Argentino, artilheiro, canhoto e "abençoado" por
Xavi. Já sabe de quem estamos falando? Errou se apostou em Messi. Ele até é
comparado ao craque do Barcelona, mas ainda busca seu lugar no hall da fama do futebol
europeu. Trata-se de Paulo Dybala, do Juventus. Com apenas 22 anos, já é uma
realidade no clube italiano. Em sua primeira temporada, soma 18 gols e busca superar a marca do hermano Tevez, que no primeiro ano com a camisa da Velha Senhora marcou 24 gols. Neste domingo, ele volta a ser relacionado em jogo do Campeonato Italiano pelo técnico Massimiliano Allegri após se recuperar de lesão. E o adversário será justamente o Palermo, clube que foi buscar a joia na Argentina e apresentou para o mundo. Promessa da base,
perda do pai e subida meteórica para os profissionais. Conheça um pouco da
história desta promessa argentina.
Dybala deu os primeiros passos no futebol no Instituto de
Córdoba. Chegou ao clube com apenas dez anos, e era levado pelo seu pai para
treinar nas categorias inferiores. Sempre foi tratado como promessa.
Era habilidoso, um verdadeiro camisa 10. E com 15 anos já estava morando no
clube e sendo tratado de forma diferenciada. Foi também nesta época que perdeu
seu pai, um grande incentivador da carreira. Francisco Buteler, que foi técnico
do argentino na base, revela ao GloboEsporte.com como foi o primeiro contato
com a joia.
- O primeiro contato que tive com ele foi quando era técnico
do juvenil, ele era “enganche†(jogador que é referência nas equipes da
Argentina, o camisa 10). Um jogador que era importante na equipe, e que dentro
do clube já era considerado uma promessa. Mas nunca esperávamos este salto.
Nunca pensamos que ia transcender desta maneira seu jogo, sua capacidade. Teve
uma oportunidade no primeiro plantel com 17 anos, e isso foi uma virtude. E com
essa idade suportou bem a pressão, o mesmo aconteceu quando chegou ao Palermo e
Juventus. É um jogador que não sente a pressão, a responsabilidade da
importância de jogar em um time grande. Mas, sinceramente, repito que não
esperávamos que chegasse ao nÃÂvel que chegou de forma tão rápida - afirmou Buteler.
Apesar de ser tratado como promessa, a forma como Dybala
chegou ao time profissional do Instituto, aos 17 anos, é no mÃÂnimo curiosa. O
clube havia contratado o atacante Miguel Angel Fernández, procedente do San MartÃÂn de
Tucumán, mas ele não pôde começar a temporada porque estava suspenso pelo
acúmulo de cinco cartões amarelos. Foi então que o técnico DarÃÂo Franco olhou
para a base e buscou um jogador de ataque para resolver esse problema. Dybala
entrou e não saiu mais da equipe.
Sua estreia como profissional foi no dia 12 de agosto de
2011, quando o Instituto venceu por 2 a 0 o Huracán pela Segunda Divisão da Argentina. Logo
na partida seguinte, marcou seu primeiro gol no empate em 2 a 2 com o Aldosivi.
E terminou a temporada com 17 gols, na quarta posição da artilharia da Série B
nacional. Seu time bateu na trave para subir para a Série A, mas ficou em
terceiro e viu o Quilmes e o poderoso River Plate conseguirem o acesso. No entanto, foi
o suficiente para Dybala chamar a atenção do futebol europeu.
O faro de artilheiro, porém, foi muito trabalhado na base. Francisco Buteler explica que Dybala gostava mesmo era de jogar como uma camisa 10.
Mas ao perceber a facilidade que tinha para balançar as redes, o treinador
decidiu aproximar a joia do gol. E deu muito certo:
- O melhor conselho que dei foi para fazer o simples no seu
jogo, e ajudar a equipe. E o que me deixa mais orgulhoso foi ajudá-lo a ser
mais atacante. Paulo sempre foi “engancheâ€Â, às vezes jogava pela esquerda. Mas
quando vi sua capacidade para fazer gols, tive que convencê-lo a jogar desta
forma. E quando foi promovido para a equipe principal, o técnico passou a
utilizá-lo como atacante. Realmente foi um acerto, me sinto orgulhoso por
isso. Por isso sempre o aconselhei a jogar perto da área adversária.
Próximo de Dybala desde as categorias de base, Buteler
revela até hoje uma relação de amizade com o atacante do Juventus. Conta com
orgulho que o craque conversa com seu filho pequeno pelo Facebook, e que é tratado
como ÃÂdolo. E lembra de um dia difÃÂcil para o jogador, talvez o pior dia da
carreira dentro dos gramados:
- Há uma anedota com Dybala. Jogava contra o Independiente,
em Buenos Aires. E nosso técnico naquela altura o tirou da equipe com apenas 15
minutos do primeiro tempo. Paulo começou muito mal o jogo, e saiu de campo chorando
muito. Chegou ao vestiário chorando, ninguém sabia o motivo. Para o nÃÂvel que
tinha, estava muito afetado e desempenhava tudo muito mal naquele dia. Era a
promessa de clube. Depois de uma longa conversa com o técnico, foi possÃÂvel
saber o motivo. Fazia um ano da morte do seu pai, exatamente um ano. E estava
muito afetado. Ele depois pediu desculpas por não ter falado antes, porque não
estava em condições de jogar. Mas foi uma demonstração de humildade e classe da
pessoa que é. Não quis usar a morte do seu pai para ficar fora da partida, e
tentou jogar.
Quem também lembra dos tempos de Dybala no Instituto é Pablo
Alvarez, que foi coordenador das categorias de base do clube. Assim como
Buteler, ele confessou que jamais podia imaginar o atacante na atual forma.
Apesar de também sempre ter considerado suas qualidades:
- Sempre mostrou muita qualidade e técnica. Muita
responsabilidade. Sempre foi muito educado e humilde, e pensava em todos na
equipe. Mas nunca imaginei que pudesse jogar na seleção argentina. Até hoje é a
mesma pessoa de sempre, nunca mudou.
Mesmo muito jovem, Dybala superou o recorde de Mario Kempes
ao marcar em seis partidas consecutivas em jogos oficiais das principais
divisões da Argentina. Em 2012, o Palermo pagou € 11,9 milhões (R$ 47 milhões) ao
Instituto pelo jovem. O sucesso na Itália não demoro a chegar, e em 2015 foi
contratado pelo Juventus por € 32 milhões (R$ 127 milhões). Já teve seu nome
ligado a um possÃÂvel interesse do Barcelona. E ganhou a "bênção" de Xavi,
grande ÃÂdolo do clube, que destacou: "Ele tem o DNA do Barça".ÂÂ
Com apenas 22 anos, soma 18 gols pelo Juventus nesta
temporada. São 14 no Campeonato Italiano, dois na Copa da Itália, um na
Supercopa da Itália e um na Liga dos Campeões. E se depender do seu talento, é
bom o Palermo abrir o olho com seu velho conhecido, pois Dybala empurra a bola para a rede e agradece aos céus. Lembrando sempre do
seu pai, como já deixou claro em entrevista ao diário "La Mañana" de
Córdoba:
- Meu velho morreu quando eu tinha 15 anos e eu gostaria que
estivesse aqui para desfrutar o que estou vivendo. Mas sei que lá de cima
me ajuda. Se não fosse por ele, não estaria aqui. Sou muito agradecido a ele,
também com a minha mãe. Sempre me apoia muito.