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Piauí 2020: IDHM alto. Que "altura" é essa?

O PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) calcula o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de todos os países, anualmente.

02/04/2019 06:14

Em 2017, o país com o IDH mais alto foi a Noruega, com 0,953; o mais baixo foi o Iêmen, com 0,452. O IDH do Brasil foi 0,759 (74ª posição). São 23 países com IDH maior que 0,900 e 35 países com mais de 0,800 – os dois grupos considerados de IDH muito alto (voltarei a este ponto). São 52 países com IDH acima de 0,700 (alto); 38 acima de 0,600 (médio); 37 acima de 0,500 (baixo) e apenas oito países com IDH abaixo de 0,500 (muito baixo).

No Brasil, desde 1990, é calculado também o IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), com resultados para o conjunto do país e para as 27 Unidades da Federação e os 5.565 Municípios. Só é possível fazer esse cálculo detalhado com base em dados coletados nos Censos Demográficos feitos pelo IBGE. Como o Censo é decenal, temos o IDHM apenas a cada dez anos. Temos a série 1991-2000-2010 e só teremos novo resultado em 2020.

A evolução do Brasil foi a seguinte: 0,493 (muito baixo) em 1991; 0,612 (médio), em 2000; 0,727 em 2010 (alto).

E o IDHM do Piauí assim evoluiu: em 1991 – 0,362 (muito baixo); em 2000 – 0,484 (muito baixo, ainda); em 2010 - 0,646 (médio). Deveremos ultrapassar a barreira dos 0,700 em 2020, atingindo portanto o nível alto.

Antes, porém, quero fazer a defesa do IBGE, que também vem sofrendo ameaças do atual governo, com sua visão neoliberal exagerada. O IBGE atingiu um nível de excelência reconhecido pela ONU. Um processo que vem desde o governo FHC e foi fortalecido nos governos Lula e Dilma. Teve um baque com a crise econômica, no governo Temer, o que resultou num Censo Agropecuário incompleto. Agora, que a economia começa a dar sinais de recuperação, embora pequenos e frágeis, a questão é mais ideológica. Somemos força em defesa do IBGE, inclusive de orçamento suficiente para fazer um BOM CENSO Demográfico em 2020.

O IBGE é a “Petrobrás da Administração Moderna”: faz a “extração” de dados primários (brutos) através de suas pesquisas domiciliares, censos e levantamentos de registros administrativos. “Refina” os dados em informações (indicadores, índices, séries históricas). Essas informações “abastecem” os gestores públicos e privados para desenvolverem suas ações com planejamento, monitoramento e avaliação e as universidades e centros de pesquisas para produzirem conhecimento empiricamente fundamentado sobre o Brasil, seus estados e municípios, sobre os vários setores da economia e da sociedade. Isso é racionalidade moderna; isso é iluminismo. Não ao obscurantismo e ao fundamentalismo do mercado!

Mas voltemos ao IDHM alto (0,700) do Piauí em 2020.

O IDH (e também o IDH-M) é um índice que, na prática, varia entre 0,001 e 0,999. Podemos, portanto, dividir essa escala em nove “degraus”: 0,001-0,099 + 0,100-0,199 até 0,800-0,899 + 0,900-0,999.

O problema é a designação de cada nível atingido e o agrupamento deles. E faço essa crítica metodológica ao PNUD. Em primeiro lugar, acho muito grande o grupo considerado “muito baixo” – de 0,001 a 0,499; o intervalo poderia ser em 0,399.

Em segundo lugar, acho inadequado denominar o nível 0,500-0,599 como “baixo”; afinal, 0,500 é o meio da escala. Mais adequado seria chama-lo “médio inferior”, por exemplo.

Em terceiro lugar, acho também inadequado denominar o nível 0,700-0,799 como alto. Esse nível pode até ser satisfatório, mas ainda não é “bom”; os professores sabem disso quando atribuem nota aos alunos. Seria mais adequado chamá-lo de “médio superior”.

Por fim, considerar “muito alto” o nível 0,800-0,899 juntando-o ao nível 0,900-0,999 esconde uma diferença significativa. Se 0,700 se torna “médio superior”, 0,800 seria” alto” e apenas a partir de 0,900 seria “muito alto”.

Sei que as denominações não vão mudar; e não quero fazer confusão. Minha crítica metodológica quer apenas abrir espaço para análises mais qualificadas. E não tem a ver apenas com o Piauí. Essa escala do PNUD é usada para todos os municípios, todos os estados da Federação e todos os países do mundo. Mas, ajuda a entender melhor que “altura” o Piauí vai atingir em 2020. E que já representa um avanço significativo!

A proposta do IDH surgiu da preocupação de superar uma visão economicista que associava o desenvolvimento apenas à renda per capita. Sem deixar de lado essa dimensão, pois a renda tem o peso de 33% no cálculo do índice, foram incorporadas duas outras dimensões: a longevidade e a educação.

Alguns questionam o IDH porque não dá conta da sustentabilidade. É que é difícil definir indicadores que situem os países numa “escala de sustentabilidade”. A questão do clima é global e não se presta a comparação entre países. O indicador do desmatamento não se adequada a todos os países; os mais ricos da Europa, por exemplo, “já desmataram o que tinham de desmatar”. O que é mais facilmente mensurável para todos os países é a emissão de gases poluentes. Mas, mesmo esse indicador puxaria “para cima” países subdesenvolvidos com baixo índice de industrialização. Isso não quer dizer que não exista uma bateria de indicadores que retratem a sustentabilidade; a dificuldade é incluí-los num índice como o IDH que possibilite construir uma escala comparativa entre os países.

Ora, as dimensões longevidade e educação, além da renda, enriquecem o IDH. Na próxima semana analisaremos essas dimensões para o Brasil e para o Piauí. Veremos melhor a que altura chegaremos.

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