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O melhor de nós

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11/06/2019 07:35

Éramos 11. Hoje já somos 2. Morreu ontem em Salvador, o melhor de todos nós: Padre Carlos Formigli.  Estudou Filosofia em Salvador, 1950/52; na Pontifícia  Academia Romana de Santo Tomas de Aquino e na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, 1953/55. Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana – Roma – Itália, 1952/56. Pos-Graduação em Ciências Humanas e Sociais – Monografia: Le Tiers-Monde Sous le Signe de la  Transformation – Faculdades Católicas de Lilli – França – 1970/72. Professor de latim e grego, presidente da Fundação da Criança e do Adolescente, FUNDAC, 1991/2007 – Salvador.

Os primeiros alunos do Seminário da Imaculada Conceição de Amargosa, na Bahia. A prefeitura estava inaugurando a “Biblioteca Pedro Calmon”,  filho mais ilustre da cidade. Estavam lá o homenageado, professor, escritor, acadêmico e orgulho da terra. O prefeito, vereadores, o bispo Dom Florêncio Sisínio Vieira, os professores do seminário e os locais, e um jovem estudante de Direito também nascido lá, Waldir Pires.

Padre Correia escreveu um texto em latim, um diálogo, como se fosse teatro, para Carlos Formigli e eu dizermos. Lembro bem de duas coisas: o medo de começar e a alegria de terminar debaixo de palmas, Não erramos nada. Carlos aparecia de repente, de surpresa e eu, ali ao lado, o interrogava em latim:

- “Eus, Carole, quo vadis”? (Alô, Carlos, para onde vais?)

E Carlos respondia que ia para a inauguração da biblioteca. Falávamos sobre a importância da biblioteca, a justa homenagem a Pedro Calmon e uma saudação à cidade.

Tudo em latim. Em um latim perfeito, clássico, claro, que pronunciamos com segurança, até porque o autor estava ali e, se errássemos, era capaz de nos matar. E foi o primeiro a aplaudir.

Tenho aqui em mãos, a carta que o Carlos me fez quando completei 80 anos:

“- Caro Sebastião, eis que estamos chegando aos oitenta anos. Uma longa caminhada pontilhada de muitas coisas boas. Basta um olhar para o passado e certamente nos surpreenderemos com as vitórias conquistadas, as dificuldades vencidas, os serviços prestados. Com certeza, não fomos inúteis e, nem tão pouco, mais um na história do mundo, caminhando ao sabor dos ventos. Conheço sua história (a NUVEM não deixa dúvidas) e você sabe por onde andei, tentando realizar a minha missão de sacerdote e educador. Aos oitenta anos, se não optamos pelo repouso, já sentimos que a idade nos alerta para a necessidade de desacelerar e caminhar com mais prudência.

Você, meu caro, tem uma história rica de momentos empolgantes e não duvido em afirmar que os dias de “prisão” contribuíram, e muito, para fazer do Nery, o cara destemido, o jornalista polêmico, o cidadão consciente dos direitos e dos deveres decorrentes de sua cidadania.

Parabéns, Sebastião, pelo seu aniversário, pela sua vida, pela sua história, pelo que você fez em defesa dos direitos da pessoa humana e da democracia.

Com você, agradeço a Deus o dom de nossas vidas e as oportunidades que tivemos de semear a boa semente.”


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