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Agricultura piauiense: mais produção e mais produtividade

Antonio José Medeiros - Sociólogo, professor aposentado da UFPI

04/06/2019 07:19

No Piauí, 670 mil pessoas sustentam a nossa agropecuária (Censo 2017), trabalhando em 245 mil unidades produtivas ou estabelecimentos agropecuários; representam 30% da população economicamente ativa do estado. 

Nos últimos anos, a agropecuária tem contribuído com cerca de 7,5% do PIB do estado. Em 2016, último ano divulgado do PIB estadual, a participação caiu para 5%, mas foi sazonal, pois houve estiagem nos cerrados. Temos aqui uma primeira indicação de concentração de renda: 30% da população ativa gera 7,5% da renda.

Mas, há uma grande concentração dentro do setor agropecuário. A grande maioria dos que trabalham, mais precisamente 81%, possuem laço de parentesco com o “dirigente” da unidade produtiva; há portanto um predomínio da agricultura familiar. Por outro, os pequenos estabelecimentos representam 56% do total, ocupando apenas 3,21% das terras utilizadas.

No que se refere ao volume da produção, a soja responde por 59,48% do total (1.988.17 toneladas) e por 41,44% do valor produzido na agropecuária (R$ 2.199.299.000,00), ou 3,0% do PIB; atenção: em apenas 275 estabelecimentos.

O milho, embora produzido em 131.196 (53,4%) estabelecimentos e respondendo por 29,53% da produção (1.439.469 toneladas) e 21,90% do valor produzido (R$ 809.958.000,00), está concentrado em 10 municípios do cerrado.

A cana de açúcar ocupa o 3º lugar em quantidade produzida (829.102 toneladas) e 4º lugar em valor da produção (R$ 809.950 milhões); é produzida em apenas 1.787 estabelecimentos, mas o valor da produção está concentrado em três municípios.

Se comprada ao Brasil, a agropecuária do Piauí, nos últimos dez anos, como mostra a comparação entre os dados dos Censos Agropecuários de 2006 e 2017, está estagnada ou em descenso. E tem tudo a ver com nossa defasagem em relação ao progresso tecnológico do agronegócio (daí o “enclave dos cerrados piauienses”) e da pequena e média agricultura do Sul e Sudeste. Ou apelamos para a tecnologia e aumentamos a produtividade ou vamos continuar atrasados.

Apenas 3.908 (1,59%) estabelecimentos agropecuários declararam que usam calcário ou outros corretivos de solo. Tem aumentado o uso de adubação: 4.430 (1,80%) estabelecimentos usam adubação química e 19.082 adubação orgânica (7,78%), sobretudo por pequenos produtores. Grandes e pequenos usam agrotóxicos contra pragas: 47.474 (19,36%) estabelecimentos. 

De fato, é visível o crescimento da venda de adubos e agrotóxicos, mesmo para pequenos e médios. E a assistência técnica de programas governamentais e comunitários tem incentivado a adubação orgânica, embora com impacto ainda reduzido, menos de 10% das unidades produtivas a praticam.

Aumentou consideravelmente o número de estabelecimentos que dispõem de energia elétrica: 198.917 (80%). É o impacto do Programa Luz para Todos; mas a energia disponível é monofásica, na sua grande maioria.

No Piauí, a irrigação tem avançado lentamente, apesar do Programa de distribuição de kits de irrigação.  São apenas 14.885 unidades produtivas (6%) que praticam a irrigação, somando 32.968 hectares. No Ceará, são 7,5% dos estabelecimentos, mas atingido 222.478 hectares; em Pernambuco são 14%, somando 192.806 hectares; e na Bahia são 12%, totalizando 415.216 hectares.

No Nordeste, com impactos variados, a assistência técnica pública tem incentivado a irrigação; no Piauí, o impacto tem sido muito pequeno. É uma situação diferente do Sul e do Centro-Oeste, onde as iniciativas são mais empresariais, com uso da irrigação em larga escala. No Paraná, apenas 5,4% dos estabelecimentos usam irrigação, mas trabalham 155.782 hectares; e no Mato Grosso, só 4%, mas trabalhando 242.8789 hectares.

O grande diferencial do Piauí em relação ao Nordeste e do Nordeste em relação ao Sul e Sudeste é no uso de equipamentos e implementos agrícolas. 

Desde o Censo Agropecuário de 1975 tem aumentado o número de tratores utilizados no Piauí: 1975 – 370 unidades; 1980 – 1.622; 1985 - 2.057; 1995 – 2.202; 2006 – 3.813 e 2017 – 5.179 unidades. Mas, em 2017, apenas 2.686 estabelecimentos utilizavam trator, ou seja, o ínfimo número de 1,09%. 

Aliás, a agricultura do Nordeste é pobre de investimentos em capital: no Ceará só 1,20% dos estabelecimentos usam 6.326 tratores; em Pernambuco, 1,85% usam 6.326 unidades. Só a Bahia tem um percentual um pouco maior de estabelecimentos com tratores: 3,18%, utilizando 38.538 máquinas.

No Sul, o Paraná usa 166.337 tratores em 34,15% dos estabelecimentos; e no Centro-Oeste, Mato Grosso usa 71.042 tratores em 25% das unidades produtoras.

No Piauí, em 2017, o uso de outros equipamentos é menor ainda: Semeadeiras ou Plantadeiras – 1.272 em 509 estabelecimentos; Colheitadeiras – 718 em 315 estabelecimentos; e Adubadeiras – 718 unidades em 442 estabelecimentos.

Com a palavra as Câmaras Setoriais da agropecuária. É limitado o horizonte que vem sendo adotado: reivindicação de assistência técnica e isenção fiscal. O exemplo das Câmaras Setoriais na Europa e da Câmara do Setor Automobilístico no Brasil tem sido uma grande concertação entre empresários, trabalhadores e governo. Além de incentivos e crédito, foi definido ritmo e metas de expansão, de exportação e a desconcentração espacial. 

Só teremos aumento de produção na Agropecuária Piauiense se articularmos os fatores de produtividade: energia, estradas, adubação, irrigação, uso de tratores e outros implementos. No Brasil de hoje, são muitas as Associações setoriais, como a APROSOJA; os produtores piauienses precisam participar dessas associações, pensando no Piauí.

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