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Maternidade muda com o tempo e famílias valorizam mais o diálogo

Quando Carmen olhava para a sala de casa, mal conseguia fixar atenção em alguma coisa que não fosse nos filhos correndo de um lado para o outro. Mãe de oito, a senhora que hoje fala da maternidade com a sensação de dever cumprido, entende que “as coisas mudaram muito”, como destaca. 

A maternidade ganha diferentes contornos com o tempo e é possível perceber mudanças relacionadas a quantidade média de filhos gerados, a compreensão do papel da mulher e Perfil de mães se transforma e a experiência da maternidade passa a ser encarada de diferentes formas de como a maternidade passa a ser vista de forma real, cada vez menos romantizada. Os tempos, como repete a matriarca da família, realmente “são outros”. 

E essa mudança é claramente percebida na família Lima Alcântara. Dona Carmen Dolores, aos 77 anos, já consegue acompanhar o crescimento dos bisnetos. Dentro de casa, o misto de gerações mostra como as mudanças vieram a somar para que as mulheres saboreassem a experiência da maternidade cada vez de forma mais consciente. “Antigamente, a gente tinha quantos filhos Deus quisesse. Ninguém falava em preservativo, em anticoncepcional. Hoje, é diferente até na criação dos meninos”, conclui. 

O que Carmen analisa por experiência própria foi constatado pela pesquisa A Nova Mãe Brasileira, feita pelo Instituto Qualibest e pelo site Mulheres Incríveis. O estudo ouviu 1.317 mil mães, todas com mais de 18 anos – 81% delas têm de um a dois filhos. Fato também comprovado na família de Carmen. A prole de oito filhos da família Lima Alcântara gerou 18 netos e 17 bisnetos, onde a grande maioria dos filhos e netos teve, no máximo, de um a dois filhos. 

Luciana Lima, a filha mais nova, tem apenas uma filha de 16 anos. Para ela, ter uma filha única foi uma escolha feita pelo cenário atual do mundo. “O mundo anda tão difícil e é muita responsabilidade criar uma criança nos tempos de hoje, com tanta violência, tantos riscos. Acho que, por isso, a maioria escolhe ter poucos filhos, a maioria aqui em casa é assim”, afirma.

Para além do aspecto quantitativo, as mudanças por qual passaram a maternidade se reforçam ao olhar as demais esferas envolvidas. Por ter muitos filhos, é claro que as mulheres, anteriormente, tinham muito menos oportunidade de interação. O cenário mudou e a participação na vida dos filhos, hoje, é muito mais intensa e aberta.

É lembrando desse detalhe que Luciana fala como foi a criação na família de muitos irmãos. “Meu pai sempre foi muito linha dura com a gente, porque ele não queria que vivêssemos nada do que ele viveu. Ele bebia, fumava e não deixou que os filhos aprendessem isso. Os mais velhos, mais danados, quando saiam para as festas escondidos e meu pai descobria, ele ia buscar de cinto na mão”, conta. 

Outras regras também eram seguidas com a rigidez cobrada pelos pais, como a ida a igreja aos fins de semana. De berço muito religioso, a presença dos filhos nos cultos nunca era dispensada. “Não tinha essa de não querer ir. Todo mundo tinha que ir a igreja, mesmo que fosse para dormir no banco, mas íamos”, relembra. 

Para a criação da filha, Luciana lembra que o espaço de diálogo e as próprias regras foram sendo alteradas. Saídas já não são mais reprimidas, contanto que os estudos sejam levados a sério. “Graças a Deus minha filha não me dá trabalho. Mas hoje me pego fazendo coisas com ela que não tive a oportunidade. Isso de deixar sair, ir ao shopping, ver amigas, foram coisas que nós nunca tivemos e eu acho importante dar esse espaço”, considera. 

A relação mais interativa, no entanto, não desfaz uma regra que parece ser constante nas mães de diferentes gerações: o amor. Mãe e filha, mesmo com intervalos de décadas separadas pela experiência da maternidade, afirmam que a criação regada de amor continua sendo uma constante, na difícil, porém prazerosa missão de ser mãe. Elas afirmam que, embora difícil, a missão de ser mãe ainda é muito prazerosa.

A jovem Marley Barros seguiu um rumo não tão convencional para as mães de atualidade. Como sempre sonhou com a maternidade, aos 21 anos, ela foi mãe da primeira filha e, posteriormente, encarou mais duas gravidezes. Hoje, com três filhos, ainda pensa em adotar o quarto. “Sempre sonhei em ser mãe, mas sei que as responsabilidades são muitas e a gente encara isso todo dia”, ressalta. 

Também da família Lima Alcântara, a jovem foi a única neta a querer mais que dois filhos. Para a missão, ela vê com clareza as mudanças que facilitam o processo. “Hoje, sinto que criamos nossos filhos com uma relação mais de amizade que autoridade. Não é: ‘faça isso que senão você apanha’; mas sim: ‘você deve fazer isso, vamos conversar’. Essa relação entre mãe e filhos veio para acrescentar para melhor os laços”, exemplifica. 

Os filhos têm cerca de dois anos de diferença, e, mesmo ainda crianças, Emanoele, Victor Gabriel e Mariana vieram para ensinar muitas vivências para Marley. “Antigamente, as mães só ficavam em casa cuidando dos filhos, hoje não, hoje você tem que ser mãe, tem que estudar, trabalhar, e não é fácil. É complicado conciliar tudo, porque você tem que estar bonita, arrumada, tem que ter tempo para participar da criação e fase de todos. É um grande desafio, que aprendemos todos os dias”, considera a jovem. 

A terceira geração da família Lima Alcântara, sendo assim, também cresce muito mais consciente do papel múltiplo da maternidade. Entender a mãe não só como mãe, mas como mulher, profissional e ocupando diferentes papeis na sociedade é uma realidade construída dia-a-dia.


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