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The Nick Adams Stories, de Ernest Hemingway

No livro, o escritor consegue revelar dados de sua personalidade de uma forma muito mais forte que em qualquer outra obra

28/09/2015 09:29

Fui apresentada a Hemingway quando eu ainda tinha 12 anos de idade. Minha primeira experiência de leitura de um dos autores mais consagrados, não apenas da literatura norte-americana, mas mundial, foi com o clássico “O sol também se levanta”. Lembro ainda hoje da capa do livro, dura, vermelha, da editora Civilização Brasileira, que detinha os direitos de copyright em língua portuguesa até então, do ano de 1972 e que me fora emprestado por uma grande amiga. Li rapidamente e fiquei encantada com toda a história das touradas e, como tudo do Hemingway, extremamente autobiográfico. Daí, o norte-americano Ernest Hemingway não saiu mais nem da minha vida nem das minhas leituras. Mas o engraçado é que li de tudo, mas nunca tinha visto, muito menos lido, “The Nick Adams Stories”, que no Brasil recebe o nome de “Os Contos de Nick Adams”. Aos 28 anos e muitos livros depois, sou finalmente apresentada a este que é um dos maiores representantes da geração perdida, composta por nomes, além dele, Erza Pound, Scott Fitzgerald e Sherwood Anderson, dentre muitos. Uma feliz surpresa ter a leitura dessa obra como assunto de uma de minhas disciplinas do doutorado, Gênero e Sexualidade.

O livro é uma reunião de contos escritos por Hemingway falando da vida de um jovem chamado Nick Adams, que todos reconhecem como sendo o próprio autor. Foram contos escritos entre 1920 e 1930, mas que só foram publicados em 1972, após a morte de Hemingway. A relação com o pai, os desafios na adolescência, a participação na guerra, tudo que marcou a vida de Ernest Hemingway se faz presente nas estórias de Nick Adams. Outra particularidade do livro é que os textos foram escritos fora da ordem cronológica em que aparecem na publicação, tendo sido alguns deles apresentados em outras obras do autor e outros inéditos. São 24 contos divididos em cinco partes, organizadas de acordo com a época de vida de Nick Adams, alter ego de Hemingway, e revelam muitas experiências vividas por ele, como seus amores e toda a passagem da infância à adolescência e à vida adulta.

O biógrafo de Hemingway, Stewart Sanderson, diz que, nos contos que formam este livro, o escritor consegue revelar dados de sua personalidade de uma forma muito mais forte que em qualquer outra obra. Hemingway sempre mantém em suas estórias, mesmo ficcionais,  uma característica de levar o que pessoalmente viu e sentiu durante experiências de vida. Sanderson diz que “mais do que muitos outros autores, (Hemingway) retrata apenas aquilo que, pessoalmente, sentiu, viu e conheceu. A sua imaginação está firmemente ligada a sua experiência.” “Os Contos de Nick Adams” é um representante do gênero bildungsroman, que surgiu na Alemanha no século XVIII, e quer dizer romance de formação, isto é, o personagem amadurece por meio da realidade vivida e suas histórias são retratadas desde a infância. Mesmo as histórias tendo sido escritas em épocas distintas, Philip Young compilou e organizou cada uma delas de forma cronológica, mostrando esse crescimento e o amadurecimento do personagem-autor (Nick Adams-Hemingway) desde a infância, passando pela adolescência chegando à vida adulta. Dentre os 24 contos, alguns merecem destaque, tais como: “The Killers” (Os Matadores, em português), “The Battler”, “Ten Indians”, “Summer People” e “Wedding Day”. 


Por: Eulália Teixeira

Revisão: Ceiça Souza

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