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Um país doente

Na semana passada, publiquei, na minha página do Facebook, um comentário bobo e um tanto óbvio. Ei-lo:

26/10/2019 08:29

Dia desses, o discreto Milton Nascimento não se conteve e desabafou: " A música brasileira está uma merda". Até onde sei, ninguém o desmentiu. Mas se a MPB vai mal, os "breganejos" estão, literalmente, voando alto. Um deles, Gustavo Lima, acaba de comprar um jatinho americano pela bagatela de 48 milhões de reais. Segundo li, o cantor cobra até 700 mil por um show.

Como só penso bobagens, comecei a especular. Tom Jobim, até onde sei, não tinha um teco-teco. Luiz Gonzaga não precisava de ônibus especial para transportar sua banda, um zabumbeiro e um "triangueiro". Dominguinhos não tinha nem motorista: percorria o país inteiro dirigindo o seu velho Monza. E faziam MÚSICA.

João Cláudio Moreno tem razão: o Brasil piorou em tudo.

Para minha surpresa, choveram comentários. Alguns patéticos, uns pouco engraçados e muitos agressivos, até mesmo desrespeitosos. Um dos “amigos” afirmou: “Se vc não está gostando do Brasil, pegue um avião e vá embora. Ninguém nem notará a sua ausência”. Num átimo, o cidadão ressuscitou  slogan  “Brasil: ame-o ou deixe-o”, do período mais tenebroso da ditadura militar. Seguramente, o infeliz que escreveu isso nem era nascido quando a noite desceu sobre o país.  Um outro, sem nenhuma sutileza, afirmou: “vc deve estar com saudades dos corruptos do PT”. Pensei em passar uma descompostura nos dois, mas me dei conta de que seria inútil: estão prenhes da baba raivosa que empesta o país.

Na década de 1930, o sociólogo Sérgio Buarque afirmou que o brasileiro é um homem “cordial”, ou seja, que usa mais o coração do que a razão, um ser emotivo, impulsivo, etc.  Hoje, o  filho dele, Chico Buarque, vítima das agressões mais torpes, poderia afirmar: o brasileiro tornou-se um homem bilioso e, consequentemente, belicoso. Vive permanentemente armado, pronto para a briga. O “tempo da delicadeza”, de que fala numa de suas belas composições, volatizou-se...

De repente, numa país mestiço como o nosso, tudo se reduziu a preto e branco. Não há mais lugar para nuances, para matizes. O país está dividido entre “corruptos” e “fascistas” que, em nome de suas crenças, negam até o direito de o outro existir.

A pior parte: esta cegueira “ideológica” afeta todos os setores da vida do país, da política à cultura. Não se poupa ninguém, nem mesmo uma figura da estatura de Fernanda Monte Negro. A regra é simples e primária: “ou está comigo ou está contra mim” Confesso, um tantinho envergonhado, que estou com medo do Brasil, com muito medo.     

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