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50 anos de saudade: o último jogo de Garrincha pela Seleção Brasileira

Em 1966, o Anjo das Pernas tortas não era o craque de anos anteriores... mas seguiu dando esperanças para o nosso futebol

15/07/2016 08:00

Por Tauan Ambrosio 


Conforme explicado na sequência de especiais sobre Mané Garrincha, o ponta-direita viveu o seu ápice em 1962. Só que após as conquistas da Copa do Mundo e do Campeonato Carioca sobre o Flamengo, o camisa 7 nunca mais foi o mesmo.

Na realidade, foi depois de todos esses momentos espetaculares de alegria que teve início o seu inferno astral, que terminaria apenas no dia 20 de janeiro de 1983, com o seu falecimento. Garrincha sentia dores cada vez maiores no joelho, perseguição pública por causa do envolvimento com Elza Soares e um futebol que nem de longe lembrava aquele que o consagrou.

Nas partidas com o Botafogo, ficava isolado e tinha poucos lampejos de sua conhecida genialidade. A queda de rendimento irritou a torcida e fez com que adversários zombassem dele. Passou por uma séria operação no joelho, e as pessoas ao seu redor viam o alcoolismo aumentar consideravelmente. Só que isso não abalou a sua imagem perante os dirigentes da CBD (atual CBF).

Ponte aérea entre alvinegros

Em 1965, os cartolas da CBD tinham certeza que Pelé e Garrincha poderiam trazer o tri mundial na Copa do ano seguinte, na Inglaterra. Só que o camisa 7 passara a ser usado apenas em amistosos, praticamente. No Botafogo, um jovem ponta-direita aparecia com destaque incrível para suceder Garrincha: Jairzinho. No início de 1966 chegou ao fim a relação entre Mané e o Glorioso, e o maior craque da história de General Severiano foi vendido ao Corinthians por 220 milhões de cruzeiros (100 mil dólares).

O Corinthians começava aquela temporada com um jejum de 12 anos sem títulos, e precisava de um craque para acalmar os torcedores. Apesar do alcoolismo cada vez mais descontrolado, Garrincha conseguiu perder oito quilos para a sua estreia com o Timão. E a torcida compareceu em peso ao Pacaembu. Só que os 45 mil corintianos viram apenas um fantasma em campo, e os paulistas perderam por 3 a 0 para o Vasco da Gama.

Passagem apagada pelo Corinthians (Foto: Reprodução)

No final das contas, Garrincha conseguiria um título com o novo clube. Mas não por causa de seu futebol, e sim devido à desorganização daquele Torneio Rio-São Paulo: sem tempo para disputar os últimos jogos, devido à Copa do Mundo de 1966, foram declarados quatro campeões (Botafogo, Corinthians, Vasco e Santos).

Um rápido brilho, e uma despedida tragicamente inédita

Seleção Brasileira em 1966 (Foto: CBF)

Desorganização, aliás, foi o que não faltou à CBD na preparação para o Mundial de 1966. Foram convocados até mesmo 45 jogadores antes do corte final, mas só dois eram intocáveis: Pelé (com justiça) e Garrincha (pela história). Afinal de contas, eles nunca haviam perdido uma partida jogando juntos.

E continuou assim.

Antes do início do torneio, enquanto um jornalista inglês escrevia “laterais-esquerdos do mundo, uni-vos. Garrincha está de volta”, o cronista Peter Lorenzo, do The Sun, já havia visto o ponta em campo nos amistosos disputados na Europa e sentenciou a sua morte enquanto futebolista.

Não foi bem assim. Na verdade, não foi tanto assim. A moral de Garrincha ainda estava muito em alta na Europa, a ponto de o próprio descobrir que, na Inglaterra, comercializavam uma chuteira com o seu nome! A estreia foi com vitória sobre a Bulgária: 2 a 0, gols de Pelé e Garrincha. Invencíveis juntos, os maiores craques do Brasil estufaram as redes em lances de bola parada.

Com a camisa 16 na Copa do Mundo  de 1966, Garrincha ainda conseguiu fazer um gol em seu último jogo com Pelé (Foto: CBF)

Só que a campanha da Seleção em 1966 foi vexatória. E na partida seguinte o Brasil foi derrotado por 3 a 1 para a Hungria. Justamente em um dia 15 de julho, há exatos 50 anos. Garrincha já não era mais o mesmo, só que um dado mostra muito bem o quão efetivo ele foi para o Escrete Canarinho, além de ajudar a vender a imagem do futebol-arte: aquela foi a sua única derrota vestindo a camisa da Seleção.

Contra a Hungria, Garrincha sofreu a sua primeira e única derrota pela Seleção (Foto: Getty Images)

A memória é uma coisa bastante curiosa. Naquele mesmo mundial, muitos criticavam a presença de Garrincha – enquanto outros, fiéis ao craque como se este tivesse superpoderes, acreditavam que ele voltaria a fazer a diferença. O ponta-direita ainda vestiria, sem nenhum tipo de sucesso, as camisas de Portuguesa-RJ, Atlético Júnior (Colômbia), Flamengo e Olaria antes de pendurar as chuteiras profissionalmente. E a partir daquele momento começou uma saudade que dura até os dias de hoje, a saudade de ver os dribles mais espetaculares que o futebol já testemunhou.

Saudades do jogador que, dentre os maiores, foi o mais artístico e com espírito de amador. Um mito que foi passando de pai para filho, como acontecia nos tempos da Grécia antiga, em histórias de grandes heróis e deuses que, apesar de toda a divindade, tinham emoções e defeitos completamente humanos. Garrincha dá saudade até para os milhões que não viram o seu futebol ao vivo, porque Garrincha é a essência do futebol bonito. 

Fonte: Esporte interativo
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