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Meu filho, meu mundo

Essa é a história de Deborah, mãe de um anjo azul. Uma história cheia de humanidade e de amor

03/02/2016 11:23

 

Em junho do ano passado, recebi o relato de uma “mãe de anjo azul”. Desde então, não consegui parar de ler aquelas linhas, tão cheias de humanidade e amor.

Conheci a Deborah em 2007 ou 2008, não lembro bem. Trabalhamos no mesmo órgão público, mas em setores diferentes. Ela parecia uma menininha, doce, com olhar travesso.

Anos depois, a maternidade fez com que nos reencontrássemos. E eu conheci uma nova Deborah. A menininha ainda está lá, no rosto, no sorriso, no olhar travesso e na doçura permanente.

Mas a Deborah-Mãe é, para mim, uma outra pessoa. Forte, determinada, aguerrida e, sobretudo, amorosa.

Não, ela não é perfeita. E anda longe de ser a Mulher Maravilha. Mas é, em todos os sentidos, MÃE. Como eu, como você. E é a história dessa mãe que eu quero que você conheça.

Meu filho, meu mundo

Há quatro anos, sou mãe. Meu filho Guilherme foi sonhado, idealizado, desejado por mim e por toda a família. Quando ouvi seu choro pela primeira vez, eu soube que nunca mais seria a mesma. A maternidade me trouxe um ânimo novo na vida, mais vontade de ser uma pessoa melhor e de tornar o mundo mais colorido. E embora ser mãe não seja tarefa fácil, somente a maternidade traz consigo sorrisos sinceros que aliviam qualquer dor.

Quando se tem um filho, a gente vive entre fraldas, vacinas e as gracinhas da criança. Cada conquista é comemorada e replicada na família e entre os amigos inúmeras vezes. Vivi todas essas delícias até o Guilherme completar dois anos, quando minha luta começou. Ele só falava três palavras: mamãe, papai e vovó. A comparação com outras crianças da idade dele era inevitável e começamos a desconfiar de que poderia haver algo de errado.

Guilherme começou a estudar. Sua adaptação à escola foi muito difícil e o atraso na linguagem ficou mais evidente. Conversamos longamente com a equipe escolar, consultamos três neuropediatras diferentes e fizemos diversos exames até chegarmos a um diagnóstico: meu filho sofre de Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Era 02 de setembro de 2014. Eu olhava para o meu filho e não conseguia acreditar. Fiquei sem chão e me vi dentro de um mundo grande e totalmente desconhecido. Receber um diagnóstico desse não é fácil. É doloroso demais, impossível! A primeira reação é negá-lo: “meu filho não é autista”.

Depois, vem o sentimento de impotência e de revolta: “por que justamente o meu filho, meu Deus? Por quê?”. Nem sei o quanto eu chorei. Eu me sentia incapaz. Como poderia ajudar meu filho? Como superar a tristeza que me invadia?

Informação. Essa foi a nossa primeira resposta. Eu e minha família começamos a ler tudo sobre Transtorno do Espectro Autista (TEA). Quanto mais nos informávamos, mais fortes nos sentíamos.

Quando se recebe um diagnóstico de TEA, não há tempo a perder. Arregaçamos as mangas e conseguimos montar uma equipe multidisciplinar com psicóloga, fonoaudióloga, psicopedagoga, musicoterapeuta e terapeuta ocupacional e demos início ao tratamento.

Parei de trabalhar. Preciso acompanhar meu filho às terapias. Preciso acompanhar minuciosamente seu tratamento e sua evolução. Estar com ele e dar-lhe todas as condições para se desenvolver bem.

Sei quando o tratamento começou e não sei quando findará. E esse é mais um desafio para mim. A Deborah profissional está adormecida. Inativa. Muitas vezes eu me sinto inútil. Mas não posso pensar muito nisso agora. A prioridade é o Guilherme, o tratamento dele, a atenção a ele.

O que mais me preocupa e angustia é que ele sofra bullying. O preconceito existe, não há como negar. Em todo esse tempo de caminhada, aprendi que o preconceito nasce, principalmente, da falta de informação.

Não quero que meu filho sofra, nenhuma mãe quer. Tenho fé que ele será um homem bom, saudável, plenamente capaz e feliz, dentro das suas limitações. Para isso, cabe a mim o papel de ser incansável.

Não vou negar. Sou humana. Sinto medo e choro escondida de vez em quando. Fraquejo, por vezes.

Mas é nessas horas que me vem uma força, não sei de onde, e reajo. Acho que ela fica guardada, escondida dentro de mim, e se revela nas horas certas.

Acho mesmo que essa força vem do amor, do meu amor pelo Guilherme. Amo meu filho. Luto e lutarei por ele todos os dias. Por ele, tudo vale a pena.

Conviver com o autismo não é tarefa fácil. É um mundo paralelo ao nosso, tão vasto e complexo quanto o próprio universo.

Nós – mães de anjos azuis – temos que encontrar nosso lugar nesse mundo e encontrar também um lugar para os nossos filhos dentro do mundo dito normal.

Precisamos falar mais sobre o autismo, na escola, em casa, nas instituições de saúde, entre os amigos, em todos os lugares.

Não estamos preparados. Eu não estava preparada. Ainda não estou. Ninguém está preparado. Há um silêncio, um véu sobre o assunto. Precisamos urgentemente falar mais sobre o autismo.

Tenho dias difíceis. Outros, bem felizes. E assim eu sigo. Meu filho é, como todos os filhos – com ou sem autismo – único, diferente, especial.

Ele sofre de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mas não quero que ele seja identificado pela sua condição. Guilherme é, antes de tudo, uma pessoa!

Uma criança linda, que me enche de alegria e de amor. Guilherme é meu mundo! E é por isso que resolvi contar um pouco do meu caminho. Para que eu me lembre, todos os dias, que nós, mães, não podemos desistir.

Temos que persistir, enfrentar as dificuldades, apoiar-nos, e acreditar que vamos conseguir. Eu acredito!

Deborah

Fonte: Deborah
Edição: Viviane Bandeira, jornalista, mãe da Laura, de uma estrelinha e esperando Luísa
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