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Presença de barras bravas preocupa Copa América

A competição acontece de 14 de junho a 7 de julho com jogos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador.

20/05/2019 13:08

O interesse não é o mesmo despertado na Copa da Rússia em 2018 ou no Mundial no Brasil, quatro anos antes. Mas a perspectiva da presença de barras bravas é motivo de preocupação para os organizadores da Copa América. 

As autoridades não possuem um número exato de quantos argentinos devem viajar para ver as partidas. Mas os que possuem histórico de violência no futebol terão a entrada proibida no território brasileiro. 

O governo brasileiro foi avisado que o núcleo mais radical dos torcedores organizados argentinos não viajarão de avião. Eles querem evitar os controles de imigração nos aeroportos.

Não é tática nova. Já havia sido empregada por eles antes do Mundial no Brasil. Em 2010, sem a possibilidade de entrada na África do Sul pela via terrestre, eles compraram passagens por rotas alternativas para tentar ludibriar as autoridades da imigração. Mesmo assim, 30 foram deportados e não viram o torneio.

Nas partidas no Mineirão, Itaquerão e Maracanã na Copa de 2014, a estimativa foi de que 20 mil argentinos estiveram presentes. Número parecido com esse acompanhou a seleção na Rússia.

A Copa América não desperta a mesma capacidade de mobilização, mas existem movimentos de barras bravas. Eles não querem deixar passar a oportunidade de acompanhar a seleção em um torneio importante.

Estar presente significa demarcar território. Há a disputa pela liderança da torcida "oficial" da seleção argentina. Na Copa do Mundo da Rússia, La 12, a maior organizadas do Boca Juniors, assumiu o papel de cabeça do alento para Messi e seus companheiros. Incorporou a função que já havia sido no passado dela própria, mas também de River Plate e Independiente. 

Claudio Tapia, presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino), é torcedor do Boca e dono de cadeira cativa em La Bombonera. 

Ser o grupo considerado como referência na torcida pela seleção tem benefícios políticos e econômicos. 

Cada líder de barras nos clubes é instrumento político de diferentes partidos ou causas. São recompensados por isso. Também exercem influência sobre as autoridades. Rafael Di Zeo, líder histórico da 12, se gabou durante investigação policial de ter uma agenda telefônica "completa", com nomes de pessoas nos altos escalões do governo federal e de Buenos Aires.

Este é ano de eleições presidenciais na Argentina. Cristina Kirchner, autora da frase "eles não são tão ruins assim", sobre os barras, é candidata a vice-presidente na chapa kirchenista de Aníbal Fernandez. 

Há os benefícios econômicos da venda de ingressos cedidos por dirigentes, jogadores ou pela própria AFA. Na Copa da Rússia, estima-se que a Associação ofereceu mais de mil entradas para os barras. Boa parte dessas foi revendida por eles (com lucro superior a 100%) para torcedores que estavam no país à procura de bilhetes. Eles também confeccionam merchandising vendido durante a competição.

As maiores organizadas argentinas, como La 12, Borrachos del Tablón (River Plate) e a Guarda Imperial (Racing) já fizeram rifas de camisas cedidas por jogadores, vaquinhas ou pediram dinheiro a cartolas para financiar a viagem ao Brasil. Mas a crise econômica no país e a desvalorização do peso dificultou a arrecadação.

A ligação de vários líderes de barras que acompanham a seleção com atletas é histórica. Pablo Álvarez, o Bebote, conseguiu assistir aos quatro primeiros jogos da Argentina na Copa de 2014 apesar de ser procurado pela polícia. As autoridades não tinham ideia de como ele conseguia entrar nos estádios até que perceberam, pelas câmeras de segurança, que estava em um setor onde os bilhetes eram cedidos apenas a dirigentes e jogadores. 

Quando percebeu que seria preso, Bebote comeu o ingresso para que não fosse descoberto o doador.

Os barras bravas sabem que o poder não tolera vácuo e não querem dar espaço para o surgimento de outro grupo que possa lhe tomar influência e dinheiro. Também não desejam perder a chance de talvez presenciar o primeiro título de expressão da seleção desde 1993, quando venceu a Copa América no Equador.

Na primeira fase, a Argentina viaja a Salvador (enfrenta a Colômbia), Belo Horizonte (Paraguai) e Porto Alegre (Qatar). Esta última é a cidade que, pela proximidade geográfica, pode ter a maior presença de torcedores do país.

Em todos os jogos, os donos de ingresso terão de passar por aparelhos de reconhecimento facial. Isso deve ajudar a identificar os barras que quiserem ir aos estádios, caso não tenham sido impedidos de entrar no Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro aproveitou o encontro com Mauricio Macri, presidente da Argentina, em janeiro deste ano para levantar a preocupação com a presença de torcedores violentos.

Macri respondeu que o seu governo compartilharia com a polícia brasileira todas as informações sobre o assunto. Há cerca de três mil nomes que estão sob o que na Argentina é chamado de "direito de admissão". A proibição de entrar em estádios.

Juan Manuel Lugones, da agência de prevenção à violência no esporte do governo argentino, enviou as informações para o comitê organizador.

Fonte: Folhapress
Por: Alex Sabino
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