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Como vencer a falta de vontade?

Autor: Carlos Bernardo González Pecotche - Do Livro: Deficiências e Propensões do Ser Humano.

10/02/2020 11:41

Vontade é a força psíquica que move as energias humanas e põe em atividade as determinações da inteligência para o bem, defesa e superação do indivíduo. A falta de vontade anula essas possibilidades e prostra o ser na indiferença e na inércia, faz sua inteligência fracassar e chega até a perverter sua sensibilidade, porque o expõe a todas as tentações e contingências que o ameaçam. Os movimentos da vontade, pequenos ou grandes, são impulsionados por dois fatores de primordial importância, que se alternam e se substituem de forma temporária ou permanente: a necessidade e o estímulo. A necessidade atua sobre a vontade determinando movimentos quase automáticos, que forçam o ser a realizar mesmo aquelas coisas que ele não quer ou que devia ter feito espontaneamente, por determinação do próprio pensar e sentir; seu principal agente é a premência, que não admite demoras de nenhuma espécie enquanto urge o cumprimento de uma obrigação, de um dever, ou a satis fação de uma exigência inevitável. O estímulo age também sobre a vontade, mas ativa por sua vez a inteligência e o sentimento, despertando o nobre afã de substituir a escassez pela abundância em cada um dos setores da vida em que a vontade desempenha papel preponderante. A vontade se excita e toma brios quando este último fator intervém. Por mais cansada que uma pessoa se sinta ao término de uma jornada, se lhe é oferecida a oportunidade de recrear-se ou distrair-se com algum passatempo favorito, dificilmente deixará de fazê-lo. Isto significa que a perspectiva de passar um momento agradável influi, aqui, diretamente sobre a vontade, ativando-a. Fica assim demonstrado como a vontade se mobiliza, incitada por um estímulo qualquer, o que dá ideia do muito que se pode conseguir quando ela se ativa em virtude de estímulos altamente edificantes, como são os que o conhecimento transcendente proporciona.

Quando o futuro é para o homem uma noite sem estrelas, um suceder monótono onde naufragam todas as suas esperanças, a vontade, carente de estímulos, perde vigor e fica à mercê do acaso. A vida não pode ser, no entanto, o páramo ou a estepe em cujos dilatados confins nós devamos nos perder irremediavelmente. É preciso fazer dela um lugar pleno de encantos, a fim de que nossa alma encontre, em todo o momento e a cada passo, o incentivo necessário para avançar segura e decidida pelos caminhos do mundo. Conhecida a causa determinante da falta de vontade que nos acossa, nada mais lógico e urgente que eliminar essa causa. Se, diante da perspectiva de uma longa viagem, com todo o gosto nos preocupamos em fazer as malas, com maior razão ainda temos de nos preparar para o longo percurso de nossa existência, abastecendo nossa vontade com estímulos capazes de satisfazer integralmente as necessidades da vida diária. Quais são esses estímulos? Certamente variam em cada indivíduo. Aquilo que em uns age incitando à ação, em outros se mostra inoperante. O melhoramento econômico constitui um estímulo para quem o procura, porque sabe que, uma vez alcançado, terá satisfeito uma longa e acalentada aspiração; o mesmo estímulo não tem valor para aquele que já desfruta uma posição folgada ou é indiferente a ela. Existe toda uma escala de estímulos, desde os mais fracos até os de mais alto poder; como, porém, seu valor é relativo, o próprio homem deve aprender a criá-los dentro de si quando não os sinta surgir espontaneamente. O estímulo aflora do propósito, do projeto, iniciativa ou fim que se procura realizar, e sustenta o entusiasmo, que é necessário manter permanentemente durante o prosseguimento da obra. Mas tenha-se em conta que o entusiasmo originado de uma esperança não deve jamais ser inflado pelos excessos da ilusão, capaz de aumentá-la até o ponto de sufocar esse mesmo entusiasmo. Conformarmo-nos com pequenas esperanças, enquanto nos capacitamos para semear de estímulos positivos a área de nossa vida, é conhecer o segredo para que frutifiquem, numa sucessão feliz, esperanças e entusiasmos maiores.

Se já vimos, em muitas circunstâncias da vida, que a vontade atua por pressão da necessidade, por que não exercitá-la por meio de incentivos que substituam esse imperativo e a obriguem a nos servir docilmente e com toda a eficiência? Dar-nos-á alento, por um lado, saber que podemos fazê-lo e, por outro, pensar na satisfação que haveremos de sentir no momento do triunfo, ao colhermos os frutos do esforço. 

A antideficiência que aconselhamos aplicar nos casos de falta de vontade é a decisão. Para que seja efetiva, terá de ser praticada conscientemente, com responsabilidade – como toda antideficiência exige –, sobrepondo-se com empenho à apatia até triunfar no forcejo psicológico. O ser deve demonstrar que é capaz de contrapor à abulia que o domina a decisão de combatê-la. Conseguirá, assim, ter vontade para tudo. Será necessário, em primeiro lugar, querer uma coisa ou querer fazer algo; mas querê-lo com força, para permitir que a antideficiência entre em vigor. O simples fato de pensar que estamos levando à prática uma disposição emanada de nós mesmos, que tem por fim imediato nosso próprio benefício, contribuirá de maneira decisiva e sem maiores tropeços para a conquista daquilo que buscamos.

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