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Eleições: falcatruas e futricas

Resultado do segundo turno prenuncia uma carranca assustadora e disforme

26/10/2018 19:42

O domingo – dia 28 de outubro – prenuncia uma carranca assustadora e disforme que, decerto, cercará o resultado do turno decisivo da eleição presidencial em território nacional, qualquer que seja o próximo inquilino do Palácio da Alvorada, às margens do lago Paranoá, e residência oficial do Presidente da República Federativa do Brasil. No Palácio do Planalto, Jair Messias Bolsonaro, militar da reserva e político do Partido Social Liberal (PSL) ou Fernando Haddad, advogado e político do Partido dos Trabalhadores (PT), ocupará o Gabinete Presidencial para despachos e decisões que afetarão a vida do povo brasileiro, ao que tudo indica, a partir de 15 de janeiro de 2019. 

No entanto, por mais que se diga, aqui e acolá, que o pleito já está decidido a favor do “miliciano” (em tom pejorativo) e em oposição ao “professor universitário” (em tom elogioso) – termos inseridos na mídia, nos horários eleitorais, ao longo destes últimos dias – há dois fatos irredutíveis ou indiscutíveis.  Distante de qualquer retórica, o primeiro deles diz respeito ao ineditismo dessas eleições. Agressividades, mentiras (agora chamadas glamourosamente de fake news), ataques pessoais e posturas aéticas fazem parte, há muito tempo, da política partidária mundo afora. 

No caso nacional, basta rememorar as últimas eleições, a partir da que traz o economista Fernando Affonso Collor de Mello ao poder, à época como filiado do Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Sua posse se dá em 1990 e se encerra, por sua renúncia para fugir do impeachment, em 1992. Seguem dois outros pleitos. Estes transformam o sociólogo, cientista político, escritor e professor universitário consagrado, Fernando Henrique Cardoso, Presidente do país, entre 1995 e 2003, na condição de representante do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Adiante, é a vez do PT. Chega ao Planalto o ex-sindicalista e ex-metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva (2003-2011) e, então, sua sucessora, a economista e também petista Dilma Vana Rousseff, que permanece no poder em seu primeiro mandato desde 2011 e após novas eleições, sofre impeachment, ano 2016. 

Nessas sete eleições, muita disputa, muita acusação, muita agressão. A diferença, é que esta, ano 2018, consegue estabelecer um profundo fosso que distancia a população, os grupos de amigos e até as famílias. O desrespeito ao perguntar com insistência em quem o amigo vai votar (se é que vai votar) causa aborrecimentos, incompreensões e outras coisinhas mais. Ou seja, os desentendimentos extrapolam os partidos. Os conchavos rodeados de acordos desrespeitosos atingem em cheio as pessoas na esfera individual e social, como nunca até então ocorrera. 

O segundo fato singular é o tom hostil, deselegante e ofensivo das duas partes. Por exemplo, uma acusa a outra com dedo em riste por disseminação de fake news, ao tempo em que também o faz em profusão ao ponto de levar Rosa Weber, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a insistir que inexistem milagres contra ações difamatórias que ocorrem de forma galopante nas redes sociais. Mas insiste: a Corte investigará quaisquer acusações de fraude contra o processo eleitoral, não importa se envolvam Bolsonaro ou Haddad. Afinal, o anonimato e o não aprofundamento das informações e dos conhecimentos, no espaço virtual, estão banalizando os valores culturais do ser humano, mediante a desinformação que se espalha a passos de gigante, reafirmando o ex-primeiro-ministro britânico James Callaghan, para quem “uma mentira pode dar a volta ao mundo antes que a verdade tenha a chance de calçar as botas.” 

Por fim, resta-nos, como cidadãos, muito pouco, e, ao mesmo tempo, muito a ser feito. Manter a compostura e o respeito ao vizinho. Lembrar que está em jogo nossas próprias vidas. O povo brasileiro não suporta mais tanta aflição e a situação verdadeiramente caótica que atinge setores primordiais, como saúde, saneamento, educação e, sobretudo, segurança pública. É zelar para que o fim da corrupção, de fato, aconteça, e que nossa gente possa viver em paz e sustentar uma qualidade de vida digna, acima de falcatruas e futricas. Basta!

Edição: Adriana Magalhães
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