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Pib dos municípios piauienses em 2016

Um problema conjuntural e os mesmos desafios estruturais

24/01/2019 17:53

Em novembro de 2018, foi divulgado o PIB dos estados referente a 2016; no Piauí, este cálculo é feito numa parceria IBGE/Fundação CEPRO. Apresentei uma análise dos dados em artigo publicado em 23.11.2018, neste jornal O DIA.

No âmbito da mesma parceria, em 15 de dezembro do ano passado, foi divulgado o PIB de 2016 dos 224 municípios do Piauí, bem como dos 5.565 municípios brasileiros.

Evidentemente, quase todos os municípios piauienses tiverem uma queda no PIB, variando em torno de -6,3%, que foi a queda do PIB estadual. Além do impacto da crise nacional, que vinha de 2015, tivemos um problema conjuntural em 2016: a estiagem na área do cerrado, afetando a produção de grãos que tem sido o fator dinâmico do desempenho do PIB do Piauí.

Os dados apontam, porém, para desafios estruturais que se reproduzem há mais de uma década:

1º) a grande concentração da renda na capital Teresina e em alguns poucos municípios. A população de Teresina para 2016 estimada pelo IBGE foi de 847.430 habitantes, ou seja, 26,38% da população estadual; e Teresina teve um PIB em 2016 de R$ 19.149.966, representando portanto 46,24% do PIB de todo o estado. 

Se somarmos ao PIB da capital o dos quatro municípios de maior PIB (Parnaíba, Picos, Floriano e Uruçuí), teremos no conjunto 58,60% do PIB e 35,9% da população. Isso significa que 65% da população piauiense que habita os 219 municípios restantes se beneficia apenas de 41% da renda estadual.

Mas, mesmo entre estes cinco municípios há uma distância em relação a Teresina. Parnaíba, com quase um quinto da população de Teresina, tem um PIB de R$ 1.920.668,00, ou seja, 10% do PIB da capital. O mesmo vale para Picos e Floriano. A exceção é Uruçuí, que tem 0,66% da população e 1,88 do PIB do estado. Fora o cerrado não tem havido desconcentração da produção e da renda no território piauiense.

2º) a forte dependência da seguridade social e da administração pública na agregação de valor ao PIB de um grande número de municípios. A composição setorial do PIB do Piauí, em 2016, foi a seguinte:  Agropecuária - 5,1%; Indústria - 12,6%; Comércio e Serviços - 82,3%, com o subsetor Administração Pública e Seguridade tendo crescido de 33,2 para 34,1% do PIB, em relação ao ano anterior.

Se já é possível considerar alta essa participação do subsetor Administração e Seguridade em nível estadual, quando se analisa a composição do PIB dos municípios o peso do subsetor é ainda mais acentuado. Em 160 municípios (= 71,4% dos 224 municípios), a metade do PIB (50,0% ou mais) é representada pelos benefícios e aposentadorias da previdência e por transferências de recursos federais e estaduais.

Em 92 municípios (41% dos 224) esse percentual ultrapassa 60%. Os cinco municípios mais dependentes são: Santo Antônio dos Milagres (75,9%), Nossa Senhora dos Remédios (71,5%), Campo Largo do Piauí (70,5%), Curralinhos (70,5%) e Fartura do Piauí (69,9%). Do outro lado, os que têm menor dependências da transferência de recursos são: Bom Jesus (19,2%), Teresina (18%), Uruçuí (12,6%) e Guadalupe (10,1%).

Não se trata de reduzir os programas sociais, mas de aumentar a participação dos outros setores para que a dependência de transferências diminua. Com o modelo econômico e de políticas sociais que o novo governo conservador está pretendendo implantar no Brasil, se não dinamizarmos agropecuária, indústria e comércio/serviços, a maioria de nossos municípios entrará num processo de estagnação econômica.

3º) um crescimento muito lento do PIB per capita, sem alterações significativas na posição dos vários municípios ao longo dos anos. Em 2016, o PIB per capita do Piauí foi de R$ 12.890,00 representando 41,66% do PIB per capita nacional de R$ 29.236,00.

Quanto ao PIB per capita dos municípios piauienses, apenas 11 tiverem um PIB per capita acima da média estadual: 1) Guadalupe (R$ 41.553,00); 2) Uruçuí (R$ 36.777,00); 3) Teresina (R$ 22.597,00); 4) Baixa Grande do Ribeiro (R$ 21.051,00) 5); Bom Jesus (R$20.938,00;) 6) Picos (R$ 18.212,00); 7) Floriano (R$ 17.327,00); 8) Ribeiro Gonçalves (R$ 17.232,00); 9) Fronteiras (R$ 16.174,00); 10) Antônio Almeida (R$14.759,00  )  e 11) Santa Filomena (R$14.638,00 ). Parnaíba (R$ 12.787,00) e Currais (12.247,00) ficaram logo abaixo da média. 

Nos anos de 2014 e 2015, Uruçuí e Baixa Grande do Ribeiro disputavam o lugar de maior PIB per capita do Piauí com mais de R$ 40.000,00. Em 2016, Uruçuí manteve-se na 2ª posição e Baixa Grande do Ribeiro caiu para a 4ª; Ribeiro Gonçalves caiu da 3ª para a 8ª; Bom Jesus permaneceu na 5ª posição; Santa Filomena caiu da 4ª para a 11ª e Currais, da 5ª para a 13ª. Em resumo, pela grande quebra na produção de grãos, os municípios do cerrado perderam posições, embora permanecendo entre os maiores PIBs per capita. Guadalupe (geração de energia e produção de banana nos Platôs), Fronteiras (cimento) e Antônio Almeida (calcário) continuam entre os maiores PIBs per capita. E Teresina que ficava na 8ª posição subiu para a 3ª; Floriano e Picos, em 2016, ficaram entre os 10 maiores PIBs per capita.

Do lado oposto, 46 municípios (20%) têm um PIB per capita menor que R$ 6.445,00, ou seja, abaixo de 50% do PIB per capita estadual. 

Ora, o PIB per capita entre com o peso de 33% no cálculo do IDHM; ou estimulamos o empreendedorismo de pequenos, médios e grandes e a participação dos municípios no fomento à produção, ou vários municípios continuarão no nível baixo ou médio do IDHM.


Antonio José Medeiros - Sociólogo, professor aposentado da UFPI

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