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O mal nunca dorme: o Brasil, os brasileiros e o governo sem gestão coordenada

O atual governo tem nos provado que o mal nunca dorme, seja com ou sem pandemia.

02/04/2020 07:04

Todos os dias, ao longo do último ano, o governo e o corpo de ministro que o compõe tem se esforçado para editar Medidas Provisórias e aprovar Projetos de Lei que reduzem o alcance do Estado na economia, na educação, na cultura e na saúde, prejudicando os brasileiros, sobretudo, os mais pobres de forma holística. 

Com a pandemia e a bipolaridade das declarações do representante máximo da nação, Sr. Jair Messias Bolsonaro, os ministros que o apoiavam na redução das medidas de isolamento social, inclusive o Ministro da Saúde que semana passada andou recuando em suas próprias decisões;  terminaram cedendo ao avanço da doença em nosso território e passaram a não mais apoiá-lo, isolando-o em suas falácias diárias. Na última terça-feira, o Presidente fez pronunciamento no sentido de se alinhar ao Ministério da Saúde, finalmente, e procurando manter a mesma linha adotada por Donald Trump no hemisfério norte, como também, procurando se equilibrar na linha tênue que o afasta do cargo, visto que o número de pedidos de impeachment se acumulam e agora se juntam às notícias crime que estão sendo protocoladas junto ao Supremo Tribunal Federal. 

Para além disso, um pouco antes, mas no mesmo dia, o Presidente e sua equipe de comunicação, formada ao que parece, pelo seu trio de  filhos manipuladores, editaram fala do Diretor Geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Ghebreyesus, colocando-o contrário às medidas de isolamento social, contrariando toda a fala do próprio Diretor Geral da OMS, como também, a todas as orientações que a instituição tem repassado em nível mundial diariamente. O próprio Tedros Ghebreyesus teve que vir a público para desmentir as informações falsas do clã que desgoverna o nosso país. 

A resposta de Tedros no twitter, pontua claramente que só a transferência de renda dos governos pode ser a resposta mais correta para manutenção das famílias carentes em momentos de isolamento. “Pessoas sem rendas regulares ou outro suporte financeiro merecem políticas sociais que garantam dignidade e os permita cumprir com as medidas de saúde contra #COVID19 aconselhadas pelas autoridades nacionais and @WHO [conta da OMS no twitter]”.

Por acaso,  a manipulação visível  e acima mencionada não me surpreende, visto que concluída minha pesquisa de Pós-Doutorado sobre a produção intencional da ignorância no Brasil e em países como Estados Unidos e Inglaterra, temos um mapa da produção diária de narrativas falsas que ganharam e ganham os milhares de grupos de família no Brasil, tornando-os os maiores divulgadores de fakes News do mundo. 

O que me assombra, porém não me surpreende, é a aceitação do público a esse tipo de narrativa sem a menor criticidade, do mesmo modo como aconteceu no processo eleitoral. Todavia, passados mais de um ano de governo, e agora com os desmandos e desencontros durante a pandemia, muita coisa foi sendo revelada, mas as fábricas de informações falsas trabalham a toda, sem a menor ética, conseguindo manter os seguidores firmes em sua cegueira. Dupla ação do mal, pois faz com que o povo se coloque contra sua própria vida. 

Temos então problemas de diversas naturezas potencializados por três vertentes, duas relacionadas ao desgoverno neoliberal, a primeira e já mencionada é concernente à redução intencional do Estado brasileiro e de seu alcance de benefícios e de prestação de serviços, com redução dos orçamentos de todas as pastas, diminuindo a capacidade de resposta de Estado para com a sociedade. Estado mínimo não reage em momentos de crise, visto que privilegia o mercado, que por sua vez, também não pode reagir e termina necessitando do Estado, como no momento atual.

A segunda intimamente ligada à primeira, é o crescimento de medidas que privilegiam o grande empresariado, em detrimento da classe trabalhadora, agora sem grande parte de seus direitos, anteriormente, garantidos.  E por último, o grave problema de saúde pública que vivenciamos em todo o mundo. 

Todavia, os três problemas podem ser minimizados e/ou resolvidos de forma unificada se os que ocupam os cargos decisórios conseguirem praticar a empatia para além dos manuais de economia liberal, e perceber que o desenvolvimento só pode acontecer se vier junto com garantias e direitos ao povo, ou, como nos diz Amartya Sen, se vier como prática da liberdade. 

Câmara e Congresso conseguiram aprovar medidas contrárias ao governo que desejava um auxílio de R$ 200,00, conseguindo aumentar para R$ 600,00 o auxílio emergencial para trabalhadores informais de baixa renda durante a pandemia,  deixando claro que a transferência de renda é o meio para fortalecer a nação neste momento, visto que pode fortalecer os mais necessitados. O governo agora precisa sancionar e começar a pagar. Vamos ver!

Por outro lado, o governo anunciou um pouco antes, o pacote de auxílio para as micro e pequenas empresas no valor de R$ 40 bilhões destinados a 1,4 milhões de empresas e 12,2 milhões de trabalhadores.  Trata-se de um empréstimo para ajudar as empresas a pagar os trabalhadores nesse momento de isolamento. Ponderações: _ trata-se de uma linha de crédito a juros de 3,75% aa  e deverá ser paga e, por outro lado, não contempla todo o universo de microempresas do país, deixando uma boa parcela de fora. Além de não beneficiar os 16,2 milhões de microempreendedores individuais. 

Enquanto isso, a bipolaridade das narrativas que apoiam o isolamento em falas oficiais e, contrariamente, continuam relutantes em narrativas via redes sociais ( escritas, por áudio ou vídeo) revela que a prática da construção mentirosa é uma constante no aparelho do governo brasileiro nos dias atuais, e visa, de um lado, manter a reputação desgastada junto ao grande público onde o Presidente vem perdendo espaço, enquanto que, por outro lado, mantém seus seguidores, muitos donos de blogs e redes de comunicação que incluem produção de informações falsas para mídias sociais, fiéis a seu posicionamento. 

Diariamente, recebemos um sem número de informações falsas que tentam desqualificar o trabalho da OMS, do próprio Ministério da Saúde e afirmar que os números de infectados e mortos são mentirosos, com o intuito de provocar o fim do isolamento em favor da economia. 

A incompreensão do movimento pró-mercado, extrapola as carreatas que ganharam cidades como Curitiba e Goiânia no último fim de semana e que em Teresina foi cancelada pelos organizadores, e chegam até nós por fotos de reuniões em que empresários piauienses, aparecem de máscaras conclamando o povo a voltar ao trabalho, enquanto tentam se proteger e se manter distantes, o que vai ao encontro das afirmações do Presidente Bolsonaro e de apoiadores do grande empresariado de que as mortes de idosos e mesmo de outros brasileiros não são suficientes para parar a nação. Deixo então a pergunta: QUEM DA SUA FAMÍLIA VOCÊ DESEJA SACRIFICAR PARA A ECONOMIA NÃO PARAR?

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