Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

O interminável conflito entre E.U.A e Irã

Confira o texto publicado pelo colunista Celso Pires no Jornal O Dia.

22/08/2019 09:12

Aparentemente, um avião de reconhecimento não tripulado dos Estados Unidos foi derrubado por mísseis iranianos. Em seguida, o presidente americano, Donald Trump, confirmou que ordenou e depois abortou, um ataque de retaliação ao país do Oriente Médio, tendo mudado de ideia 10 minutos antes do bombardeio. A sequência de eventos forneceu um vislumbre sobre a possibilidade de um conflito entre os dois países. Entretanto, resta a dúvida do que teria acontecido se Trump não tivesse mudado de ideia. É provável que os primeiros ataques americanos teriam alcance limitado, visando mísseis ou radares iranianos, associados ou similares aos que abateram o drone norte-americano.

O ataque teria sido acompanhado por uma intensa advertência diplomática ao Irã de que se trataria de uma ação limitada, servindo apenas como retaliação à perda da aeronave americana. Segundo relatos, Trump ainda teria oferecido uma espécie de trégua. De acordo com informações da imprensa, os Estados Unidos de fato enviaram uma mensagem para Teerã, com pedido de negociações. Todavia, em meio a confabulações e hipóteses ainda restaria a dúvida em relação ao que teria acontecido. Ainda especulando, o próximo passo provavelmente seria dado pelo Irã. De fato, o país teria respondido à mensagem do E.U.A no mesmo dia. Segundo a agência de notícias Reuters, uma fonte não informada teria afirmado que o país não estava interessado em negociações e deu um aviso nos termos que qualquer ataque contra o Irã teria consequências regionais e internacionais. Saber como se daria este conflito é o mais complicado, pois existem muitas variáveis a serem consideradas. Provavelmente o mais fácil seria dizer o que não aconteceria. A administração Trump pode ser um inimigo implacável do regime iraniano, no entanto dificilmente iria promover uma invasão terrestre do Irã em larga escala para derrubar o regime. O país não é o Iraque de Saddam Hussein. O Irã é um desafio mais complexo, tanto militar quanto politicamente. Qualquer ataque iraniano a navios ou aeronaves dos E.U.A quase certamente seria rebatido por um contra-ataque dos americanos. As instalações navais iranianas, as bases aéreas, e assim por diante, seriam atingidas por bombardeios lançados de aviões e de navios. O foco, em parte, seria o chamado “Corpo da Guarda Revolucionária”, cujo braço naval sempre tem desempenhado um papel importante nos eventos relacionados a defesa do Irã. Obviamente, os Estados Unidos podem realizar ataques contra a infraestrutura militar do Irã. No entanto, o Irã também tem meios de se defender. O país pode usar uma variedade de arsenais, atingindo pequenos barcos ou submarinos para interromper as operações nas águas do Golfo de Omã. Petroleiros poderiam ser atacados, forçando os americanos a tomarem medidas para protegê-los. Os E.U.A visivelmente têm uma vantagem extraordinária na coleta de informações e na análise da situação. Todavia, como no caso da queda do drone sofisticado corrobora o fato que ainda existem vulnerabilidades significativas. O Irã intenta danificar ou afundar alguns navios de guerra americanos a ponto de tornar-se o preço desse conflito tão alto que Trump poderia desistir de avançar no conflito. Qualquer guerra seria caracterizada por esse aspecto assimétrico. Sugerindo uma guerra dos fracos contra os fortes, dois lados com objetivos muito diferentes e métricas muito diferentes para o sucesso. Se uma guerra começar, os Estados Unidos vão tentar atacar as forças armadas do Irã, inicialmente derrubando as defesas aéreas iranianas e assim por diante. Sob pressão, o Irã ainda poderia tentar espalhar o conflito de forma mais ampla, exortando aliados no Iraque, na Síria ou em outros lugares a atacar alvos americanos. De forma mais extrema, poderia até tentar convencer o Hezbollah, em conjunto com suas próprias forças na Síria, a lançar ataques com foguetes contra Israel. O objetivo seria demonstrar a Trump que uma campanha bélica e punitiva de curta duração, na verdade, poderia incendiar toda a região. O Irã ainda pode estar perseguindo sua própria versão de alto risco de uma política de mudança de regime no governo americano. O país pode ver a atual administração de Trump como agressiva, mas igualmente indecisa e sem apoio de seus principais aliados ocidentais. Ao atrair os americanos para um conflito dispendioso e aberto, a liderança iraniana pode acreditar ser capaz de suportar a guerra, ao mesmo tempo em que prejudicam as chances de Trump na próxima corrida presidencial, em 2020. Uma guerra com o Irã seria de fato cara e imprevisível. Não resolveria o problema do programa nuclear nem a crescente proeminência iraniana na região. 

Mais sobre: