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O adeus aos cubanos

O "œPrograma Mais Médicos" foi mais um golpe contra o povo brasileiro

30/11/2018 12:46

Pouco a pouco, vem à tona o que quase toda a população brasileira já sabia desde sempre: o “Programa Mais Médicos”, inserido em território nacional no dia 8 de julho de 2013, no Governo Dilma Rousseff ou no de Luís Inácio Lula da Silva (dá igual), em sua essência, foi mais um golpe contra o povo brasileiro e uma forma escusa de ajudar uma ditadura algoz. Não vamos discutir números! Vamos discutir a essência: proclama-se mundo afora a excelência da educação e da saúde cubana a partir de publicidade e propaganda desde o início do poderio dos irmãos Fidel e prossegue até hoje por meio do mandatário-fantoche, o civil Miguel Díaz-Canel, à frente da Assembleia Nacional do Poder Popular da República de Cuba, desde 19 de abril de 2018.

Para se descobrir a excelência da educação cubana, a princípio, basta se matricular em curso de espanhol a preço de ouro voltado para estrangeiros e descobrir que os pobres docentes apagam a lousa (nosso quadro-negro) com as mãos e estão sempre atrasados ou bem adiantados, por conta da irregularidade dos transportes públicos. Também vale visitar o chamado Museo de la Alfabetización (capital Havana), antes Comissão Nacional de Alfabetização, onde estão as “provas contundentes” do fim do analfabetismo, quando a cada escolarizado cabia escrever uma carta ao El Comandante, hoje, devidamente arquivada. E só.... Instituído no dia 29 de dezembro de 1964, o Museu ocupa parte do complexo militar (Ciudad Libertad), ponto de encontro das Brigadas Conrado Benítez, após a Revolução Cubana. Esta, como movimento armado e sob a liderança de Fidel Castro, conseguiu destituir Fulgencio Batista de Cuba, em 1959, com flagrante apoio soviético visando alinhar a Ilha ao chamado bloco socialista. Num terceiro momento, visita às bibliotecas, às livrarias fantasmas e aos laboratórios de tecnologias para acesso ao alunado (em qualquer nível) complementa a visão de excelência ou decadência da educação no país.

Quanto ao quesito saúde, é possível que a formação prime pela excelência. Porém, e é muito lógico que isto seja sussurrado a pessoas de extrema confiança, de pouco vale a graduação esmerada, se tudo ou quase tudo, na rede hospitalar, está roto. Cuba não é um país em dificuldades. Por detrás do retrato vendido ao turista, há uma nação sofrida e plena de contradições. Apesar da beleza estonteante de seu território, com Varadero, Trinidad, Cienfuegos, Cayo Largo do Sul, Santiago de Cuba, Havana com seu El Malecón e sua Habana Vieja (tombada, como Trinidad, como Patrimônio da Humanidade), e seus poucos hotéis de luxo, como o Hotel Nacional, há um país literalmente roto (quebrado), para usar uma das palavras que muito cedo aprendi. Tudo está roto: telefones públicos; o serviço de abastecimento de água e luz; o sistema de transporte público; as companhias de aviação e até mesmo o que se pensa que Cuba tem de melhor: educação e saúde. 

Os médicos que estão indo de volta a Cuba, chegados ao Brasil mais ou menos em 2015, seguem com coração partido. Foram eles vitais às coletividades mais carentes e mais longínquas de nosso território, incluindo aldeias ribeirinhas e indígenas, como Macuxi, Ingaricó, Wapixana e Yanomami, dentre muitas outras, que até então nunca haviam contado com assistência médica, de tal forma que deixam por aqui muitas pessoas desnorteadas. Os cubanos são naturalmente generosos, salvo exceções. Afinal, precisam enfrentar, no dia a dia, a miséria que ronda sua gente, a exemplo dos velhos. Estão sempre nas ruas ou entradas das casas ou, ainda, nas sacadas dos prédios. Os primeiros vendem de tudo para sobreviver: guloseimas, jornais, cigarros, cafezinho fraco e requentado... Os que estão nas sacadas já não conseguem descer as escadas íngremes e permanecem a olhar a vida que se vai... Às vezes, seu ponto de contato com o mundo é o jaba, saco que fazem descer por uma corda para receber ou enviar coisas variadas. 

Enquanto, paradoxalmente, a expectativa de vida do povo cubano cresce para 77,5 anos (no caso da mulher) e 73,5, para os homens, a renda mensal média dessa parcela populacional é em torno de oito dólares e as condições de vida deploráveis. Não sei exatamente o salário de um médico, mas comprovo, ao longo dos seis períodos onde lá estive, que um professor universitário com cargo de chefia recebe menos de 20 dólares em meio ao conformismo de que há o auxílio da libreta. Com o mísero salário mensal, a cada família é possível comprar o mínimo do mínimo, como arroz, açúcar, feijão, sabão, sal, café, fósforo, azeite e algumas coisinhas mais. Tive acesso à libreta: para duas mulheres, um dentifrício, três meses; um pacote de absorventes higiênicos, quatro meses; um pacote de sal, quatro meses e por aí vai. 

Por tudo isto, é óbvio que todos estavam contentes por estar aqui. A Organização Pan-Americana da Saúde, na condição de organização internacional especializada em saúde, surpreendentemente, se permitiu intermediar o não intermediável – a entrega de 70% dos salários dos médicos cubanos que aqui estavam aos ditadores. Mesmo assim, os doutores estavam em júbilo pela oportunidade ímpar de vivência profissional, de manter moradia e alimentação dignas, advindas de municípios e distritos indígenas além de lanches fartos e atenção humana... Ao embarcarem de volta, sorrisos mesclados com infinita tristeza deixam à mostra o orgulho de carregar tevês e mil outros merecidos presentes para filhotes e parceiros. 

O incrível! Ainda há quem sustente, a exemplo da própria OPAS, que não havia proibição explícita de os cubanos trazerem consigo qualquer membro familiar! E mais, há quem creia que, em países pobres (não é caso do Brasil!), onde há médicos cubanos, tudo é custeado pelo Governo cubano, como em Nepal, Angola, Haiti e Congo. Está chegando o Natal! Vale a pena redobrar a crença em Papai Noel! 

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