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Trump retira os E.U.A do Acordo de Paris

Confira o texto publicado pelo colunista Welson Oliveira no Jornal O Dia.

13/11/2019 10:13

A exatamente um ano de enfrentar a disputa eleitoral que poderá reconduzi-lo à Casa Branca ou retirá-lo da presidência, Donald Trump cumpriu uma promessa de campanha e notificou a Organização das Nações Unidas – O.N.U. sobre a retirada dos Estados Unidos do Acordo do Clima de Paris. O envio da carta de saída, divulgada pelo secretário de Estado Mike Pompeo, via Twitter, foi confirmado pela O.N.U. O Acordo de Paris foi aprovado em 2015 por 195 países e tem como objetivo central impedir que a temperatura média no mundo aumente mais do que 2 graus celsius, o que levaria a sucessivas catástrofes ambientais que poderiam acarretar a extinção da humanidade. Para isso, o acordo prevê que os países signatários devem atingir metas de redução de emissões de CO2, eliminado na atmosfera especialmente pela queima de combustíveis fósseis e madeira, e responsável pelo aquecimento global. Para se ajustar às demandas do acordo, os países teriam que modificar as bases de sua produção industrial, de modo a torná-la mais sustentável. Trump afirmou em 2017 que, ao fazer esse tipo de exigência, o acordo seria desvantajoso para os interesses da economia americana, porque levaria ao fechamento de fábricas e à perda de postos de trabalho na indústria carvoeira dos E.U.A, um segmento que Trump prometeu incentivar. Além disso, na percepção tacanha do mandatário americano, os termos do pacto feririam a soberania dos Estados Unidos sobre seu próprio território. Pompeo retomou esses argumentos ao anunciar a saída do pacto no dia 04 de novembro. Embora fosse uma promessa antiga, o anúncio da retirada acontece em um momento oportuno para Trump, que enfrenta tempos de fragilidade política desde que o Congresso iniciou um processo de impeachment contra ele, há pouco mais de um mês. Faz uma semana passada, a Câmara dos Representantes decidiu seguir publicamente com a tomada de depoimentos na investigação contra Trump. As transcrições dos testemunhos do ex-embaixador na Ucrânia Kurt Volken e do embaixador na União Europeia Gordon Sondland se tornaram públicas. Ambas trouxeram elementos comprometedores contra Trump no episódio em que ele pediu ao presidente da Ucrânia uma investigação contra um dos pré-candidatos democratas, Joe Biden, em troca da liberação de recursos de ajuda militar ao país. Trump tenta retirar o foco de si e colocar na questão ambiental, em razão dessa ser extremamente polarizada nos Estados Unidos. Um anúncio como esse agora é uma maneira de manter a base unida, uma estratégia para desviar a atenção do processo de impeachment. Os Estados Unidos emitem cerca de 15% do dióxido de carbono liberado na atmosfera atualmente. Trump afirmou no passado que poderia tentar renegociar uma nova entrada dos E.U.A no Acordo de Paris no futuro, com termos que, segundo ele, fossem mais justos com o povo americano. Na prática, no entanto, essa decisão dependerá de quem ganhar a presidência em 2020. Embora o simbolismo da decisão de Trump em retirar os E.U.A do acordo do clima seja grande, especialistas ponderam que os efeitos da decisão sobre o esforço global de reduzir as emissões é limitado. Muitos asseveram que mesmo o governo federal dos E.U.A deixando de tomar medidas para evitar o aquecimento global, ainda assim os Estados Unidos devem ser capazes de cumprir em quase 70% a meta de redução de liberação do CO2 estabelecida para o país pelo acordo de Paris. Isso porque, indo ao encontro à decisão de Trump, mais de uma dezena de Estados americanos, liderados pela Califórnia, estão fortemente empenhados em implementar políticas locais ainda mais restritivas ao CO2 do que as preconizadas pelo Acordo de Paris. O acordo do clima leva em conta e dá força às iniciativas subnacionais, estaduais. Não é só o governo federal que importa. E os estados americanos têm sido bem-sucedidos em contrariar Donald Trump. A retirada do Acordo de Paris é apenas mais uma das medidas tomadas na agenda ambiental de Trump, pois internamente, ele tenta enfraquecer as iniciativas limpas. No caso mais recente, Trump diminuiu as exigências federais de eficiência energética dos carros movidos a combustível fóssil, contra o interesse da própria indústria automobilística, já equipada para produzir motores menos poluentes. Na prática, Trump autorizou os carros a poluírem mais e entrou na Justiça contra a Califórnia, cujas normas são mais rígidas, para impedir que a administração estadual possa atuar de modo independente ao governo federal. Uma pesquisa publicada no periódico científico Science mostrou que, sob Trump, as terras federais americanas sofreram a maior devastação da história. O presidente defende desregulação da exploração dessas áreas, para aquecer a economia. Em setembro deste ano, o jornal New York Times contabilizou 85 regras ambientais que foram flexibilizadas ou enfraquecidas pela atual gestão, em três anos.

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