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Cocal dos Alves é um exemplo a ser replicado em toda a rede estadual

O município de Cocal dos Alves (5,6 mil habitantes), distante 294 Km de Teresina, é o grande exemplo da educação piauiense. Nessa localidade percebe-se claramente a integração entre município e estado.

26/12/2018 08:33

À luz do que fizemos em relação às últimas divulgações do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), principal indicador de qualidade da educação pública brasileira, analisaremos os resultados do IDEB 2017, publicado pelo MEC (Ministério da Educação) em setembro último. Concentraremos nossas atenções no ensino médio, visto ser essa a prioridade da administração estadual. 

O fato é que, pela primeira vez na história da educação brasileira, a comunidade escolar tem a oportunidade de compartilhar ideias tendo como ponto de partida uma única informação, de fácil entendimento, concisa e que permite a comparabilidade dos resultados com o passar dos anos. Desde 2005, sucedendo-se a cada biênio, por meio do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), provas de Língua Portuguesa e Matemática são aplicadas aos concluintes do ensino médio, sempre no mês de novembro (final do ano letivo) dos anos ímpares (2005, 2007, 2009 .... 2017). Juntamente com a proficiência obtida nessas avaliações, apura-se a taxa de aprovação, ou seja, a quantidade (expressa na forma percentual) de alunos aprovados vis-à-vis o total de alunos. Dessa forma, conjugando-se essas duas variáveis, SAEB e taxa de aprovação, o IDEB é obtido. Portanto, IDEB = SAEB x taxa de aprovação. 

O SAEB nada mais é do que uma “avaliação diagnóstica em larga escala”, um processo avaliativo, aplicado em escolas de uma rede pública (e privada) de ensino, podendo ser censitário ou amostral (desde a última edição do IDEB, em 2017, todas as escolas são avaliadas), realizado com uma periodicidade predeterminada. A “avaliação diagnóstica” averigua a posição do aluno face às novas aprendizagens que lhe serão propostas, no sentido de antecipar dificuldades futuras e, em certos casos, orientar situações presentes. Ao mesmo tempo, coloca em evidência aspectos fortes e frágeis de cada aluno, o que permite, a partir daí, determinar o modo de ensino mais apropriado e estabelecer metas de aprendizagem a serem alcançadas. Com a avaliação, previne-se a constatação tardia das dificuldades de aprendizagem dos alunos, enquanto pré-requisitos para futuras ações pedagógicas. 

Tão importante quanto realizar avaliações e publicar resultados para a sociedade, a elaboração de uma estratégia que traduza os resultados da avaliação em ações pedagógicas de cunho prático, considerando as condições em sala de aula, pode contribuir de maneira decisiva para a melhora consistente da proficiência dos alunos. Aqui, discentes e docentes podem se beneficiar, na medida em que os professores encontram nas avaliações uma oportunidade para redimensionar a maneira como o processo de ensino e aprendizagem acontece em sala de aula. 

Vale ressaltar que o IDEB não é “nota”, e sim um índice de qualidade que varia de zero a dez, proveniente da multiplicação das duas variáveis citadas. Conforme estabelecido pelo MEC em 2005, as redes públicas de ensino devem perseguir um IDEB igual a 6,0 (seis) para os anos iniciais do ensino fundamental; IDEB igual a 5,5 (cinco e meio) para os anos finais do ensino fundamental; IDEB igual a 5,2 (cinco vírgula dois) para o ensino médio. 

Feita algumas considerações de ordem conceitual, detalharemos o quadro no Piauí referente ao ensino médio, à luz dos dados do IDEB 2017. Trata-se de uma situação extremamente preocupante. O IDEB, hoje em 3,3 (situa-se na 18º colocação, dentre as 27 unidades federativas), encontra-se praticamente estagnado desde 2011. Aqui, em linha com as observações acima delineadas, as proficiências em Língua Portuguesa e Matemática, verificadas por meio do SAEB, estão muito abaixo do mínimo adequado. Esse cenário de inércia, traduzido pela trajetória claudicante do IDEB piauiense, impõe à administração estadual reeleita um desafio inadiável. 

A análise das variáveis parece indicar a capacitação contínua (incluindo um redimensionamento da formação inicial) do corpo docente como fator fulcral de um processo sustentado de recuperação da capacidade pedagógica da rede estadual. Se alvejamos oferecer ao alunado melhores condições de aprendizagem, torna-se imperativo aos professores o pleno domínio dos conteúdos a serem ministrados, bem como a profícua transmissão desses conteúdos aos estudantes. Logicamente outros fatores são importantes como escolas melhor aparelhadas, ar-condicionado nas salas de aula, lousas eletrônicas, salas de informática etc., porém nada substituirá um professor capacitado e motivado. A interação professor-aluno é basilar no desenvolvimento do processo pedagógico, agora complementada pelas recentes contribuições das plataformas (tecnológicas) educacionais. 

Paralelamente, essa ação não pode se restringir ao ensino médio, devendo ser extensiva aos outros ciclos de ensino, notadamente os anos iniciais e finais do ensino fundamental. Definitivamente, as esferas estadual e municipal necessitam atuar em uníssono. Apenas dessa maneira, com alunos advindos do ensino fundamental melhor preparados, o ensino médio poderá lograr êxito nas iniciativas pedagógicas. 

O município de Cocal dos Alves (5,6 mil habitantes), distante 294 Km de Teresina, é o grande exemplo da educação piauiense. Nessa localidade percebe-se claramente a integração entre município e estado. A escola estadual Augustinho Brandão, juntamente com as escolas municipais (encarregadas da oferta do ensino fundamental, aliás como determina a legislação), atuam em estreita cooperação, ocasionando um fato digno de menção. A Escola Augustinho Brandão obteve a maior pontuação no SAEB (tanto em Língua Portuguesa como em Matemática), dentre as 251 escolas públicas piauienses que ofertam o ensino médio, avaliadas na edição do IDEB 2017. 

Porém, o “segredo” de Cocal dos Alves não se concentra apenas no Ensino Médio. Trata-se do único município no Piauí que consegue, simultaneamente, bons níveis de proficiência em todos os ciclos do ensino básico, desde os anos iniciais do ensino fundamental até o final do ensino médio. A “fórmula mágica” dessa conquista converge para a capacitação contínua dos professores, amparada no engajamento da sociedade local, cujo apogeu ocorreu entre 2012 e 2016. 

Adicionalmente, os recursos recebidos pela rede pública cocalalvense não diferem das demais localidades piauienses. O que se observa, nesse caso, nos remete a um genuíno compromisso dos professores com o processo de ensino e aprendizagem, apoiados por uma Secretaria de Educação comprometida e solidária. Interessante que até dezembro/2016, a Secretária Municipal de Educação (Sra. Kuerly Brito) desempenhava funções de “Secretária de Educação” e “docente” concomitantemente. Talvez esteja aí a força motriz desse lindo processo de implementação de um ciclo de melhoria contínua, tendo como pano de fundo um município com parcos recursos, não obstante uma legítima ambição de transformação social através da oferta de uma educação de qualidade. 

Para o próximo Secretário Estadual de Educação, que será empossado em 01/01/2019, ficam aqui as sugestões acima esmiuçadas. A chave para uma gestão educacional efetiva guarda relação umbilical com a capacitação dos professores, de maneira a dotá-los com ferramentas pedagógicas que façam a diferença em sala de aula, dinamizando o aprendizado e estabelecendo a necessária confiança entre docente e aluno. Políticas públicas educacionais gestadas a partir desses pilares têm se mostrado exitosas, não só no Brasil como também em experiências internacionais. É o que mostraremos no próximo artigo.

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