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EUA e Irã podem entrar em guerra?

Celso Pires - Advogado

10/01/2020 16:28

A morte no Iraque do general iraniano Qasem Soleimani num ataque aéreo dos Estados Unidos, no dia 03 de janeiro, marcou uma arriscada escalada da tensão entre Washington e Teerã. O mundo acompanha de perto as reações do Irã e as novas ameaças de Donald Trump. O corpo de Soleimani passou em cortejo pelas ruas do Iraque e foi velado no Irã, com honras de herói nacional e mártir. O líder supremo do país, aiatolá Khamenei, liderou as orações, enquanto milhares de iranianos tomaram as ruas para prestar a última homenagem àquele que era considerado o segundo homem mais poderoso do Irã. O governo iraniano já anunciou que vai se "vingar" dos E.U.A e que passará a produzir urânio para além dos limites do acordo nuclear firmado com grandes potências mundiais em 2015. Já Trump prometeu um ataque "desproporcional" ao país do Oriente Médio caso forças iranianas atinjam alvos americanos. Contudo, restam as dúvidas se o desenrolar do ataque dos E.U.A poderia chegar a um conflito direto entre os dois países ou até a uma guerra de escala mundial. Ao que tudo indica não existe razão para uma Terceira Guerra Mundial. Potências econômicas ou militares, como Rússia e China, não são protagonistas desse conflito, embora tenham criticado duramente a morte do general iraniano. Esse pode ser, no entanto, um momento decisivo para os E.U.A no Oriente Médio. Ocorrendo uma represália significativa do Irã, poderia conduzir a um ciclo de ação e reação com potencial para um confronto direto entre os dois países. Em relação a morte do general, os Estados Unidos alegam que Soleimani foi responsável por ataques contra forças apoiadas pelos americanos no Iraque. Além disso, o país classifica as Forças Quds – que operam as intervenções militares e de inteligência do Irã no exterior e que era liderada por Soleimani – como sendo uma organização terrorista. Além de Soleimani, integrantes das Forças de Mobilização Popular do Iraque, milícia apoiada pelo Irã, estavam no comboio atingido por mísseis. Algo que pouco tem sido dito é que o ataque ordenado pode ter ocorrido para desviar a atenção do processo de impeachment de Trump. A política interna sempre tem muita relevância, especialmente num ano eleitoral para Trump. E em um ano eleitoral, a principal preocupação de Trump deve ser evitar a perda de vidas americanas na região. Entretanto, esse dramático ataque parece destoar de um presidente que, apesar de ser duro na retórica, se caracterizou pela cautela quanto a ações militares concretas. Por isso vem a intuição de uma tentativa de mudança de foco de seus problemas domésticos. Retornando as chances de retaliação, o fato é que o Irã não tem armas nucleares, embora possua muitos elementos que possam contribuir para o desenvolvimento delas. O país do Oriente Médio tem insistido que não quer desenvolver uma bomba atômica. No entanto, a crescente frustração e embates com os E.U.A poderiam perfeitamente persuadir dirigentes iranianos a abandonar por completo o acordo nuclear assinado com a comunidade internacional. O governo Trump já abandonou o chamado Plano de Ação Integral Conjunto, que é o acordo nuclear firmado entre Irã e potências como E.U.A e nações europeias. Por ele, o governo iraniano se comprometia a abandonar seu programa nuclear em troca da retirada de sanções econômicas contra o país. A União Europeia criticou o posicionamento dos E.U.A e especialistas disseram que a decisão de romper o acordo e repor sanções foi imprudente. A retirada dos E.U.A do acordo e a posterior imposição de sanções ao Irã aumentaram a pressão sobre Teerã, sem possibilidade de aparentes saídas pela via diplomática para conter a escalada da tensão. O governo do Iraque ficou em posição delicada com ataque americano. Pois o país é aliado tanto do Irã quanto dos E.U.A. O primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdul Mahdi, declarou que a morte de Soleimani foi um "assassinato político" e disse que o general era um "mártir" responsável por "grandes vitórias contra o Estado Islâmico". E o Parlamento iraquiano aprovou uma resolução pela saída e encerramento das atividades de tropas estrangeiras no país. O governo argumenta que os E.U.A foram muito além dos termos do acordo que permite operações militares americanas no país. Trump reagiu dizendo que as tropas americanas só deixarão o Iraque se o governo pagar pela base aérea que os E.U.A construíram no país. Tendo ainda ameaçado impor sanções ao Iraque, caso implementasse a decisão de expulsar militares americanos. Até esse momento restará a dúvida em relação a presença dos E.U.A no Iraque e o desenrolar de toda essa crise bélica com o Irã.

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