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Discurso feminista contribui para redução de violência contra mulher

A mulher, em toda a sua trajetória, passa por uma série de preconceitos que insistem em rebaixá-la e excluí-la da vida política e social. Esse preconceito dá lugar à violência e à opressão que, ao lado do machismo, marcham em direção à submissão e objetificação da mulher. O discurso feminista e de empoderamento são as principais ações que contribuem para a diminuição de casos de violência contra o gênero. 

Segundo Anamelka, 85 mulheres morreram no Piauí em 17 meses (Foto: Arquivo O Dia)

Inúmeras são as denúncias de mulheres que foram e são violentadas no espaço familiar ao escolherem pôr um fim no relacionamento ou assumirem sua sexualidade, por exemplo. No Piauí, a delegada do Núcleo de Feminicídio, Anamelka Cadena, diz que pesquisas, realizadas de 9 de março de 2015 a 30 de agosto de 2016, indicaram 85 assassinatos de mulheres, sendo que em 50 foram constatados feminicídio, identificados por razões de gênero. 
Segundo a delegada, a violência contra mulher sempre existiu, porém, era pouco denunciada. Com os discursos do movimento feminista e o empoderamento de muitas mulheres, o registro de denúncia de violência aumentou. No entanto, isso não se deu porque a violência aumentou, mas porque as mulheres se encorajaram a denunciar. 
“Eu vejo um aumento de mulheres procurando as unidades para informar esse histórico de violência. E isso é um aspecto positivo no que tange às mulheres estarem falando, quebrando esse silêncio, porque cessar o silencio é importante para que possamos conter a violência. À medida que a mulher se instrui e fica mais informada, a busca pelas unidades policiais aumenta, uma vez que acontece muito da mulher estar dentro desse histórico de violência e não saber identificar isso. Se ela busca ajuda, é porque identificou e se encorajou. Então, compreender o cenário e se encorajar são dois fatores que fazem grande diferença na prevenção à violência doméstica familiar. E com esse aspecto do discurso de empoderamento feminino, as mulheres se tornam mais corajosas”, comenta Anamelka. 
Conforme a delegada, a identificação do que se enquadra na violência moral ou física e a posterior denúncia são os primeiros passos para a violência cessar, porque as medidas cautelares que são definidas no início do processo afastam o agressor da vítima. “O que a gente consegue observar é que o silêncio das mulheres mata elas dentro de casa. A partir do momento que elas identificam e denunciam a violência, a gente consegue cessar aquela violência. Infelizmente, o que a gente observa, quando tem a denúncia de uma violência física, é que ela já passava por uma série de violência psicológica e moral, como difamação, injúria, mas não sabia identificar isso. Então, esse empoderamento, para mim, rompe com a barreira do silêncio e contribui para o cessar da violência”, diz. 
Separação 
Anamelka pontua ainda que, dos inúmeros casos investigados, a maioria apresenta um discurso onde se pode identificar causas de violências domésticas por inconformidade do fim do relacionamento com o parceiro. “É muito comum identificarmos menção da não conformação com o fim do relacionamento por parte do parceiro nos depoimentos e declarações que prestam aqui. Isso denota muito esse cenário do machismo e da objetificação da mulher. O inconformismo do homem com o fim do relacionamento não é pelo simples fato de gostar da mulher, muitas vezes é pelo sentimento de propriedade que eles têm dela”, afirma. 
Essas medidas de denúncia, discurso, campanhas e manifestações são apenas alguns dos métodos de combate à violência contra mulher. É preciso ainda que ela reconheça os seus direitos, seu papel na sociedade e lute para que a igualdade de gênero possa atuar de forma mais equilibrada.