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Viajar para contar: Terceira Carta

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10/11/2015 02:46

Prometi escrever todos os dias, eu sei. Os dias passam devagar e não tenho nenhuma desculpa pronta para derramar em você e me safar desta culpa que agora mora em meu coração. É que as palavras simplesmente não querem voar.  Ou talvez não estejam prontas.

Hoje, depois de resolver algumas burocracias do cotidiano, fui ao parque. Levei aquele livro que você me deu de presente para esta viagem, lembra? A faceta jornalística de Clarisse Lispector revelada. O engraçado é que este é meu primeiro contato direto com essa autora tão aclamada e tão querida por você. Gosto de passear no parque, observar as pessoas pondo em prática a vida. Sempre quis ter um lugar desse perto de casa. Aqui, satisfeita essa vontade, quando a solidão ocupa muito espaço dentro desse apartamento, levo-a para passear no parque. São momentos doces de solidão. Acho que aprendi a conviver com alguns de meus demônios.

Revirando alguns documentos, encontrei sua carta. Sim, minha querida, eu trouxe a sua carta com o selo de Paris para quando a saudade apertar. E ela aperta todos os dias. O pior dia é o domingo. Acho que o domingo é uma dor universal no peito de todos aqueles que sofrem com a distância. Não me entenda mal, a experiência em um novo país está sendo incrível, mas a crise do regresso bateu em minha porta ontem, justamente em um domingo. É a crise. Daqui a pouco passa e eu volto a programar minhas últimas viagens antes do tão temido fim.

Tenho medo de voltar, assim como sempre tive medo de todas as coisas da vida. Mas você sabe, nunca deixo de enfrentar os desafios. Não sei se voltarei a caber na minha rotina de antes. Bater-ponto, redigir ofícios e todas essas coisas cinzas do cotidiano público. Argh! Talvez quando eu voltar, não consiga me adequar a mais nenhum lugar. Todas as fôrmas estarão deformadas e ultrapassadas.

Tenho tantas coisas para contar! Alguns segredos você já sabe, outros, não cabem na caixinha de inbox das redes sociais. É preciso conta-las revelando o sorriso no meu rosto e meus olhos brilhando de orgulho de mim mesma. Sim, minha querida, essa vida em outro país está aumentando, ainda que pouquinho, minha autoestima.

Eu jurei escrever mais vezes, eu sei. Espero que me desculpe. Faço rabiscos, elenco temas ou observações diárias para escrever futuros contos, mas fica tudo entalado aqui na garganta. Às vezes não consigo respirar com tantas palavras me sufocando. Acho que é assim que as pessoas angustiadas vivem quando não sabem que escrever é a melhor terapia. Daí tomo café, assisto um filme, pratico o espanhol lendo um livro do Gabo e assim vou matando o tempo enquanto a próxima viagem não vem.

Mais do que nunca, tenho sede de mudanças. Tenho fome do desconhecido. E estou aprendendo mais sobre isso com uma amiga que conheci aqui. Pode chama-la de Liberdade. Não se preocupe querida! Minha convivência com ela não afeta meu carinho por você, Geena. Fique com um pouco da minha magia do cotidiano, enquanto me alimento de viagens e de saudades.

Um abraço de uma amiga querida!

ps: ando escutando muito Marisa Monte durante esse período, então aqui vai um presente para você:

Marisa Monte - Universo ao meu redor 

Por: Eli, 1984
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