HARDI FILHO - Poeta
Biografia:
Por
Francisco
Miguel
de Moura*
HARDI FILHO é o nome literário de Francisco Hardi Filho, nascido em
Fortaleza, Estado do Ceará, no dia 5 de julho de 1934. Veio para o Piauí
já funcionário público federal (IBAMA) e aqui fundou raízes
sentimentais e familiares. Não há hoje ninguém mais integrado ao Piauí
do que Hardi Filho, a quem a Assembléia Legislativa, num ato de
justíssimo reconhecimento, concedeu o título de cidadania piauiense.
Começou parnasiano-simbolista com “Cinzas e Orvalhos”, editado em 1964 –
livro premiado pela Prefeitura Municipal de Teresina (1963), quando a
comissão julgadora composta por três ilustres membros da Academia
Piauiense de Letras (Fontes Ibiapina, Mário José Batista e Júlio Martins
Vieira), assim expressa, em seu parecer final: “O poeta canta, em
CINZAS E ORVALHOS, com uma linguagem meridianamente simbólica, clássica,
por vezes pessimista. Mas o sabor artístico, tão atual quanto
sugestivo, prende o leitor em meditações profundas. Sabe, com adequação
de termos, concatenar pensamentos em versos rimados, metrificados e
cadenciados sem suscetibilizar a viga mestra das correntes e escolas
atuais. É um verdadeiro artista na expressão da palavra. Chega a fundir
pensamentos contrários e antagônicos, como premissas, para chegar à
conclusão dum silogismo perfeito, como seja: “Santa mulher, diabólica
figura! / Tempestade da minha primavera! / Noites e dias cheios de
ventura / Porque ela em tudo está presente e impera”. Espontaneidade da
expressão, técnica do verso, acuidade do pensar e equilíbrio do sentir,
eis a qualidades mais referidas pelos acadêmicos.
Inicialmente filiado à corrente simbolista, na qual o Piauí tem em Celso
Pinheiro seu representante maior, Hardi Filho evoluiria para a poesia
moderna, especialmente depois da fundação do CLIP – Círculo Literário
Piauiense (de cuja entidade foi o Secretário Geral) – e a convivência
com os seus poetas e companheiros de luta. Hoje faz poemas genuinamente
modernos, com a mesma qualidade dos grandes poetas, sem, no entanto,
abandonar o soneto, em cuja espécie é o nosso represente maior, ainda
vivo. E continua na luta para que a poesia, o fogo da arte, não morra,
pelo contrário, seja transferido, e cada vez mais forte, às novas
gerações.
Membro ilustre da Academia Piauiense de Letras, ocupando a cadeira nº.
21, justo aquela que teve como seu primeiro ocupante o poeta da Costa e
Silva. Pertencente à União Brasileira dos Escritores do Piauí, em cuja
entidade foi Secretário, gestão do poeta Francisco Miguel de Moura,
Hardi Filho foi também Secretário Executivo do Projeto Petrônio Portela,
órgão da Fundação Cultural do Piauí, e Chefe de Gabinete da referida
Fundação.
Jornalista profissional, embora tenha pouco atuado na imprensa do Piauí,
sem, no entanto, dispensar-se de grande colaboração em artigos e
crônicas, algumas destas reunidas em livro que espera publicação.
Poeta nobre, mesmo quando se submete a temas populares. Sua dicção é de
uma dignidade que não se encontra facilmente na literatura brasileira.
Poucos poetas se lhe igualam. Nada surpreendente, pois, encontrar nele
próprio esta premonição em “Teoria do Simples”, 1986: “O privilégio do
verso me esperava”.
Obras publicadas:
Cinzas e Orvalhos (1964), Gruta Iluminada (1970), De Desencanto e de
Amor (1983), Teoria do Simples (1986), Suicídio do Tempo (1991)
(Cantovia (1993), Estação 14 (1997), Veneno das Horas (2000), O Dedo do
Homem – prosa/memória (2000), O Sonho dos Deuses e os Dias Errantes
(2001), Tempo Nuvem (2004), Poemas da Mesma Fonte - Adélia (2006) e
Tempo Contra Tempo – Sonetos em parceria com Francisco Miguel de Moura
(2007). Além da poesia, publicou dois títulos de crítica: Poesia e Dor
no Simbolismo de Celso Pinheiro (1887) e Oliveira Neto, Poeta do Amor e
da Alegria (1993).
ARTISTA
somente em comunhão com a fantasia,
eu fui o artista que criou miragens
para conforto de ânsias infinitas.
formas de vida pelo sentimento;
o gênio louco que ideou amores
para sustento, amparo da esperança.
fui tradutor das emoções do mundo
e desenhista da volúpia eterna.
fui satanás sedento de domínio,
fui deus criando e alimentando sonhos!
de dois gumes o carma da pessoa;
da anônima ou da que se destaca,
da que vai certa, da que segue à-toa,
no rio-vida, onde não há atraca –
só o barulho vento-e-água ecoa
na correnteza forte, média ou fraca.
do fim da via também já ressoa...
Então, se às vezes nosso corpo empaca,
Nestes é armar e desarmar barraca,
cair e levantar-se numa boa!
cair sobre minha alma sonhadora,
aniquilando os sonhos cor-de-rosa,
tornando mudo o que sonante fora...
Eu falo a ti, o sílfide formosa!
Tu, que és minha paixão imorredoura,
que és minha crença edênica, ardorosa:
caverna onde se acabem, uma a uma,
as minhas tristes células paradas.
lance seus raios pela relva fria
e aqueça as minhas cinzas orvalhadas.
riem do pobre
e lhe pesam no vazio do estômago
esbofeteiam
a face do menino pálido
da ingênua espera:
aberta mão ao desviado prêmio.
morre o menino
de alma e coração imáculos
domina o mundo
É torturante a dor sem número.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta da geração 60 (membro do Circulo Literário Piauiense – CLIP, como o poeta Hardi Filho), preparou esta biografia do colega clipíano, com base na bibliografia do Autor e apoio nas seguintes obras: – “Dicionário Biográfico de Escritores Piauienses de Todos os Tempos”, 1995, de Adrião Neto; “Literatura Piauiense”, 2003, de Luiz Romero Lima; “Antologia dos Poetas Piauienses”, 2006, de Wilson Carvalho Gonçalves; e “Literatura do Piauí”, 2001, de Francisco Miguel de Moura.
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Fonte: Blog Cirandinha, de Chico Miguel