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Um novo Felipão, mas com a mesma moral

Após oito anos na música gospel, o cantor anuncia seu retorno ao forró com a missão de reconstruir sua carreira.

29/09/2018 09:12

Em meados dos anos 2000, o gingado no palco e a voz dele eram inconfundíveis. Naquela época, Felipão e Forró Moral, lideravam o segmento do forró. Agenda sempre lotada, recorde de público nos shows e canções que em pouco tempo se transformavam em verdadeiros sucessos. A correria desse auge foi seguida por um período mais reservado. 

Felipão abriu mão da carreira no forró para se dedicar a igreja e lá, de forma despretensiosa, acabou seguindo na música gospel, onde atuou durante oito anos. Há um ano, Felipão anunciou o seu retorno ao forró. Começava ai a missão de reconstruir sua carreira. Unindo a voz potente e marcante com o carisma e o gingado que poucos artistas conseguem no palco, Felipão vem fazendo a alegria de quem já o conhecia e agregando novos fãs ao público que o acompanha desde os anos 2000. 

Ao ODIA, o músico falou dessas fases que atravessou e sobre esse um ano de reorganizar sua carreira. Na entrevista a seguir ele comenta ainda sobre as mudanças da nova geração do forró e dos desafios que tem enfrentado.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

Qual a principal bagagem que você carrega do início da carreira, da época do Felipão e Forró Moral?

A experiência de entender realmente como a música funciona. A gente não vive só de fazer música, a gente precisa entender como a coisa funciona se a gente quer viver profissionalmente disso. Acho que a largada precisa ser essa. Tem muita gente que tem muito talento, tem muita vontade, mas não consegue ativar essa carreira. Como a gente já vinha com toda essa bagagem, pra gente voltar hoje fica bem mais fácil. A gente começa a ir se articulando, se posicionando, voltando a fazer contatos que a gente tinha antes, voltando para os meios de comunicação. Muita coisa, lógico, mudou e essa bagagem acaba precisando de novidades.

O que te motivou a entrar no campo gospel?

A minha intenção na verdade não era me tornar um cantor gospel. Eu estava bem cansado. Na época o sucesso do Felipão e Forró Moral foi muito pesado, foi muito cansativo, teve muitos problemas na época, acho que por eu ser muito novo, minha família não tinha muita experiência, que era quem administrava a carreira comigo, a gente teve muito desentendimento. Foi algo que realmente não foi saudável pra mim, comecei a beber muito, minha vida virou uma loucura. E eu queria parar, queria ter uma vida normal. Resolvi parar e com pouco tempo fui convidado para conhecer uma igreja, em Fortaleza. Gostei muito do ambiente e daquela busca pela paz, pela tranquilidade, e entrei. Depois que eu entrei foi quando a coisa começou a acontecer. Comecei a receber convites para contar um pouco da minha história, e meu testemunho. Então eu fui entrando sem nenhuma intenção profissional. Na época eu montei duas empresas e estava trabalhando nelas. Eu visitava as igrejas e aonde eu chegava o pessoal perguntava se eu não podia cantar, ai a coisa foi indo e acabei passando oito anos nessa correria.

Como era o Felipão no segmento forró e como foi o Felipão no segmento gospel?

Na verdade, no Felipão e Forró Moral, eu era somente o artista, apesar de ser dono também, mas eu me envolvi completamente com a parte artística do projeto e a gestão eu não cuidava, parte dos erros foi isso, foi eu não querer saber das coisas. Já no gospel eu me envolvi em um trabalho muito pessoal, muito intimo, onde eu me envolvia com tudo, era eu que fazia meu CD, escrevi dois livros, botava o material no carro, ia para as igrejas. Então era um trabalho em uma proporção muito menor, com um apelo totalmente diferente, mas onde eu me envolvia do começo ao fim.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

A volta ao forró foi um pedido dos fãs? Como foi esse retorno?

São muitos fatores, sempre digo que não dá para falar todos. Com o passar do tempo eu comecei a ver muita coisa que eu não gostei, que eu não concordava dentro do meio que eu estava e comecei a me questionar muito, comecei a passar por muitos questionamentos meus: ‘então quer dizer que quanto mais eu entrar, mas isso vai acontecer? mais vou ter que agir assim?’. E eu comecei a sentir que eu tinha que profissionalizar muito algo que eu não tinha como profissional, que pra mim era algo do coração. Isso me incomodava demais e comecei a ficar muito em dúvida, e eu não sei viver em dúvida. Quando eu começo a perder minha paz, quando eu começo a me questionar se aquilo não está me fazendo bem eu começo a viver um processo de mudanças. Fiz diversas coisas, tentei mudar, e não consegui. Funciona como um sistema, como um mercado também. Vi que não dava pra mim, prefiro fazer o forró e comercializar a está vivendo as coisas de Deus e tendo que comercializar.

O que você quis trazer como identidade, musicalmente falando, nessa nova fase no forró?

Falando de imagem, acho que a identidade do Felipão já é bem definida, é uma postura, uma dança, aquilo é muito único do personagem em cima do palco, acho que é algo que ficou. Em relação à parte musical é que eu vejo que a musica está em transformação o tempo todo. Apesar de já fazer um ano do retorno, eu estou em constante pesquisa para entender novamente qual a música que vamos fazer. Não acho que existe uma identidade fixa, porque acho que a música tem mudado o tempo todo, mas acho que tem que ter algo que as pessoas reconheçam que aquilo é Felipão. E eu estou nessa fase de descoberta e existe muita cobrança em cima do nosso nome, mas eu fico procurando respeitar o tempo de toda a ação e fazer as coisas no tempo certo.

Quais os principais desafios que você observa, no segmento do forró, fazendo um comparativo entre os anos 2000 e os dias atuais?

Eu vejo dois desafios. Primeiro é a parte da internet, a gente não tinha uma atuação tão grande na internet, a coisa ainda estava começando e hoje a internet é o segundo plano. A música é o principal e depois é colocar a música na internet, promovendo isso. É um desafio muito grande porque é um meio que muda o tempo todo, a gente precisa correr com a música, com o comercial, com a parte artística e ao mesmo tempo a gente precisa estar atualizado na internet entendendo como as coisas acontecem. O segundo desafio é que o forró em si se profissionalizou muito. Nos anos 2000 era tudo muito amador, as coisas iam acontecendo e hoje não, hoje tudo é muito organizado, tudo é muito profissionalizado.  O profissionalismo gera pra gente um desafio muito maior, você precisa ser excelente, precisa levar a coisa menos na brincadeira e mais na seriedade.

O que você sentiu do mercado, e também do público, nesse um ano desde que voltou aos palcos?

O público que curtiu o Felipão disse: ‘cara que saudade!’. E existe um novo público que só ouviu falar do Felipão e esse público hoje é o principal público, porque é quem estar consumindo. O público que curtiu o Felipão já passou mais o tempo, já casou, tem outras prioridades. Estamos vendo exatamente essa transformação e estamos conscientes que a gente precisa conquistar esse novo público. É um trabalho realmente de reinicio, de contar com o apoio de quem nos ama, mas conquistar novos fãs.

Já são mais 1,8 milhões de downloads e 7,3 milhões de execuções nos CDs promocionais e mais de 5,6 milhões de visualizações. Esses números te impressionam? A que você atribui eles?

Se você olhar que o Felipão passou quase dez anos fora do mercado e que em um ano a gente tem música que passaram de um milhão de downloads isso pra mim é algo para ser muito grato a esse público que está acompanhando. A gente precisa segurar um pouco a ansiedade e respeitar o tempo, o tempo vai nos ajudar a crescer ainda mais.

Entre os próximos projetos tem a gravação de novos clipes não é? O que você pensa para eles?

A gente já está com um clipe pronto, mas surgiu de lançar a música “Apaixonado Vagabundo”. O clipe de “Se arrependeu” deve sair no final de outubro. A gente tem muita coisa engatilhada, acontecendo.

Por: Yuri Ribeiro - Jornal O Dia
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