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Paixões à luz do dia ou velhas paixões proibidas...*

Há um olhar que desnuda, que não hesita em afirmar que existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade. Este olhar é o da alma. (Nilton Bonder, 1998)

13/06/2019 12:19

Maria das Graças Targino**

A cada ano, no dia 12 de junho, eis um rebuliço maior em restaurantes, lojas, casas, motéis e alcovas. Alguns vivenciam o romantismo que nunca lhes abandonou, com mais força, como se possível fora. Outros retomam a fantasia, nem que seja por um dia. Há quem se negue a sucumbir ao apelo comercial do Dia dos Namorados. Circulam flores, bilhetes de amor, caixas de chocolate, mensagens carinhosas via WhatsApp ou declarações públicas no facebook ou fotos luminosas no instagram, e, quem sabe, para os mais afortunados financeiramente, joias, relógios e até um belo carro. Tudo vale para lembrar que sempre é época de brindar ao amor. Paixões à luz do dia ou velhas paixões proibidas. Amores eternos ou amores passageiros, transitórios e efêmeros, mas não necessariamente insignificantes... 

E o que dizer dos que não se importam com a data porque não têm a quem amar? Dentre eles, há os que ridicularizam as comemorações. Alegam que se trata de puro comércio e ponto final... Invenção ultrapassada e brega. Coraçõezinhos em gestos, papel, papelão, alumínio, não importa, tudo muito cafona. Bilhetinhos, sempre inúteis. Irão para o cesto de lixo e ponto final... Do outro lado, há trabalho, viagens, dinheiro e sucesso. Isto, sim, combina com a rotina do século XXI, que cobra, principalmente das mulheres, além de inteligência brilhante e bagagem cultural sempre à prova, beleza, esbelteza, eficiência no trato das funções que a vida lhe impõe, dentre as quais podem estar a maternidade, o voluntariado, o exercício de um hobby, um pet, a academia de ginástica, as sessões de terapia (e, agora, de hipnose), o comparecimento sistemático a reuniões sociais que rendam notícias no jornal de amanhã. 

Nesse intervalo, eis que alguém recebe a seu lado um buquê de rosas vermelhas. A curiosidade dá voltas e meias-voltas: quem será que ainda manda flores? Meio cômico, sobretudo, quando as rosas exalam cheiro de amor e encantamento no ambiente imaculado do trabalho. Pessoas assim jamais confessarão que choram num pranto silencioso os amores não vividos, os sonhos não realizados, as fantasias não alcançadas, até porque duvidam de quem diz: “enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança.” Não admitem jamais que dariam seu reino por uma única rosa vermelha. E ponto final...

Mas, dentre os não têm a quem amar, há os que exaltam o amor, como eu. Destino, mistérios e fantasmas que teimam em aparecer e desaparecer. É a certeza de que o dia 12 de junho é tão somente mais um dia no calendário cinza do ano que voa. É apenas mais um dia e ponto final... Falta a mim e a você o dia a dia que fortalece a cumplicidade, a conversa na intimidade do lar, a música no ar, um presente, um anel que legitime nosso bem-querer que há muito se foi. Mas sempre é tempo de lembrar os risos soltos, os abraços apertados, os beijos molhados ao Sol ou ao luar, os corpos desnudos. E ponto final...

*Texto do livro recém-lançado “Amar, viver, escrever”

**Maria das Graças TARGINO é jornalista e pós-doutora em jornalismo pela Universidad de Salamanca / Instituto de Iberoamérica.

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