O músico Kiko Zambianchi, 57, achava graça dos apelidos de investigados pela Lava Jato encontrados nas planilhas da Odebrecht, até descobrir que seu nome havia se tornado um.
O músico Kiko Zambianchi (Foto: Divulgação)
Um dos réus da operação, o empresário Francisco de Assis Neto é apontado como um dos operadores do esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), no Rio. Ele ocupou o cargo de secretário-adjunto de comunicação social do governo. Conhecido como Kiko, aparecia nas planilhas como "Zambi", segundo o MPF (Ministério Público Federal) em uma referência ao compositor e autor de músicas como "Rolam as Pedras" e "Primeiros Erros".
"É uma sacanagem, uma canalhice", afirma Zambianchi, que também se chama Francisco e estuda entrar com uma ação contra o xará. "É um prejuízo meu nome estar envolvido em uma coisa dessa sem motivo e ao lado de bandidos".
Kiko Zambianchi diz que, surpreso, achou graça quando viu que seu nome estava em planilhas que registravam recursos ilícitos. Fãs, amigos e familiares, conta o músico, ficaram mais irritados do que ele. Logo, porém, passou a se perguntar se sua reputação não seria manchada.
"Será que as pessoas veem o meu nome e sabem discernir o que é uma coisa e o que é outra?"
"Eu achava gozado os nomes das planilhas da Lava Jato e, de repente, estava eu lá no meio. Foi uma surpresa desagradável", conta.
O músico definiu a situação política atual no Brasil como deprimente e assustadora. "A gente devia parar tudo e tirar todo mundo de lá, inclusive do STF. Está tudo contaminado, uma bagunça total". "Os políticos que estão aí deviam ter vergonha na cara e renunciar".
Ele declara apoio à Lava Jato e acredita que a operação vai, no mínimo, diminuir a corrupção e deixar políticos e autoridades mais atentas.
Francisco de Assis Neto foi preso em fevereiro na Operação Eficiência, que teve como principal alvo o empresário Eike Batista. De acordo com planilhas apresentadas pelos doleiros Renato e Marcelo Hasson Chebar em acordo de delação, Neto recebeu R$ 7,7 milhões em 2014. No período, ele cuidava da campanha do deputado federal Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ), filho do ex-governador.
De acordo com o relato dos delatores, o dinheiro era entregue na sede da empresa de Neto, no centro do Rio.
Indiciado sob suspeita de lavagem de dinheiro e organização criminosa, ele foi solto em agosto por decisão da 6ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que entendeu que o empresário não representava risco para as investigações.
À época, Neto disse que não recebeu a quantia mencionada pelos doleiros.