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Bossa Nova: o Brasil vira referência internacional

No dia 25 de janeiro comemora-se o Dia Nacional da Bossa Nova

21/01/2019 09:58

A data é uma referência ao nascimento do maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim, nascido em 25 de janeiro de 1927, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. Mundialmente reconhecido, Tom Jobim foi um dos criadores desse movimento que fez o Brasil despontar em artigos da crítica especializada, mundo afora. Essa bossa que chegou de mansinho, canto baixo e notas precisamente bem colocadas, ainda hoje é reverenciada e inspiradora de gerações.

 "Sem dúvida, o primeiro movimento musical brasileiro de caráter exportador foi a Bossa Nova. Com nítida influência das dissonâncias e das “notas blues” do jazz e soul americanos, a Bossa Nova imprimiu uma nova característica de tocar samba, com refinamento, novas técnicas, ritmos e sensibilidades que levaram a música brasileira a alcançar diversas partes do mundo, dos EUA a Israel, da Europa ao Japão", observa o jornalista e músico Durvalino Couto.

"Liderada por nomes históricos com Antônio Carlos (Tom) Jobim, João Gilberto, Roberto Menescal, Vinícius de Moraes, Nara Leão, Carlinhos Lyra e tantos outros, a Bossa Nova ganhou o mundo ao falar do mar, do sorriso e da flor para uma geração que surgia junto com o nascimento da nova capital brasileira – Brasília – e de uma onda modernizadora que inaugurava a indústria automobilística no Brasil, bem como um período de grandes avanços estruturais da nossa sociedade. Não à-toa, a Bossa Nova caiu na predileção de grandes músicos internacionais, que a interpretaram das mais diversas formas, tornando-se um fenômeno nunca antes visto em nossa música popular", argumenta Durvalino Couto.

Para o pianista Garibalde Ramos, a Bossa Nova sempre existiu: "É simplesmente um samba, um samba que se desenvolveu, se sofisticou com melodias, ritmos e harmonias mais elaboradas. A influência do jazz é que a bossa aderiu à forma americana moderna de escrever música, a cifra..., musicalmente a bossa é mais rica, até porque a escravidão americana foi muito mais violenta, era proibido tocar. No brasil se tocava e dançava de todo jeito, assim nós temos todos os ritmos. A influência na divulgação foi importante, por conta da ida dos músicos brasileiros pra américa e da grande receptividade dos músicos americanos que se descobriram falando a mesma língua;  música", acrescenta.

"Noel rosa é bossa, a semana 22 teve uma influencia muito grande: modernidade, identidade própria, prontidão, independência dos padrões de fora...letras simples, mas uma música poderosa que age muito forte enquanto a letra diz. Assim como a música popular americana convive com o jazz, a mpb convive com a bossa-nova, e todos se desenvolvem e se aperfeiçoam, e segue o som", diz o pianista. 

Amante do ritmo que resultou em grandes talentos, o cantor Moisés Chaves: "Como não cantar e amar a Bossa Nova? Ritmo que aproximou o samba do jazz? Em todo lugar do mundo que se cantar a Bossa Nova, imediatamente, se remete ao Brasil. É a cara do Brasil, tanto quanto o samba. Pra mim é uma honra cantar a Bossa Nova, isso em todos os meus shows. No Rio de Janeiro, vi o show que comemorou os 60 anos desse ritmo adorável e fiquei mais fã ainda. A Patrícia Mellody fez um trabalho maravilhoso sobre a Bossa, então é isso: um ritmo nosso, brasileiro que me encanta", acentua o artista.

Uma história de sucesso

Outras das características do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então, abordavam temáticas leves e descompromissadas – exemplo disto, Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça. A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia, “desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da ‘grande voz'”.

Em 1959, era lançado o primeiro LP de João Gilberto, Chega de saudade, contendo a faixa-título – canção com cerca de 100 regravações feitas por artistas brasileiros e estrangeiros. A partir dali, a bossa nova era uma realidade. Além de João, parte do repertório clássico do movimento deve-se as parcerias de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Consta-se, segundo muitos afirmam, que o espírito bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça Orfeu da Conceição, primeira parceria da dupla, que esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do Bando da Lua, para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega Orfeu, uma das belas composições de Tom e Vinícius, “Se todos fossem iguais a você”, já prenunciando os elementos melódicos da Bossa Nova.

Além de Chega de saudade, os dois compuseram Garota de Ipanema, outra representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, depois de Aquarela do Brasil (Ary Barroso), com mais de 169 gravações, entre as quais de Sarah Vaughan, Stan Getz, Frank Sinatra (com Tom Jobim), Ella Fitzgerald entre outros. É de Tom Jobim também, junto com Newton Mendonça, as canções Desafinado e Samba de uma Nota Só, dois dos primeiros clássicos do novo gênero musical brasileiro a serem gravados no mercado norte-americano a partir de 1960.

Em meados da década de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada por Marcos Valle, Dori Caymmi, Edu Lobo e Francis Hime e estimulada pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Inspirada em uma visão popular e nacionalista, este grupo fez uma crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua reaproximação com compositores de morro, como o sambistaZé Ketti. Um dos pilares da bossa, Carlos Lyra, aderiu a esta corrente, assim como Nara Leão, que promoveu parcerias com artistas do samba como Cartola e Nelson Cavaquinho e baião e xote nordestinos comoJoão do Vale. Nesta fase de releituras da bossa nova, foi lançado em 1966 o antológico LP “Os Afro-sambas”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell.

Entre os artistas que se destacaram nesta segunda geração (1962-1966) da bossa nova estão Paulo Sérgio Valle, Edu Lobo, Marcos Vasconcelos, Dori Caymmi, Nelson Motta, Francis Hime, Wilson Simonal, entre outros… Um dos maiores expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em 1965, Vinícius de Moraes compôs, com Edu Lobo, Arrastão. A canção seria defendida por Elis Regina no I Festival de Música Popular Brasileira (da extinta TV Excelsior), realizado no Guarujá naquele mesmo ano. Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia MPB, gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira até o início da década de 1980 – época em que surgiu um pop rock nacional renovado.


Por: Marco Antônio Vilarinho
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