Real Madrid também tem o Marcelo, que ataca junto com o Cristiano Ronaldo, mas se você olhar os últimos jogos, o Juanfran tem sofrido menos na marcação, porque o Atlético de Madrid marca muito próximo e com todo o mundo.

(Foto: Getty Images)

O Neymar, por exemplo, mal tocou na bola quando o Barcelona enfrentou o Atlético nas quartas de final. E não era o Juanfran sozinho na marcação. Já tinha uma cobertura prévia, já tinha um volante do lado, então essa é a diferença do Atlético de Madrid. São jogadores de meio-campo que sabem das suas limitações e são obedientes taticamente. O Real Madrid, não, porque já é um time com jogadores como o Toni Kroos e o Modric, que são diferentes. O Casemiro tenta dar o auxílio na marcação, mas ele sozinho não pode segurar o meio-campo do Atlético de Madrid, enquanto o Atlético de Madrid, com os seus volantes, consegue segurar o meio-campo do Real Madrid.

Sobre o Juanfran, com quem você jogou junto... Como foi a convivência com ele? Vocês ainda se falam?

Não. O Juanfran sempre foi um jogador muito tranquilo, mas quando eu cheguei no Real Madrid, ele já estava saindo. Ele não era nem convocado para os jogos, porque era atacante, e tinham muitos jogadores para a posição, uma concorrência muito grande. Então eu não tive muito contato com ele. Mas pelo pouco que conversei, vi que ele é uma ótima pessoa, um cara do bem, que me acolheu muito bem no Real Madrid.

E na lateral-esquerda? Filipe Luís ou Marcelo? Quem leva a melhor no clássico e quem seria seu titular na Seleção?

O Marcelo, com certeza. Não tem nem comparação. Pra mim, o Marcelo é o melhor lateral-esquerdo do mundo, disparado. A qualidade dele é incomparável. Para mim, enquanto estiver jogando, o Marcelo vai ser o lateral da Seleção Brasileira.

Na sua época, o Atlético de Madrid era o saco de pancadas do Real Madrid. Hoje, além de brigar por títulos com o Real, o Atleti vence o Real no Santiago Bernabéu e já teve até sequências de invencibilidade no clássico. Nesta temporada mesmo, não perdeu um dérbi sequer. Tem algum clássico especial que você jogou? Você fica surpreso pela enorme mudança do Atlético de Madrid de dez anos pra cá?

Eu lembro de um clássico que vencemos com gols maravilhosos do Ronaldo e do Roberto Carlos, e o dérbi de Madri é muito especial, porque os torcedores são fanáticos e a pressão é enorme, você sempre quer ganhar... Imagino como estão os jogadores que vão jogar a final no sábado, porque um clássico normal você já quer ganhar, esse então, que é um dérbi na final da Champions... Eu ganhei os clássicos contra o Atlético, mas nunca um desse nível, de final de Champions. A época era diferente.

Sobre a surpresa, eu não fico assustado, mas surpreende um pouco. No entanto, não é coincidência. O Atlético de Madrid de hoje tem muito mais dinheiro que o de dez anos atrás, mais investimento, e também não troca de treinador. O Simeone já está lá faz cinco anos, e isso faz muita diferença. O Atlético vende jogadores, enche o cofre, mas contrata bem e continua forte. O Atlético está conseguindo montar equipes competitivas e o principal: deixa o Simeone trabalhar e fazer o belo trabalho que está fazendo. Por isso está dando resultado. O Atlético de Madrid de dez anos atrás não era tão forte quanto é hoje. Não tinha tanto ibope assim. Hoje, é muito diferente. Hoje, Atlético de Madrid e Real Madrid é muito mais clássico do que Real Madrid e Barcelona.

Falando do outro treinador da decisão, você chegou a jogar com o Zidane no Real Madrid. Como é ver seu antigo companheiro indo bem no primeiro trabalho na nova função? Não é fácil pegar um Real Madrid cheio de problemas e levar o time até a final da Champions League. Ninguém acreditava no time com o Benítez, mas o Zidane recuperou a equipe.

Cara, eu fiquei muito surpreso com o sucesso do Zidane. Como você disse, treinar o Real Madrid é muito difícil, é muita pressão, e pegar o time em crise igual ele pegou, é ainda mais complicado. Eu convivi com o Zidane e foi uma surpresa pra quem jogou com ele ver ele nessa nova função. Ele não tinha perfil de treinador pela pessoa que ele é. Ele é um cara muito tranquilo e que fala pouco, então não tinha perfil de treinador. Eu jamais imaginaria que o Zidane iria se tornar técnico. Além disso, também fiquei surpreso pela maneira como ele pensa o futebol.

Na época de jogador, o Zidane não gostava muito de jogadores como o Casemiro. O Casemiro é um excelente jogador, com uma qualidade estupenda, e para mim seria o titular da Seleção Brasileira, mas ele é primeiro volante. Na época de jogador, o Zidane não gostava de volantes como ele. Eu pensava que, se ele fosse treinador, faria igual o Guardiola: iria improvisar volantes na defesa e colocar meias como volantes. O Zidane gosta de futebol bonito, então me surpreendeu ele colocar um primeiro volante no time dele. E ele fez certo, porque o Casemiro deu equilíbrio e está jogando muita bola. É interessante porque mostra que ele mudou a mentalidade dele e a forma de ver o futebol. Eu fico muito feliz por ver um brasileiro jogando tão bem no meio-campo do Real Madrid e também pelo crescimento do Zidane como treinador.

Fonte: Esporte interativo
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