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Confesso que, hoje, não tenho o menor tesão por escrever nada

E não se trata do tal "œfastio literário" que, acidentalmente, acomete os escritores.

09/12/2019 11:03

Pelos pêlos

Confesso, sem nenhum constrangimento, que, hoje, não tenho o menor tesão por escrever nada, menos ainda croniquinhas insossas. Não se trata do tal “fastio literário” que, acidentalmente, acomete os escritores. Estou desencantado, desalentado, enojado com  o que está acontecendo nesse ajuntamento a que chamamos Brasil. Antes que algum engraçadinho me pergunte: “Por que não vai embora?”. Por duas razões básicas: como não sou corrupto, não tenho dinheiro em nenhum banco do exterior. Não bastasse isso, já não tenho idade para começar nada. Mas bem que gostaria de entocar-me em Cafarnaum até que o ar por aqui se torne respirável.

É certo que o Brasil, ao longo de sua errática trajetória republicana, tem sido pródigo em eleger presidentes ruins. Já tivemos bêbados populistas, generais bisonhos ou truculentos e corruptos de todos os matizes ideológicos. Tivemos até uma “mulher sapiens”... Agora, finalmente, temos um estorvo.

A parte mais dolorosa: o estorvo foi eleito pelo voto de mais de 50 milhões de brasileiros. Tem, portanto, legitimidade constitucional, digamos. Não caiu do céu; foi gerado e ungido pela maioria dos brasileiros. Nele, convive o que há de pior num governante: ignorância, incompetência, truculência, arrogância e vaidade. “Deus não escolhe os melhores; faz melhores os que escolhe”, afirma sem nenhum pudor. Governa sustentado pelo tripé: bala, boi, Bíblia.

Não bastasse sua ruindade pessoal, acercou-se do que há de pior no país. Os três filhos dizem impropérios com a mais absoluta desenvoltura. Um deles ameaça fechar o STF com um jipe, um cabo e dois soldados. O ministério é, na verdade, um ninho de serpentes. Se o “superministro” propõe licença para matar os “indesejáveis”, o que cuida da economia ameaça-nos com a ressurreição do AI-5. No segundo escalão, o diretor da FUNARTE, além de defender a quadratura da Terra, condena a música “comunista e satânica” do Beatles. Na presidência da Fundação Palmares, um negro de alma furta-cor, afirma que a escravidão “fez bem” aos afrodescendentes brasileiros: “estão melhores que negros que ficaram na África”. Não fosse a ração de circo que o Flamengo nos propicia semanalmente, estaríamos todos mergulhados no banzo.

Não faltará algum cretino para afirmar que estou com “saudade dos corruptos do PT”. Quem me conhece sabe que nunca furtei nem manga em quintal de vizinho, quando criança. Sempre vivi (e ainda vivo) do meu trabalho. Gastei a vida lidando com o que há de mais nobre e mais belo no país: a cultura. Além disso, não me incluo entre as viúvas do ex-presidente Lula. Desencantando e muito triste, só espero viver o bastante para ver o fim deste pesadelo tenebroso. Chega!

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