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No Lolla, banda Pearl Jam mostra que grunge virou classic rock

Show com mais de 2 horas teve 'Parabéns pra você' para dono do festival, discurso de apoio às mulheres e maior coro da festa até aqui.

25/03/2018 13:46

Pearl Jam precisou de uma música e meia para ganhar o maior coro dos dois primeiros dias do Lollapalloza 2018.

No ótimo show de mais de 2 horas e 20 minutos que encerrou o palco principal do festival neste sábado (24), a banda mostrou que o grunge virou classic rock. Sem problema.

A entusiasmada turma do conservado senhor Eddie Vedder, de 53 anos, que por sinal ainda tem uma senhora (?) voz, já não está no auge (isso foi na década de 1990, quando o grunge explodiu levando punk, metal e rock alternativo ao mainstream). Mas toca como se estivesse nos bons dias. É o que importa. Aprende, Red Hot Chili Peppers.

É um tom de celebração – e de autocelebração. Dos quatro grandes do grunge, o Pearl Jam é o que resta, sendo Vedder o sobrevivente, após as mortes de Kurt Cobain, do Nirvana, que se suicidou em 1994; de Layne Staley, do Alice in Chains, que morreu de overdose em 2002; e de Chris Cornell, do Soundgarden, que se suicidou no ano passado.

Os destaques foram:

- Refrãos dos anos 1990 cantados tanto pela banda quanto pelo povo, em karaokê da saudade (da camisa xadrez de flanela, inclusive)

- Um "Parabéns pra você" para Perry Farrell, o "dono" do Lollapalooza, numa ótima demonstração de senso de hierarquia. Farrell foi para o palco para cantar com o Pearl Jam uma música de sua própria banda, o Jane's Addiction. A escolhida foi "Montain song"

- O clima descontraído, com o Eddie Vedder tenso e dramático do início da carreira dando lugar a uma versão mais relaxada, comunicativa e simpática, correndo para lá e para cá, porém sem escaladas tipo kamikazes do passado

- Discursos engajados, politizados – e fofinhos – de Vedder, alternando português (com cola) e inglês. Temas: desarmamento (ele lembrou que os americanos foram às ruas neste sábado por leis mais rígidas para o controle de armas e citou que o Brasil tem problemas semelhantes); ecologia (a banda doa cachê para iniciativas de preservação do meio ambiente); e apoio às mulheres

- Tiozinhos com gás, entrosados e que se garantem no essencial: o repertório excelente, de 26 músicas

Além participação de Farrell e do fato de a banda ter liberado a transmissão para a TV (ao contrário do Lolla de 2013), não tem muita novidade no show do Pearl Jam. Os caras confiam na execução e no poder da nostalgia. Felizes os que estão no palco, mais felizes ainda os que estão na plateia.

O primeiro disco da banda, "Ten", foi lançado há um Kurt Cobain de distância, ou seja, 27 anos. E as faixas daquele álbum respondem pelos momentos mais entusiasmados da apresentação.

"Once", "Even flow" (com o guitarrista Mike McCready solando com o instrumento às costas), "Black" (bonita, mas tocada com soninho), "Porch" (Eddie Vedder foi para a galera), "Why go" e "Jeremy" (é engraçado ver todo mundo gritando "uh uh uh uh" sem constrangimento e com "arms raised in a V") renderam participação emocionada do povo.

A balada "Alive", já no bis, cumpriu a função de hino de uma geração que agora está na casa dos 40. Bastante bonito. Assim como versões alongadas dos hits "Corduroy", "Do the evolution" e "Better man".

(Ausências sentidas: "Given to fly", "Animal", "Rearviewmirror", "Dissident", "Nothingman", "Release", "State of love and trust" e "Last kiss", que é pop, mas não custava.)

O lado fofo do vocalista se vê no esforço para falar o idioma nativo, cheio de sotaque e rindo da falta de habilidade. Geral compra este populismo, vamos reconhecer, meio barato, mas ok. Deixa o cara, que no mais só quer ser simpático.

E há momentos de afagos criativos, como quando ele muda a letra da bela balada "Elderly woman behind the counter in a small town" e canta: "I am glad to saw here". E generosidade, como na hora do elogio a David Byrne, que tinha tocado mais cedo e foi chamado de "gênio" por Vedder. Rolou até cover de Talking Heads, "Pulled up".

Em outro discurso (mais um) do show de duas horas e vinte minutos, o cantor achou certo falar que "o Brasil é a capital mundial do rock'n'roll", dizendo em seguida que aqui é bom para surfar.

O fato de uma coisa não ter necessariamente a ver com a outra dá ideia da generalidade dessas passagens simpáticas, porém repetitivas e descartáveis.

Ainda bem que isso é exceção. Vamos parar de pegar tanto no pé, portanto.

E aí o que sobra? Sobra uma banda que tem a cara de sua época e que desencanou de ser forçosamente cool. Só vejo vantagens.

Mas não teve novidade? Teve meio que só uma, e ninguém achou errado. Foi a música "Can't deny me", que o Pearl Jam acaba de lançar após anos sem material novo. Vai estar no próximo e 11º de estúdio.

"Mind your manners" e "Sirens" foram outras de anos recentes que entraram porque são boas, embora não igualem a melhor safra. Está valendo.

Os fãs mais "true" também tiveram direito a agrados particulares, com as raras "Beath" (single do filme "Singles", que retrata justamente o grunge de Seattle, dirigido por Cameron Crowe), "Smile", boa faixa do disco "No code", e a porrada "Lukin".

Das covers, vieram as recorrentes "Comfortably numb" (Pink Floyd) e "Baba O'Riley" (The Who), ambas no bis.

Para terminar, "Yellow ledbetter", em que a voz de Vedder deu uma rateada – sem crise. "Nós temos de ir embora", disse um Eddie Vedder superfeliz ao lado dos parceiros. "Nós amamos tanto vocês. Não esqueceremos de sua gentileza".

Partiu mandando beijo: "Vejo vocês de novo". Se acontecer, todo mundo vai sair ganhando.

Setlist do Pearl Jam no Lolla 2018:

"Wash"

"Corduroy"

"Do the evolution"

"Why go"

"Mind your manners"

"Elderly woman behind the counter in a small town"

"Can't deny me"

"Even flow"

"Mountain song" (conver do Jane’s Addiction, com Perry Farrell)

"Breath"

"Pulled up" (cover do Talking Heads)

"Unthought known"

"Jeremy"

"Sirens"

"Down"

"Better man"

"Hold on"

"Black"

"Once"

"Lukin"

"Porch "

"Smile"

"Comfortably numb" (cover do Pink Floyd)

"Alive"

"Baba O'Riley" (cover do The Who)

"Yellow bedbetter"

Fonte: G1
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