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Pobre no papel, Carlos Marun diz que declara bens 'de boca'

Quem acessa as declarações públicas de bens do possível novo ministro da articulação política de Michel Temer, Carlos Marun (PMDB-MS), se depara com um cenário desolador. O deputado federal declarou à Justiça, nas eleições de 2004, não ser dono de um centavo sequer.

Dois anos depois, e tendo cumprido metade de um mandato de vereador em Campo Grande, declarou uma poupança de R$ 352,75.

O deputado Carlos Marun (Foto: Wilson Dias / Agência Brasil)

Seu verdadeiro salto, porém, ocorreu em 2010, quando concorreu e foi eleito ao segundo mandato como deputado estadual. Na ocasião, informou à Justiça ter R$ 228 mil, incluindo uma casa.

Mas o infortúnio econômico parecia não ter ido embora, pelo menos no papel: quatro anos depois, em 2014, a casa sumiu de sua prestação de contas, e Marun entregou à Justiça Eleitoral declaração de bens de R$ 94 mil.

Naquele ano, seria eleito deputado federal para um mandato em que se destacaria como defensor aguerrido do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do presidente Michel Temer.

Nesta quarta (22) Marun quase virou ministro da articulação política de Temer. O vazamento da escolha irritou o PSDB, até agora dono da função, o que fez a mudança ser abortada por ora.

Poucas horas depois de ter sido "desconfirmado" no cargo, Marun recebeu a reportagem em seu gabinete para falar sobre a sua curiosa evolução e involução patrimonial. Manuseando de forma desorganizada um dúzia de papeis que mandara imprimir, revelou que, na verdade, seu patrimônio real é muito maior do que aquele que a Justiça conhece.

"A partir de um certo momento, o meu patrimônio familiar passou a fazer parte do Imposto de Renda da minha mulher, porque ela começou a ficar com medo de eu vender casa, vender cachorro, vender filho por causa da política", disse o deputado, afirmando ter, na verdade, dois escritórios, carro, investimentos e uma casa de R$ 1,08 milhão, financiada.

Questionado se isso não representaria uma omissão aos eleitores, afirma não ver dessa forma, já que em toda eleição diz declarar, em entrevistas, o que tem.

Apesar disso, afirma que na declaração de Imposto de Renda de 2017 a casa foi passada para o seu nome.

"Fica ruim aparecer na minha prestação [de contas] que eu não tenho nem casa, né?"

A legislação eleitoral exige que os candidatos apresentem sua declaração de bens com o objetivo, entre outros, da transparência.

Falando de forma genérica, sem se referir ao caso específico, Daniel Falcão, advogado e professor da USP, afirmou que, para ele, a única possível consequência eleitoral de uma situação como essa é a eventual denúncia pelo crime do artigo 350 do Código Eleitoral, de falsidade ideológica eleitoral.

Doutor em Direito Eleitoral, Carlos Enrique Caputo Bastos diz, também falando em tese, não ver irregularidade, a princípio. "Compete ao Ministério Público Eleitoral, aos demais candidatos e partidos verificar se há eventual incompatibilidade com os valores declarados e a utilização de recursos próprios durante a campanha. Essa diferença poderá, em tese, configurar fraude eleitoral e abuso."