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CHOLISMO CONTRA TIKI-TAKA
Cholo Simeone e Pep Guardiola: um catalão e um argentino que não tinham muito em comum como jogadores e mantêm as diferenças como treinadores. Duas carreiras paralelas e passadas sempre em clubes rivais se confrontam nesta quarta-feira, no jogo de ida das semifinais da Liga dos Campeões, entre Atlético de Madrid e Bayern de Munique, no estádio Vicente Calderón, a partir de 15h45 (de BrasÃÂlia) - a TV Globo e o GloboEsporte.com transmitem ao vivo, com pré-jogo e Tempo Real no site a partir de 14h30.
Guardiola jogou por Barcelona e Roma, Simeone no Atlético de Madrid e Lazio. Nunca foram os craques dos times, mas jogaram recheados deles aos seus lados. Os dois compartilharam o vestiário com estrelas como Ronaldo Fenômeno e Roberto Baggio, grande amigo do Cholo e de Pep. Aliás, foi o ex-atacante italiano quem convenceu Guardiola a trocar o Barcelona pelo Brescia e a voltar ao clube depois de o catalão ser rejeitado por Fabio Capello no Roma. Aconteceu algo semelhante com o argentino e o ex-técnico do Lazio, Sven-Goran Eriksson, mas o volante acabou fazendo parte da história do clube romano. Da capital italiana, os dois conservam a paixão pela massa "àla carbonara".
Na pequena cidade de Brescia no norte de Itália, que Guardiola visita todos os anos, Baggio e Pep se tornaram amigos inseparáveis, a ponto de o catalão dizer mais do que uma vez que nunca tinha visto alguém com o talento do camisa 10 e tão dedicado ao jogo coletivo. Algo que tentou depois incutir nos craques dos times que treinou.
Mas, antes disso, Simeone e o grupo dos argentinos tinham também conquistado a amizade de Baggio no Internazionale. O vice-campeão do mundo em 1994 ficou tão ligado aos sul-americanos que se apaixonou pela cultura argentina e comprou várias residências no paÃÂs que visita regularmente.
A ligação com Baggio, no entanto, hoje é mais forte com Guardiola. O italiano está convidado para a final da Champions, em Milão, no dia 28 de maio. Mas, para estar presente na decisão, pela primeira vez como treinador do Bayern de Munique, antes de se mudar para o Manchester City no verão europeu, Guardiola precisa superar a raça dos comandados de Cholo Simeone. Para o Atlético de Madrid, seria a terceira final da história, mas os colchoneros e o seu técnico ainda buscam a primeira Orelhuda, como é chamada a taça do torneio.
- Vai ser sem dúvida um jogo muito equilibrado. Os dois já eram treinadores dentro do campo. O Pep é uma pessoa extremamente inteligente, vê o que os outros não conseguem ver. O Simeone tem uma paixão por este esporte muito forte. Vai ser um duelo entre paixão e inteligência, vou assistir com o Robbie (Baggio), que é amigo dos dois, mas estamos torcendo pelo Pep, que é muito próximo da gente - afirmou Vittorio Petrone, empresário inseparável de Baggio e que também foi responsável pela transferência de Guardiola do Barcelona para o futebol italiano no inÃÂcio dos anos 2000.
Apesar de ser próximos dos dois, Baggio não quis prestar declarações diretamente. O vice-campeão do mundo em 1994 partilha da visão de Guardiola de não dar entrevistas para nunca "beneficiar ou prejudicar qualquer meio de comunicação", embora ambos já tenham feito algumas exceções a essa regra.
Como jogador, Simeone era um meia de contenção, acusado de ser faltoso, mas que tinha habilidade para fazer muitos gols. No Lazio, celebrava com a mão nos calções para demonstrar de que "pasta" eram feitos os homens do time. O maior tÃÂtulo europeu que conquistou foi a Copa Uefa, ao lado de Ronaldo no Internazionale. No ano seguinte, acabou por trocar o clube de Milão pelo da capital, a pedido de Roberto Mancini, hoje técnico do Inter. Craque do time na época, o agora treinador pediu exclusivamente a contratação do Cholo, porque apreciava a sua garra. Mas foi contra a vontade do treinador Sven-Goran Eriksson, que preferia o português Paulo Sousa. Acabou por chegar mesmo o argentino, integrante do time campeão do "scudetto" de 2000.
- Diego sempre foi um treinador dentro de campo, tinha personalidade forte, era um lÃÂder, já tinha todas as prerrogativas para se transformar num técnico de sucesso. Mas não deixa de me surpreender vê-lo agora assim lutando desse jeito contra potências como o Barcelona e Real Madrid e até superá-las no Campeonato Espanhol. Acho que o futebol italiano foi importante para ele, porque o ajudou muito a construir um perfil tático como treinador, mas ele sempre foi um grandÃÂssimo lutador. Fico muito feliz com esse sucesso do Atlético de Madrid - afirmou Dino Zoff, que treinou Simeone no Lazio, depois de substituir Eriksson.
Guardiola ainda atuava no Barcelona, mas um ano depois foi "levado" por Baggio para jogar no modesto Brescia, ao lado do veterano italiano e dos futuros campeões do mundo Pirlo e Luca Toni. A rápida adaptação ao "calcio" graças àsua visão de jogo o levou para Roma, para tentar vencer o segundo "scudetto" consecutivo com Fabio Capello, mas o treinador italiano acabou rejeitando Guardiola, que atuou apenas em quatro partidas por considerar o seu futebol demasiadamente lento. O catalão voltou a Brescia e, poucos anos depois, com passagens por México e Catar, estava de volta àcena do futebol mundial como treinador do Barcelona, surpreendendo todos pelo seu estilo totalmente inovador. No Bayern de Munique, o técnico catalão conquistou tÃÂtulos nacionais, mas não a desejada Champions. Este ano, esteve a um passo da eliminação contra o Juventus, mas conseguiu virar o resultado e seguir em frente.
- Ele nos escreveu no final do jogo dizendo que o Juve era fortÃÂssimo, que foi muito muito difÃÂcil para ele superar o time de Allegri. Ele ficou realmente impressionado, mas acho que esse ano ele vai direto para a final. Ele tem um dom, é uma pessoa que vive de futebol todas as horas do dia, é inteligente, vencedor e quer muito vencer esta Champions com o Bayern - admitiu o amigo e antigo empresário Vittorio Petrone.
CHOLISMO CONTRA TIKI-TAKA
Se nenhum dos dois era um fenômeno como jogador, a história do Cholo e Pep como treinadores é bem diferente. Ambos se tornaram dois dos técnicos mais "desejados" por clubes de elite mundial, embora com dois estilos de jogo bem diferentes, que ficam bem claros pelas estatÃÂsticas de seus times na Liga dos Campeões.
O Bayern de Munique de Pep soma sete vitórias, dois empates, uma derrota e 28 gols marcados em 10 jogos da Champions. Os bávaros foram vazados em nove oportunidades e sete de seus jogadores balançaram a rede mais de uma vez na competição - Thomas Müller e Lewandowski somam oito cada.
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O Atlético de Madrid tem um cartão de visita menos ofensivo, pois os "soldados" de Cholo tem menos duas vitórias que o rival, com cinco. Foram três empates e duas derrotas em 10 partidas. E metade dos gols marcados do que o Bayern, somando 14. A vantagem dos colchoneros é a organização defensiva que permitiu apenas cinco bolas em suas redes. O time, no entanto, ainda é muito dependente dos mesmos atacantes para marcar: Griezmann é o artilheiro do Atlético na Champions com seis gols, Saúl ÑÃÂguez tem dois, enquanto os outros que marcaram não superaram um.
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A teoria do melhor ataque contra a melhor defesa vai ser colocada àprova de novo. Mais do que isso, será o "cholismo" contra o "tiki-taka" pela primeira-vez no mata-mata, já que os dois treinadores se encontraram apenas uma vez. Foi no confronto entre Atlético de Madrid e Barça em 2012, com vitória de Pep por 2 a 1, mas Simeone tinha acabado de chegar ao Vicente Calderón. O verdadeiro desafio começa nesta quarta.
Prováveis escalações:
Atlético Madrid: Oblak, Juanfran, Hernandez, Gimenez e Filipe LuÃÂs; Gabi, Koke, Carrasco, Saul Niguez, Griezmann e Torres.
Bayern de Munique: Neuer, Bernat, Alaba, Martinez, Lahm; Vidal, Thiago Alcântara e Thomas Müller; Douglas Costa, Lewandowski e Ribéry.