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Seu Sebastião, o vendedor de bombons

O relato do vendedor de balas oscila entre retalhos do passado e o presente moderno urbano

03/06/2015 10:43

PS - Escrevi esta crônica alguns meses atrás, porém nestes últimos dias não tenho visto em sua banca, o inspirador destas linhas, o seu Sebastião. Como não tenho seu endereço e nem telefone estou preocupado com sua ausência, pois há dias não o vejo. Qualquer noticia sobre o paradeiro de seu Sebastião, por favor, informe a este cronista.     

Seu Sebastião é um desses vendedores antigos de Teresina, trabalha na sua banca de bombons, refrigerantes e água no centro da capital, e ali, sob as sombras generosas das árvores instalou o seu negócio, é onde ganha o pão de cada dia, mas como ele mesmo diz, "o dinheiro é quase nada, a banca é apenas para manter a mente ocupada, é a minha distração de aposentado". 

Sebastião saíra de São Miguel do Tapuio, mas vivera em várias cidades quando funcionário do DER e depois empregado da REFSA, o homem que divide as sombras das árvores com as iguanas, que vez por outra lançam seus excrementos pastosos quase ao seus pés, relata com nostalgia o tempo em que trabalhava com a enxada na roça do pai, quando vendia sacas de arroz e feijão na feira mais próxima e quando debulhava milho em pleno sol do meio dia, todas essas andanças e experiências são lembradas pelo o matuto com uma expressão ligeiramente tocada pela a saudade. 

Em seu tamborete de couro coberto por uma almofada surrada, sentado em sua banca de ambulante cotidiano, o tapuiense distribui loas às moças que descem dos ônibus, e ao vê-las descerem tão faceiras, recorda suas aventuras amorosas com as mulheres de ancas avantajadas que dançavam e comemoravam o resultado positivo de mais uma colheita, e com elas se entregava a alegria festeira das matinês de sua pequena cidade. 

"Olha seu moço, tempo bom era aquele", diz ele com os olhos marejados para logo em seguida emendar: 

"Naquele tempo as mulheres tinham respeito pelos os homens, o respeito começava no namoro, passava pelo o noivado, até o casamento, e assim por toda vida. A mulherada de hoje tá tudo solta, por isso é que eu digo, quem tem mulher bonita que esconda do gavião, porque ele tem as unhas compridas e deixa o marido na mão". 

Seu Sebastião é espontâneo, diz tudo isso, assim, de veneta para quem quiser ouvir, quer alertar os desavisados, os incautos contra os perigos que uma mulher bonita pode representar, é seu mantra. A conversa desemboca para o campo da politica, sua verve é apartidária, não acredita em nenhum partido, acha que todo politico é corrupto, interesseiro, um rato, tal qual mulher bonita. 

O relato do vendedor de balas oscila entre retalhos do passado interiorano e um presente moderno urbano, mas se pudesse escolher preferia voltar para sua terra, rever sua gente, morrer por lá mesmo. O sentimento telúrico o fez até comprar um terreno na zona sudeste, um pedacinho de chão, um sitio, que promete plantar as reminiscências do latifúndio deixado para trás. 

Esta semana o caboclo Sebastião viajará, fará uma peregrinação com a esposa pelos os santuários mais famosos do Brasil, irá a Juazeiro, a Canindé, a Catedral de Belém e seguirá até a Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Quer depositar nos pés da mãe de Cristo toda a sua devoção e também suplicar a solução para suas aflições, quanto à banca de bombons é bem taxativo, "sou autônomo reabro quando voltar".    

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