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Sangue no Olho, de Lina Meruane

Por Lara Matos

16/06/2015 14:31

O livro que vou indicar me pegou de surpresa. Eu estava procurando o que chamo de “leitura acessória”, um segundo livro mais light para acompanhar uma leitura mais intricada, e caí em Sangue no Olho, da Lina Meruane, lançado aqui no Brasil pela Cosac Naify. O primeiro livro, se ficaram curiosos, era Bastard Out of Carolina, de Dorothy Allison: acho que ele nunca foi lançado em português ou se foi a edição é muito antiga. Tô até pensando em traduzir e transformar num .EPUB porque merece muito ser lido também, mas ele é assunto pra outra resenha.

Qual foi minha surpresa ao me pegar rindo, chorando, pensando, sentindo o que Lina sentia ao enfrentar sua cegueira progressiva? Lina deixando de ser ela mesma e devendo lidar com isso, recebendo a ajuda de médicos, amigos e familiares reocupados, mas mesmo assim, sozinha. E com a profissão que escolheu, a escrita: escrever exige muito da visão. A personagem está perdida nessas indagações sobre o que será quando Raquel fala por telefone: não precisa ver para escrever. O livro interrompido pela cegueira estava morto, mas ela pode começar a escrever outro com a única coisa indispensável à escrita: Lina deveria começar a escrever um novo livro em sua cabeça.

Em outros momentos, fui Ignacio, companheiro de Lina, pois tenho na família uma pessoa que também pode ter complicações de diabetes mellitus. E esse temor acompanhado da beleza dos momentos que Ignacio pede a proteção de Lina não para rivalizar com sua doença, mas para lembrá-la de que ela também é forte e capaz de oferecer conforto me levou às lágrimas.

 “Exagerava seus males ou os inventava para não falar dos nossos.”

Ignacio temendo que Lina vá embora quando se recuperar; também é um ponto lindo do livro: o que para Lina é um “se”, para um Ignacio de fé sofrida e vacilante é “quando” ou “jamais”. Ao final do livro, as coisas todas degeneram, e o visual gráfico acompanha com páginas que escurecem de acordo com o escurecimento da visão de Lina.

“Um olho não é um coração. Não é nem meio coração. É muito menos, acrescentou, por isso temos dois.”

E coração é o que não falta a este livro, que é curtinho, mas que me deu uma boa aula sobre humanidade, limites pessoais e acima de tudo, sobre o amor de pequenos gestos e sacrifícios.


Lara Matos

Estudante de direito, do signo de sagitário com ascendente em aquário, lua em virgem e meio-de-céu em escorpião (adoro astrologia).Mantenho uma página no Facebook com o que eu escrevo: http://on.fb.me/1Gc3ocJ

Seja legal comigo ou vai virar o personagem mais chato de um dos meus romances. =P

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