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passado difÃcil
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destemido
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DifÃcil adaptação quase fez CR7 desistir
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comparações com o "fenômeno"
Ao voltar à cidade de Lisboa nesta quinta-feira para disputar a final da Liga dos Campeões entre Real Madrid e
Atlético de Madrid no próximo sábado, muitas imagens e pensamentos vão passar
pela cabeça de Cristiano Ronaldo. Foi na capital portuguesa, onde viveu durante sete anos, que o craque se lançou como futuro melhor jogador do mundo.
- Sempre temos saudades de onde crescemos e vivemos. Lisboa
foi uma cidade muito especial para mim. Depois de sair da Madeira (ilha onde o jogador nasceu) com 11 anos,
fiquei lá sete ou oito e tenho um carinho pela cidade. Espero que todos os
amigos que fiz possam estar no estádio no sábado ao meu lado, do Pepe e do
Coentrão, porque vamos precisar - disse o camisa 7 merengue.
Enquanto se prepara para a decisão, um filme estará passando na cabeça de CR7: os momentos de solidão que viveu na capital, as piadas que os garotos
faziam com o seu sotaque, a saudade que sentia da famÃlia, as dificuldades na escola e o
dia em que realizou o seu sonho ao deixar Lisboa para se tornar
jogador do Manchester United. O amigo e antigo companheiro de quarto, José Semedo,
recorda bem esse momento. Â
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- Foi incrÃvel,
nunca me esqueço o dia 6 de agosto de 2003. O Cristiano já estava jogando no
time profissional do Sporting. Eu, o Fábio e o Paixão, que tÃnhamos ficado
nos juvenis, ainda éramos o grupo de amigos dele. O jogo era à noite e ele
treinou com o time de manhã. Depois, veio ver o nosso treino. “Mano,
vou jogar contra o Manchester United. Nem consigo acreditarâ€, me disse no
fim do treino. Eu tentei acalmá-lo e brinquei com ele dizendo: “Olha, eles
ainda vão levar você para lá.â€Â
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A previsão de José Semedo estava certa. Mas o zagueiro, que
hoje representa o Sheffield Wednesday da Segunda Divisão inglesa, nunca pensou
que fosse ser tão rápido. E no dia seguinte nem quis acreditar quando encontrou
o amigo novamente.
- Vi o Cristiano
passar lá na academia e fui encontrá-lo para dar os parabéns pelo grande jogo que
tinha feito. E foi aà que ele me disse: “Mano, eu vou jogar no Manchester,
vou viajar para lá para assinar contrato†- recordou Semedo, emocionado à época
ao saber da novidade do amigo.
Uma semana depois, aos 18
anos, o jovem Cristiano Ronaldo estava em todas as emissoras de televisão portuguesas, sendo apresentando em Old
Trafford, enquanto Semedo e o resto do grupo de amigos assistiam ao evento ao vivo na
academia do Sporting.Â
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- Na carreira do
Cristiano tudo aconteceu muito rápido. Ele sempre jogou com os mais velhos.
Nunca conseguia completar uma temporada numa só categoria porque se a
gente com 14 anos estava jogando no Sub-15, ele já ia para os Sub-16, 17, até
chegar ao profissional aos 16 anos. Mas o salto foi proporcional à qualidade
e ao empenho dele - destacou o zagueiro.
passado difÃcil
Agosto de 2003 foi
o mês em que Cristiano Ronaldo se despediu de Lisboa e de Portugal, mas o
caminho de sacrifÃcio para alcançar esse sonho começou seis anos antes. No
mesmo mês de 1997, com apenas 11 anos, Ronaldo seguia de avião para longe de
Santo Antônio, bairro mais pobre da ilha do Funchal,
para tentar o sonho de ser o melhor do mundo.Â
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- Foi acompanhado
por dirigentes do Sporting e enquanto esteve ao nosso lado no aeroporto esteve
sempre calmo, mas, no avião, ele chorou durante toda a viagem - revelou a irmã Elma em
entrevista à revista portuguesa "Sábado".
Na Madeira, Cristiano e a famÃlia levavam uma vida pobre e de
pouca comida na mesa. Na escola o garoto era péssimo aluno e por isso a
mãe dona Dolores falava para ele agarrar a oportunidade do futebol, que era seu único
caminho a seguir. Com pouco dinheiro, dona Dolores e o pai Dinis - que
morreu em 2005 por complicações hepáticas por ser alcoólatra - não tinham como
sustentar os quatro filhos. O irmão mais velho de Cristiano, Hugo, acabou se
envolvendo com drogas. “Raramente comÃamos carne ou presuntoâ€, revelou a irmã
Katia num programa de televisão espanhol.Â
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- Quando havia frango, eu e meus irmãos fazÃamos uma
festa. ComÃamos só pão e sopa durante a semana porque minha mãe comprava o
pão e pagava no final do mês. De vez em quando eu e meus irmãos pedÃamos
algumas sobras na padaria e o meu pai passava no supermercado e trazia uns chocolates e biscoitos, mas era tudo fora de prazo - disse
a irmã de CR7.Â
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As dificuldades levaram Cristiano Ronaldo a investir tudo
em seu sonho de ser o melhor do mundo e poder ajudar a famÃlia. Desde que
chegou a Lisboa, sua vida passou a ser cuidada pelo próprio clube do Sporting
e pelo seu encarregado de educação, Leonel Pontes, que hoje é auxiliar de Paulo
Bento na seleção portuguesa. Pontes era o responsável por manter o contacto com
a famÃlia de Cristiano na Madeira.
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- Hoje, com a
informação que temos, seria impossÃvel um garoto com aquela qualidade estar
ainda lá na Madeira esquecido, mas naquele perÃodo era diferente. No primeiro
dia de testes do Cristiano aqui no Sporting eu não assisti ao treino dele, mas
os técnicos me disseram que era muito bom. No segundo dia, eu fui assistir
e o que me impressionou muito foi a sua capacidade de liderança, ele já falava
como queria com aqueles jovens miúdos que até eram mais velhos e que normalmente não
são tão bonzinhos com quem chega. Tinha qualidade técnica, caráter,
tinha de ficar com a gente e abrimos uma exceção para integrar um garoto de 11
anos numa estrutura que só recebia jogadores a partir dos 13, 14 anos, mas
longe de mim pensar que ia dar no que deu - comentou sorrindo o
descobridor de CR7, responsável pelo recrutamento do Sporting e amigo do
luso, Aurélio Pereira.
o destemido
O caráter de Cristiano Ronaldo e a personalidade forte
chamavam a atenção de todos no Sporting, inclusive dos amigos. Ele não
tinha medo de responder fosse a quem fosse. Logo no primeiro dia de aula no colégio em
Lisboa, depois de chegar atrasado, a professora lhe pediu para se apresentar
aos novos colegas.
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- Olá, eu sou o
Cristiano Ronaldo e venho da Madeira - disse com uma pronúncia madeirense
quase incompreensÃvel provocando uma gargalhada geral na sala. Ronaldo ficou
tão chateado que agarrou uma cadeira e avisou a professora que se não parassem de
rir ia atirar o móvel na cabeça de alguém. Este foi só o primeiro de
vários processos disciplinares que teve por comportamentos violentos ou faltas
injustificadas na escola de Telheiras.Â
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O amigo Semedo lembra que já teve de tirar Ronaldo de várias
brigas por causa das brincadeiras e piadas que os mais velhos do Sporting
faziam com o seu sotaque.
- Eles falavam: "Olha,
lá vem o madeirense". E faziam piadas porque no inÃcio ele realmente tinha um
sotaque muito diferente. O Cristiano ficava muito revoltado, queria bater
neles, falava palavrões, ele não deixava que ninguém o humilhasse de jeito
nenhum. Muitas vezes queria partir para cima e bater nos mais velhos. Já era um
cara indomável, mas depois a gente o separava, até porque os jogadores juniores
também compreendiam a situação e iam embora. Ele sofria com isso e chorava
muitas vezes no quarto sozinho - recordou.
DifÃcil adaptação quase fez CR7 desistir
Com o passar dos anos em Lisboa, o jovem madeirense foi se
adaptando à cidade e ao clube. Os pensamentos sobre abandonar o
sonho e voltar para a Madeira foram totalmente esquecidos.
- Acho que ele sofreu mais no primeiro ano, ano e meio. Mas
a mãe também lhe dava apoio. Dizia para ele ficar porque já já ela ia chegar.
Depois ele ficou mais acostumado à cidade. No inÃcio, era só ele e o Fábio,
depois cheguei eu, o Paixão, e fizemos o nosso grupo. Ãamos passear no Colombo
(maior shopping de Lisboa), jogar pingue-pongue, máquinas de corridas de carros, videogame, Ãamos ao cinema e jogávamos as nossas peladinhas. Era
essa a nossa vida e éramos felizes assim - contou Semedo.
Aurélio Pereira também se lembra do momento em que Cristiano
Ronaldo esteve perto de desistir de tudo para voltar à Madeira, mas diz que a
força mental do jovem craque fizeram toda a diferença.
- Todos os garotos
que estavam internos lá no alojamento passaram por essa fase. Eu me lembro
que ele foi um dos que sofreu menos com isso, porque já era muito forte. Às
vezes ficava indeciso, triste, queria voltar para perto da famÃlia e nós aqui
atuávamos de imediato para ajudar, porque ele veio só com 11 anos, era muito
novo. O nosso trabalho era esse mesmo, era ajudar esses garotos e a
diferença entre o Cristiano e os outros era a vontade que ele tinha de vencer e
de ser o melhor do mundo.Â
comparações com o "fenômeno"
Ser o melhor jogador do mundo era um sonho, quase obsessão
para CR7, que conseguiu levar o prêmio em 2014 pela segunda vez. Mas, já com 11
e 12 anos, o craque tinha a certeza de que iria alcançar o sonho. E nem os
melhores do mundo daquele perÃodo o intimidavam, como Luis Figo ou Ronaldo.
Semedo diz que o amigo Cristiano nunca falava de outros jogadores e não
idolatrava ninguém.
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- Enquanto eu, que era zagueiro, dizia que a minha referência
era o Desailly, ele, por exemplo, nunca teve uma referência. Ele falava pouco
desses caras. Dizia só que eram bons jogadores, mas não idolatrava ninguém.
Isso faz toda a diferença entre o Cristiano e os outros jovens jogadores que
sempre procuram referências e comparações. Ele sabia que podia ser melhor do
que eles - observa Semedo.
 Porém, foram algumas comparações com Ronaldo "Fenômeno" que
deram problemas a CR7 na escola de Telheiras, onde os jovens do Sporting
estudavam. Aos 14, 15 anos, Cristiano Ronaldo já ia conquistando alguma fama em
Portugal, os jornais esportivos dedicavam algum espaço ao jovem craque da base
do Sporting. E na escola, isso repercutia em fama para o madeirense -
naquele perÃodo já quase sem sotaque. Semedo conta que os garotos mais velhos
não gostaram de ter o seu território ameaçado.Â
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- Como ele se
chamava Ronaldo e até já aparecia nos jornais, a galera dizia que ele era o
"Fenômeno de Portugal" e as meninas iam todas atrás dele. Queriam ficar com
ele e os outros mais velhos não gostavam, aguardavam no portão da
escola e queriam bater nele. Eu me lembro que eu e o Fábio tÃnhamos de sair
muitas vezes com ele, porque senão ia apanhar. Mas aà o Cristiano já
estava bem ambientado, ele não queria confusão com ninguém, mas claro que já
era mulherengo - disse o zagueiro.
Adaptado a Lisboa e à sua nova condição de jovem craque
nacional, Cristiano gostava do assédio das meninas e, segundo os amigos, saÃa
com muitas. Precisou até trocar de escola por causa dos problemas com os mais
velhos. Nesse momento, Cristiano se separou também dos amigos incondicionais
Fabio e Semedo, porque além de ter mudado de escola, recebeu o seu
apartamento, quando em 2001 se tornou profissional do Sporting.Â
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Os três seguiram caminhos diferentes. Semedo e Fábio
continuaram no alojamento para a base, mas hoje o segundo
trabalha em um restaurante no Algarve, enquanto José Semedo disputa a segunda
divisão inglesa.Â
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A vida de Cristiano Ronaldo seguiu um rumo muito diferente,
mas eles ainda são amigos, tanto que Semedo recebeu dois convites do atacante merengue para assistir à final de Lisboa. O zagueiro, que nasceu em Setúbal, diz
que faz tudo o que puder para ver o amigo feliz e agradece a CR7
estar onde está atualmente. É que Semedo quase foi dispensado do Sporting por
falta de espaço no alojamento até que Cristiano e Fábio se ofereceram para
dividir o quarto com mais um e o zagueiro poder ficar.Â
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- É até difÃcil para
mim falar dele, é como um irmão mesmo. O que ele fez por mim não há palavras,
ele foi falar com a direção do Sporting e pediu para eu dormir com ele. A
gente brigava, mas se abraçava muito também. Ele me deu um espaço no quarto, me
deixou colocar as roupas no seu armário e graças a ele, eu pude ficar no
Sporting e jogar futebol. Foram anos bons. Eu era de um bairro muito
complicado de Setúbal e hoje estou aqui jogando futebol na Inglaterra há sete
anos, um paÃs que eu amo, mas podia ter seguido maus caminhos e muitas vezes
falo disso com ele.Â
José Semedo já
visitou Ronaldo em Madrid várias vezes e diz que o craque adora a capital
espanhola, mas que sua preocupação é sempre a mesma.
- Ele quer vencer
tÃtulos, troféus, só pensa nisso.Â
E numa dessas
viagens de Semedo a Madrid, os dois, que raramente falam de futebol, abordaram a
situação de Cristiano Ronaldo nesta temporada, mas o craque recusou elogios.
- Ele me disse recentemente que ainda não tinha feito nada,
que isto não era nada, que ia ganhar mais e que nunca ia ser esquecido no
futebol - revelou Semedo, que foi o primeiro a acreditar que Cristiano Ronaldo não
tem limites.