O adolescente Pablo
Andrade Carvalho Barros, de 18 anos, foi medalhista de prata na 61ª Olimpíada
Internacional de Matemática (IMO), ajudando a colocar o Brasil entre os dez
países com melhor pontuação na competição. Com 165 pontos, a equipe da qual
Pablo fez parte ficou à frente de países como Japão, França, Alemanha e Canadá.
Em entrevista ao O DIA, o estudante relata que as medalhas já conquistadas são resultado de muito esforço e perseverança, mesmo após maus desempenhos na escola e em competições. Filho de uma empregada doméstica e de um pedreiro, o jovem destaca que sempre estudou muito para conseguir alcançar os pódios das principais competições de matemática.
Da esquerda para a direita, na primeira linha estão: Carlos Gustavo e Matheus Secco; na segunda linha, estão Guilherme Zeus, Gabriel Ribeiro Paiva, Pablo Andrade Carvalho Barros. Na terceira linha, estão Bernardo Peruzzo, Pedro Gomes Cabral, Francisco Moreira Machado. (Foto: Divulgação/Impa)
“No começo da escola eu costumava tirar notas altas, por isso eu me considerava bom em matemática, só que eu fui tendo vários altos e baixos durante a escola, como, por exemplo, no 6º ano, quando fiquei de recuperação em matemática e participei pela primeira de uma olimpíada de matemática e fui muito mal”, relata.
Segundo ele, as experiências negativas só fizeram com que ficasse mais motivado para alcançar os seus objetivos e, no ano seguinte, após o mau desempenho, foi medalhista pela primeira vez na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), ficando com a medalha de ouro. Para ele, a OBMEP é considerada o nível inicial para os estudantes que querem participar de grandes competições.
“O próximo objetivo era a medalha na Olimpíada Brasileira de Matemática, em 2016. No entanto, no 8º ano eu não consegui participar da competição, pois não consegui passar para a terceira fase. Já em 2017, que foi o ponto alto, consegui ouro nessa olimpíada”, celebra o jovem.
Pablo Barros conta ainda que foi estudante de escola pública até o nono ano e o fruto dos seus estudos também é graças ao apoio dos professores e das escolas pelas quais passou. O estudante integrou, de 2015 a 2018, o Programa Cidade Olímpica Educacional, da Prefeitura de Teresina, evoluindo da menção honrosa da OBMEP, em 2014, para o ouro da OBMEP, em 2015. “Houve muito incentivo, principalmente do professor Reginaldo e da professa Valdete”, lembra.
O jovem estuda atualmente em uma escola privada, graças à bolsa de estudos obtida por causa do seu bom desempenho em competições. “É muito legal participar de olimpíadas, apesar dessa ter sido online, foi bem enriquecedor. É uma honra participar da Olimpíada Internacional de Matemática, ainda mais fazer parte do time com o melhor resultado da história do brasil. Estou bem confiante para o próximo ano, em que a IMO vai acontecer presencialmente em São Petersburgo na Rússia, e espero trazer a próxima medalha, que é o ouro”, finaliza.
Medalhistas brasileiros na IMO
Além do estudante piauiense, outros cinco brasileiros participaram da IMO, todos os jovens conquistaram medalhas, sendo um ouro e cinco pratas. "Esse foi o melhor ano para nós. Ficamos entre os dez melhores, ocupando a décima colocação. Foi nosso recorde de pontuação e medalhas com um ouro e cinco pratas. Todos os seis participantes premiados", comemorou Carlos Gustavo Moreira, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), coordenador-geral da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e líder do time da IMO 2020. Com a medalha de ouro deste do ano, o Brasil já acumula 11 medalhas de ouro na competição, disse Moreira, que ganhou uma delas em 1990 na edição realizada na China.
Diante da pandemia do novo coronavírus, inicialmente prevista para acontecer em julho, em São Petersburgo, na Rússia, a IMO precisou ser adaptada para o formato online. A competição aconteceu entre 19 e 28 de setembro, com realização das provas nos dias 21 e 22, em centros de aplicação de cada país previamente aprovados pelo conselho consultivo da organização.
No Brasil, as provas, que tiveram duração de 4 horas e meia, foram realizadas com todas as medidas de saúde e de segurança, no Ceará e no Rio de Janeiro, com necessidade de deslocamento aéreo de somente dois estudantes que moram em outros estados. Além de representantes brasileiros e fiscais estrangeiros no local da prova, fiscais internacionais também monitoraram a todo o momento os participantes. Os vencedores da olimpíada foram conhecidos na segunda-feira, 28.
Para participar da Olimpíada Internacional de Matemática, o grupo passou por três testes seletivos que aconteceram entre novembro do ano passado e julho deste ano, além de intensos treinamentos. Os jovens selecionados são medalhistas da 41ª OBM e também foram premiados em olimpíadas nacionais e internacionais.
Além de premiados na edição anterior da OBM também são candidatos ao processo seletivo para representar o Brasil na IMO estudantes premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), que nas últimas edições também começou a incluir colégios privados, e premiados em olimpíadas regionais que acontecem em diversos estados do Brasil e também no exterior Neste ano, os calendários da OBM e da OBMEP estão sendo redefinidos para 2021, por causa da pandemia do novo coronavírus.
Equipe brasileira que participou da IMO 2020:
Bernardo Peruzzo Trevizan, de São Paulo (SP) - Prata
Guilherme Zeus Dantas e Moura, de Maricá (RJ) - Prata
Pablo Andrade Carvalho Barros, de Teresina (PI) - Prata
Francisco Moreira Machado Neto, de Fortaleza (CE) - Prata
Gabriel Ribeiro Paiva, de Fortaleza (CE) - Prata
Pedro Gomes Cabral, de Fortaleza (CE) - Ouro
Dez primeiros países na lista da IMO 2020, que reuniu 105 países:
China - 215 pontos
Rússia - 185 pontos
Estados Unidos - 183 pontos
Coreia - 175 pontos
Tailândia - 174 pontos
Itália - 171 pontos
Polônia - 171 pontos
Austrália - 168 pontos
Reino Unido - 167 pontos
Brasil - 165 pontos
IMO
Realizada desde 1959, a IMO é destinada a estudantes do ensino médio com idades entre 14 e 19 anos e que não tenham ingressado na universidade. Em 1979, o Brasil começou a participar como observador quando foi criada a Olimpíada Brasileira de Matemática. E desde 1981, participa oficialmente da competição.
O Brasil é o país latino-americano com maior número de medalhas na competição, totalizando em 142 até agora. No ano passado, a equipe conquistou duas medalhas de prata e quatro de bronze.