"Tá tranquilo": Griezzman faz o famoso sinal do Ronaldinho para comemorar gol (Foto: Reuters)

Quando o jogo da sua vida está pela frente, o que todos esperam é que quem decida seja o artilheiro do time, o que mais partidas resolveu durante a temporada e mais gols marcou. Para o Atlético de Madrid, esse jogador é Antoine Griezmann. Um francês, que mais parece um sul-americano com o mate sempre na mão e que celebra gols dançando o “Tá tranquilo, tá favorável” recordando o Ronaldinho. Esse é Griezzi – como é tratado pelos companheiros - o garoto de Mâcon, uma cidade 70 quilômetros a norte de Lyon, que foi aos 14 anos para o Real Sociedad e já demonstrou que não teme partidas decisivas.

Na Champions, marcou os gols que deram a classificação contra o Barcelona, nas quartas de final, e em Munique, na semifinal (veja no vídeo abaixo). Entre os 22 que fez no Campeonato Espanhol, destaque para o gol da vitória do Atlético contra o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu, adversário que Griezmann vai encontrar no próximo sábado na final da Liga dos Campeões em Milão. O francês vai liderar o ataque dos colchoneros, ao lado do veterano Fernando Torres, e sobre ele recaem uma grande parte das esperanças que o Atlético de Madrid tem para levantar este troféu pela primeira vez na sua história. O GloboEsporte.com transmite ao vivo com pré-jogo a partir das 13h (de Brasília), e a TV Globo também transmite a decisão a partir das 15h45 (de Brasília).

- Há dois anos tivemos a lesão de Diego Costa, que era o nosso jogador mais importante e teve de abandonar o campo logo depois de o jogo começar. Foi uma grande perda para a gente. Este ano, só espero que nada aconteça ao Griezzi, porque precisamos dele o jogo inteiro e que ele esteja bem - disse o lateral-direito Juanfran em entrevista ao GloboEsporte.com em Madri.

Griezzi conquistou a condição de estrela do time. Recebe o carinho dos companheiros, é procurado pela mídia do mundo inteiro e cercado pelos torcedores na saída do CT de Majadahonda. É o cara que todos querem fotografar, trocar uma ideia ou dar um tchau. Esse status que poucos jogadores do Atlético têm é encarado com muita tranquilidade pelo francês, que brinca com os companheiros e jornalistas driblando a pressão.

Griezmann brincou e fez pergunta para Koke em coletiva na última semana (Foto: Gonzalo Arroyo Moreno / Stringer)

Os cabelos descoloridos de loiro que usava no Real Sociedad ficaram para trás, até porque não combinam com o estilo sóbrio e discreto do clube. Um ténis branco com símbolos cor-de-rosa e pretos é o mais exuberante que Griezmann leva para os treinos. De resto, uma camiseta e um short jeans com um relógio de luxo como a maioria dos companheiros. Um estilo mais discreto daquele que tinha há dois anos quando era o rei do País Basco. Agora está em Madri, a capital do futebol europeu, num dos clubes que mais tem ganho dentro e fora dos gramados nos últimos anos e o francês soube se adaptar ao ambiente, trabalhando duro nos treinos, como gosta Simeone, e colhendo os frutos com humildade. O fato de atuar ao lado do grande ídolo do clube, Fernando Torres, foi determinante nesta temporada, a melhor da sua carreira, que ainda não terminou e já leva um total de 32 gols e oito assistências.

- É um jogador com muito talento, está bem adaptado à dinâmica do clube, trabalha bem e acho que estar aqui com o Niño, que conhece bem este clube, a torcida, o Simeone, foi muito importante para o Griezmann - confirmou o amigo Juanfran.

Griezmann está acostumado a ter de trabalhar e suar duro pelos seus sonhos. O da sua vida era ser jogador de futebol, mas na França, ele estava ameaçado, porque nenhum clube queria levar o garoto franzino para a base, porque não se adaptava ao estilo mais físico do futebol gaulês. O garoto foi levado pelo pai a vários testes e só escutava nãos. Só achou lugar no país vizinho, a Espanha, graças à insistência de um olheiro que apreciou as qualidades técnicas do menino e achou que lá o francês poderia melhorar o seu físico mais livremente. 

Francês, espanhol, ou sul-americano? Griezmann não dispensa um mate com uruguaios e argentinos (Foto: Twitter)

Assim foi. Griezmann se transferia para o País Basco e deixava a sua família para correr atrás do sonho com apenas 14 anos. Voltava à casa só nas férias e feriados prolongados, e as lágrimas caíam pelo rosto sempre que regressava ao aeroporto de Lyon para pegar o avião de volta para San Sebastián. Pouco falava o idioma, mas foi se adaptando devagar e hoje só quer falar espanhol. A cultura do país vizinho está tão enraizada no seu dia a dia, que o jogador se identifica mais com a Espanha do que com o seu país de origem. Em 25 anos de vida, o atacante passou 14 na França e 11 na Espanha (San Sebastián e agora Madri). Em uma entrevista ao L'Equipe, durante a Copa do Mundo de 2014, o jogador explicou que se sentia francês, mas que no seu dia a dia vivia como um espanhol e falava inclusive o idioma castelhano com a sua cachorra.

- Ele nem parece um francês, sinceramente é bem espanhol, diria até mais uruguaio, sul-americano, porque está sempre com o mate na mão e fala com sotaque da América Latina - disse o amigo Koke sorrindo.

Esse sotaque mais latino, Griezmann pegou nos tempos do Real Sociedad, porque era muito próximo dos jogadores sul-americanos. O garoto franzino virou ídolo do clube, onde estreou em 2009 no time principal e permaneceu até ser contratado pelo Atlético de Madrid há dois anos por € 30 milhões ( cerca de R$ 120 milhões). Mais um investimento acertado dos colchoneros, porque hoje o atacante vale, pelo menos, o dobro no mercado. E esse valor pode aumentar ainda mais nas próximas semanas, após a final da Champions e a Eurocopa que Griezmann vai disputar com a seleção francesa em seu país.

Na ascensão de Griezmann conta muito o trabalho de Simeone nestes dois anos. Na primeira temporada em Madri, o ex-Real Sociedad levou algum tempo para se adaptar aos treinos duros do técnico argentino. Sessões de trabalho muito físicas e intensas que o francês assimilou só com os meses, mas o Cholo nunca duvidou do seu talento. Griezmann marcou 25 gols nas três competições disputadas pelos colchoneros, superando inclusive o francês do rival, Karim Benzema, que anotou 22 ao longo da temporada passada. O atacante teve um rendimento que respondeu às expectativas do clube, mas não da crítica, já que não entrou sequer na lista dos 23 finalistas ao prêmio da Bola de Ouro 2015, levantando alguma surpresa da parte dos companheiros de equipe.

Para Simeone, Griezmann está entre os três melhores (Foto: Gonzalo Arroyo Moreno / Stringer)

- Para mim é um dos melhores do mundo. Essas listas nem sempre são as mais justas e não estão honrando o trabalho que o Griezzi faz aqui em Madri. Sem dúvida, merece estar entre os melhores do mundo e vai estar - é o voto de confiança do companheiro Juanfran que acredita no potencial do francês para brigar pelo prêmio em breve.

Este ano, o rendimento de Griezmann melhorou mais ainda, e o do clube também. Quase certamente, o francês entrará, pelo menos, nesse grupo dos 23, mas o seu treinador acredita que já está pronto para outros voos. O número de gols esta temporada (32) está dentro da média dos maiores artilheiros da Europa. Além disso, nos momentos decisivos, ele sempre aparece. A final da Liga dos Campeões e a Eurocopa da França, onde Griezmann vai ser o centroavante titular dos gauleses (Benzema não foi convocado), podem ser decisivas para a votação do prêmio da Bola de Ouro. Para o Cholo, o seu jogador já merece estar entre os três finalistas.

- É muito dedicado, sempre quer aprender e luta para melhorar. Para mim, o Griezmann hoje é um dos três melhores do mundo - assina o Cholo.

Griezmann segue “tranquilo” e quase alheio a esse argumento. Continua sorrindo, com o seu mate na mão antes de jogos e treinos, mas a sua ascensão é inegável e vem despertando o interesse de vários clubes milionários europeus. O Paris Saint-Germain é um dos primeiros da lista de pretendentes. Ao clube de Paris agrada a ideia de substituir Ibra com um potencial ídolo francês e o salário que pode oferecer é bem mais “salgado” daquele que Griezmann pode receber em Madri, mesmo melhorando o seu contrato. O Atlético garante que quer segurar o jogador, que vive na Espanha como em casa, mas este verão pode ser mesmo hora de voltar a casa, 11 anos depois de ter batido com a porta atrás de um sonho.