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Crítica: The Handmaid"™s Tale e a figura feminina na 2ª temporada

(ALERTA DE SPOILER!)

22/07/2018 11:36

 A segunda temporada da série The Handmaid’s Tale mantém o excelente nível da primeira, alcançando um feito que não é tão comum na televisão norte-americana. Nessa temporada, finalmente vemos a revolta com o novo sistema gerar algum tipo de reação e acompanhamos a evolução de personagens importantes para o enredo (que são responsáveis pelas melhores cenas!).

Se antes sentíamos uma sensação de sufocamento e repulsa ao observar os constantes estupros contra as Aias, que, mesmo sob constante violência, continuavam presas ao sistema (salvo raras exceções), nessa temporada, essas sensações são acompanhadas por um sentimento de inquietação e angústia com as ações orquestradas pelos resistentes, integrantes do movimento Mayday, que lutam pela derrubada da República de Gilead.

E onde a figura feminina entra nessa história? EM ABSOLUTAMENTE TUDO. Toda a narrativa da série é voltada para a figura feminina e para a (não) submissão das mulheres em uma sociedade governada por homens. Nesta temporada, isso fica ainda mais evidente através do papel de June/Offred, Emily/Ofglen, Serena Joy Waterford e (pasmem!) até mesmo de Rita, a Martha (governanta) da casa dos Waterford.


Fotos: Reprodução

A personalidade das mulheres dá um impulso tremendo durante a construção do arco da história. Até mesmo aquelas que antes se submetiam ao governo de Gilead, de alguma forma passam a tentar subverter o sistema em favor das mulheres. Um dos pontos altos da narrativa é a evolução do personagem de Serena Joy Waterford, uma das principais mentes por trás do golpe que derrubou o governo e que se mantinha em um papel secundário, subordinada ao marido.

Serena é, definitivamente, a personagem com maior evolução nesta temporada. A insistência de Serena por um filho/a é constantemente substituída pela preocupação com o futuro das mulheres dentro do regime. A personagem chega a infringir diversas regras da teonomia, subvertendo os papéis de gênero determinados pelo governo de Gilead. Em alguns momentos, é percebida certa dose de sororidade entre a personagem e Offred, mesmo que ainda tímida.

Emily/Ofglen também evolui dentro da narrativa da segunda temporada. Pela primeira vez somos apresentadas à história da Aia, considerada uma “traidora de gênero” por ser lésbica. Professora universitária, Emily/Ofglen é obrigada a permanecer nos EUA enquanto a mulher e o filho são enviados ao Canadá. A fisionomia tranquila de Emily/Ofglen (um dos pontos fortes da atuação de Alexis Bledel) esconde perfeitamente a insubmissão da ex-professora ao regime. A Aia é um dos papéis que apresentam maiores surpresas nesta temporada e é também a única a reagir ao sistema “na mesma moeda”.

Rita, a Martha da mansão Waterford, também é uma grata surpresa durante a construção do enredo. Durante a primeira temporada, a governanta era uma incógnita para o público, por não deixar explícito o seu posicionamento a respeito do novo governo. No entanto, nessa temporada, Rita finalmente demonstra a insatisfação com o regime e cria laços de afeição com June/Offred, tendo um papel crucial na finalização desse arco.

A personagem de June/Offred continua em ascensão desde o primeiro episódio da primeira temporada. A atuação de Elizabeth Moss é fantástica por vários motivos, entre eles por conseguir dizer muito através da linguagem corporal e facial, especialmente nos momentos de maior tensão. As camadas que compõe a personagem foram construídas milimetricamente durante essa temporada e, além do núcleo que inclui Luke, Moira e Hannah, também somos apresentados à mãe de Offred, uma médica feminista enviada às colônias no início do golpe de Gilead.

Além dessas personagens, outras tantas como Tia Lydia, Janine/Ofwarren e Eden (a esposa de Nick), compõe um núcleo feminino forte responsável pelos principais diálogos e plot twists presentes no roteiro. A construção das personagens é tão crível que muitas vezes nos pegamos nos perguntando se aquela história poderia acontecer na vida real.

A segunda temporada é fantástica por muitos motivos, mas a figura feminina tem um papel de suma importância na forma como a narrativa vai sendo construída ao longo dos 13 episódios. Apesar de ter um roteiro consistente, a história talvez não teria o mesmo impacto se não fosse pelas multidimensões nas quais são construídas as personalidades das principais figuras femininas da série.

The Handmaid’s Tale continua sendo uma boa aposta para quem curte distopias. Para além disso, também é uma ótima história sobre empoderamento feminino, feminismo e a figura da mulher na sociedade atual.

Resumo da série

Para quem ainda não conhece, The Handmaid’s Tale é a nova série queridinha do público e, principalmente, da crítica. A história se passa em um futuro distópico em que um grupo religioso aplica um golpe no governo norte-americano, instaurando um governo totalitário baseado na religião, a República de Gilead.  Baseada no livro homônimo da escritora Margaret Atwood, a série conta a história de June, uma mãe que é separada da filha e do marido, e é obrigada a procriar (estuprada!) para a família de um dos comandantes da República de Gilead.

Após conquistar oito Emmys e dois Globos de Ouro em 2017, a segunda temporada de The Handmaid's Tale repetiu o sucesso da primeira e foi indicada para nada menos do que vinte categorias do Emmy Award 2018, concorrendo com outros seriados de renome como Game of Thrones, produção do canal HBO.


Por: Nathalia Amaral 

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