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Produções de coletivos brilham nas telas da Parada de Cinema

'Mulheres de visão', pescadores do Poty Velho e os últimos dias do Circo Young inspiram produções acadêmicas que colocam Teresina no circuito audiovisual.

05/05/2018 16:48

Wesley tinha uma câmera na mão e uma ideia muito certa na cabeça: queria conhecer o universo do circo por dentro, mergulhar em bastidores e histórias. Retratar as entranhas de um picadeiro. Tudo corria bem no projeto de documentário que seria o seu trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social na UFPI. Até que veio o aviso: o circo Young, que Wesley já tinha começado a filmar, ia fechar as portas. 

A cena em que toda a equipe de produção é pega de surpresa com a notícia do fim do circo virou um plot twist pra ninguém botar defeito: fora do enredo previsto, a história ficava ainda mais atraente aos olhos do diretor, que sempre se interessou por estudar documentários híbridos, Ele viu ali a oportunidade de transformar o filme em um metadocumentário.

“A gente já estava no meio da pré-produção quando recebeu a notícia de que o circo ia fechar”, lembra Wesley. “Tentar maquiar isso esteticamente ia prejudicar exatamente o que eu queria, que era mostrar o processo, o real, apesar dos recortes”. 

O filme O Pranto do Artista - manifesto do Circo Young e LabCine - foi exibido na sexta, dia 4, na Parada de Cinema. “São sempre oportunidades de observar como as pessoas recebem o filme e que tipo de retorno dão pra gente, como realizador”, diz Wesley. “A Parada é um dos poucos locais que colocam essas produções juntas”, acrescenta.

"Mulheres de Visão", filme contemplado na Mostra Empodera e cuja exibição abriu a Parada este ano também tem produção coletiva. “Esse é o primeiro documentário que estou dirigindo”, diz Milena Rocha, que no coletivo LabCine já trabalhou como assistente e produção. “Conseguir a co-produção com a Parada de Cinema ajudou bastante porque esse lance de emprestar equipamento e juntar equipe fortalece a gente”.

Eles fazem cinema

Essas produções, no plural, as quais Wesley se refere, diz respeito a filmes oriundos do trabalho de coletivos que arriscam-se em produções audiovisuais. Na programação deste ano a Parada de Cinema contemplou 4 filmes produzidos por coletivos surgidos do primoroso encontro de amigos. Seja no espaço acadêmico ou nas rodas de conversas, surge um fazer cinema que prioriza o processo, o encontro, a reinvenção.

É o caso, por exemplo, do filme Rio, riso, desafio, de Javé Montuchô, que estreou na última quinta-feira, na Parada de Cinema. O filme foi desenvolvido como trabalho de conclusão do curso de jornalismo e rodado em 2017, com apoio do coletivo VDC, idealizado por Tiago Furtado. “Muitos movimentos de cinema surgiram assim, em coletivos, uma galera que se junta para conseguir produzir”, diz o diretor. “Um cara tem o roteiro, mas não tem câmera, o outro tem a câmera, o outro não tem nada mas tem o carro pra ajudar na produção, e assim vai”, diz Javé explicando o princípio de um coletivo. “É fundamental achar seus próximos, quando pessoas com o mesmo objetivo se encontram, isso tem muita potência”.

O filme, um documentário de 24 minutos com relatos dos pescadores que moram no bairro Poty Velho - o bairro mais antigo da cidade de Teresina - foi ovacionado no final da sessão. 

Na mesma noite foi exibido Mamata, filme da Bahia, dirigido por Marcus Curvelo, do Cual - Coletivo Urgente de Audiovisual. A produção, que também tem um pé nos corredores universitários da UFBA, é uma obra que acompanha um artista estagnado entre a crise política brasileira e o sonho de fugir para o exterior. 

Nos setores da UFPI, o coletivo LabCine despontou com o propósito de ajudar na produção acadêmica, mas logo virou uma comunidade para compartilhamento de ideias aberta a todos que estejam interessados em formar um núcleo para produzir audiovisual - e tudo isso virou observatório nas pesquisas de Wesley no intuito de entender a própria lógica cinematográfica.

“Exibir em um evento como a Parada é fundamental para quem está começando uma carreira, se profissionalizando”, aponta Javé. “É importantíssimo não só porque nos coloca dentro desse circuito, mas porque coloca filmes de Teresina no circuito”. 

Fonte: Ascom
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